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"Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém."

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quarta-feira, 13 de junho de 2018

O Gloriosa Domina

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O Gloriosa Domina


O Hino Mariano “O Gloriosa Domina” foi composto por Venanzio Fortunato (530-607), Bispo de Poitiers. 

A Tradição nos diz que Maria Tarasia Taveira, a mãe do futuro Santo Antônio de Pádua, cantava para ele, frequentemente, este Hino Mariano, quando ele era criança, em Lisboa. O canto entrou de tal forma em seu coração que também o Santo português o cantava frequentemente.  

É bonito saber que este canto tenha estado nos lábios de nosso querido Santo no momento supremo de sua existência, quando Antônio queria dirigir-se à Santa Senhora, mesmo com uma voz débil, poucos momentos antes de sua morte, ocorrida na Arcella em Pádua.  

Este Canto Mariano é cantado atualmente em italiano e com outra melodia toda Sexta-Feira junto ao túmulo do Santo em Pádua, evocando perenemente seu glorioso trânsito deste mundo para o Pai.



ORIGINAL EM LATIM

O Gloriosa domina,
excelsa super sidera,
qui te creavit provide,
lactas sacrato ubere.

Quod Eva tