.



"Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém."

Pesquisar neste blog

LEITOR - JUNTE-SE A NÓS!!!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Deus te salve, Gloriosa

Deus te Salve, Gloriosa Reina Maria
 

Deus te salve, Gloriosa

Cantiga em galego (Galícia - Espanha) atribuída a Afonso X.



Cantiga original

Deus te salve, Gloriosa,
reinha Maria,
lume dos santos fremosa
e dos ceos via.
 Salve-te, que concebiste
mui contra natura,
e pois teu padre pariste
e ficaste pura
virgem, e por en sobiste
sobre'la altura
dos ceos, porque quesiste
o que El queria.
       Deus te salve, groriosa
       reinha Maria,
       lume dos santos fremosa
       e dos ceos via.
Salve-te, que enchoíste
Deus gram sem mesura
em ti, e dele feziste
hom'e creatura:
esto foi porque houviste
gram sem e cordura
em creer quando oíste
sa messageria.
       Deus te salve, groriosa
       reinha Maria
       lume dos santos fremosa
       e dos ceos via.
 Salve-te Deus, ca nos diste,
em nossa figura,
o seu Filho, que trouxiste,
de gram fremosura,
e com El nos remiiste
da mui gram loucura
que fez Eva, e venciste
o que nos vencia.
       Deus te salve, groriosa
       reinha Maria,
       lume dos santos fremosa
       e dos ceos via.
Salve-te Deus, ca tolhiste
de nós gram tristura
u por teu filho frangiste
a cárcer escura
u íamos, e metiste
nos em gram folgura;
com quanto bem nos viíste,
quen'o contaria?
       Deus te salve, groriosa
       reinha Maria,
       lume dos santos fremosa
       e dos ceos via

Nota(s):
 
Esta é a única cantiga mariana que se acha ao mesmo tempo nos mss. afonsinos das CSM E 40, T -, U 30) e num cancioneiro de poesia profana (Be 467). (Na referência dos mss. que ofereço no título da cantiga (E 40, T -, U 30, Be 467), embora a ordem mais lógica em que deveriam aduzir-se as siglas dos mss. seja a alfabética, neste caso coloco no fim o ms. B  -que nessa ordem deveria ocupar o primeiro lugar-, dado o carácter excepcional da sua emergência na lista de cantigas marianas, a fim de que resulte mais clara a continuidade dos restantes mss.). A letra minúscula e que acompanha a sigla do ms. B indica um dos seis amanuenses renacentistas que, segundo Anna Ferrari, copiaram este cancioneiro para o humanista italiano Colocci, na primeira metade do século XVI, em Roma: Anna Ferrari denomina com as seis letras iniciais do alfabeto (a, b, c, d, e, f) cada um dos copistas que, de modo mais bem irregular, se vão turnando na transcrição dos textos desse cancioneiro B (Anna Ferrari, «Formazione e struttura del canzoniere portoghese della Biblioteca Nazionale di Lisboa (Cod. 10991: Colocci-Brancuti): Premesse codicologiche alla critica del testo (Materiali e note problematiche)», em: Arquivos do Centro Cultural Português (Paris) 14 (1979), pp. 27-142, mais várias folhas de lâminas fotográficas de textos).

Na tradição manuscrita desta cantiga 40 resulta curiosa a coincidência de dous factos: a presença  -excepcional, como fica dito-  em B e a falta do correspondente fólio em T; poderia haver alguma relação entre ambos os factos?

Trataram particularmente desta cantiga Francisco Fernandes Lopes, «Uma Cantiga de Santa Maria no cancioneiro de Colocci-Brancuti», em: Brotéria 46 (1948), pp. 733-739 (com especial atenção ao aspecto musical), e Silvio Pellegrini, «Le due laude alfonsine del canzoniere Colocci-Bracuti», em: [Vários], Romania: Scritti offerti a Francesco Piccolo nel suo LXX compleanno, Casa Editrice Armanni, Nápoles 1962, 538 pp., pp. 359-368, e concretamente sobre esta cantiga pp. 359-367 (infelizmente, para a edição do texto limita-se ao ms. B; o artigo foi reeditado na colectânea póstuma de estudos do mesmo Silvio Pellegrini, Varietà romanze a cura di G. E. Sansone, Adriatica Editrice, Bari 1977, 568 pp., pp. 9-19, sobre esta cant. pp. 9-17).
Por motivos que nos são desconhecidos, os apógrafos italianos transcrevem o texto de duas Cantigas de Santa Maria, esta de forma completa, a outra (de autenticidade duvidosa) de forma parcelar. Muito embora se incluam na obra galego-portuguesa de Afonso X, as Cantigas de Santa Maria, cantigas religiosas e não profanas, têm uma tradição manuscrita autónoma (ou seja, foram-nos transmitidas por códices próprios), pelo que a inclusão destas duas composições (ambas laudas, ou cantigas de louvor) nos cancioneiros profanos tem um caráter excecional, que está por explicar.

O autor: Afonso X, o Sábio


Afonso de Castela

O rei Afonso X de Castela, conhecido na historiografia como «o Sábio», nasceu em Toledo em 1221, e faleceu em Sevilha em 1284 com 63 anos de idade. Era filho de Fernando III o Santo (rei de Castela desde 1217, e também de Leão desde 1229-1230) e da sua mulher Beatriz de Suábia.

Já antes de ser rei desempenhou um papel de primeira linha nas conquistas, promovidas por seu pai, de territórios do sul peninsular ocupados pelos árabes (Múrcia em 1243, Jaém em 1246, Sevilha em 1248). Em 1246-47 penetrou em Portugal com a fracassada expedição militar de apoio ao deposto rei Sancho II.

À morte de seu pai em 1252, Afonso, com 31 anos, herdou dele, como filho primogénito, a coroa dos reinos de Leão e Castela (os quais, antes distintos durante longo tempo, ficaram definitivamente unidos em 1230). O reino de Leão, por sua vez, englobava dentro de si o que fora o antigo reino da Galiza, de fala portuguesa.

Afonso X foi rei durante 32 anos: desde 1252 a 1284. Algumas das suas composições poéticas, especialmente das Cantigas de Santa Maria, encerram abundantes referências de natureza biográfica (ou autobiográfica).

Da biografia de Afonso X há um aspecto, relativo à sua produção literária, que não está ainda suficientemente esclarecido: a saber, se a preferência pela língua portuguesa para a obra poética deve algo a uma estadia do futuro rei durante a infância em terras galegas. Em geral os biógrafos inclinam-se a admitir a possibilidade de que o príncipe Afonso se criasse na Galiza (talvez na comarca de Alhariz) durante algum tempo, como sabemos aconteceu com seu pai e com outros reis leoneses. Caso existisse, essa estadia deveria ter sido depois de que seu pai Fernando III passou a ser também rei de Leão (1230), quando a Galiza entrou a formar parte do seu reino. Nessa altura (1230) o príncipe Afonso (nascido em 1221) tinha 9 anos. A partir desse momento, pois, poderíamos talvez admitir alguma breve estadia na Galiza, não superior a um ano, mais ou menos; porém, mesmo isto resulta inseguro, e faltam dados históricos que confirmem o que é uma simples suposição indiciária.

Este capítulo biográfico tem importância também para alguns aspectos da língua usada pelo rei nos seus poemas, fonética e léxico especialmente. De resto, esse assunto liga-se também com outro problema, a que já foi feita alusão na apresentação geral da poesia trovadoresca: o do grau de intervenção pessoal do rei na redacção das suas obras literárias em geral, e, especialmemente, das poesias em língua portuguesa. É incerto em que medida o próprio Afonso X foi autor dessas composições, sobretudo das Cantigas de Santa Maria (com excepção talvez de umas poucas que aparecem redigidas em primeira pessoa pelo próprio rei, nas quais podemos supor que o seu papel como autor foi mais decisivo).

Afonso X foi –ademais de autor– promotor da poesia trovadoresca: a sua corte foi centro de acolhida de trovadores e jograis, especialmente de língua portuguesa, mas também de língua provençal.

Já se tem notado repetidamente que, apesar de usar a língua portuguesa para a sua obra poética, Afonso X não parece mostrar um afecto especial pela Galiza, o território dos seus reinos onde essa língua era nativa. Especialmente significativo pode ser que não tenha visitado a Galiza nem sequer uma vez nos 32 anos (1252-1284) que durou o seu reinado, feito insólito nos reis castelhano-leoneses (os quais não deixavam de acudir, alguma vez pelo menos, em peregrinação a Santiago de Compostela).


Obra poética: 42 cantigas profanas (cc. 452-494, 1531, 1636) e 420 CSM1.

1 As CSM som 420, nom 429, apesar de que assim pode parecer. A explicação do facto está em que há 9 cantigas repetidas no ms. por descuido dos autores/organizadores da colecção. Como os precedentes editores, optei por manter esses 9 números vazios, já que, em caso contrário, resultaria destruída a estuturação decenal que as CSM possuem.
 
 
+
Informe aqui seu e-mail para receber as publicações do Thesaurus Precum: Delivered by FeedBurner

Pedido

"Aproveitemos o tempo para santificação nossa e dos nossos parentes e amigos. Solicitem orações, que estaremos rezando juntos, em união de orações aos Sagrados Corações."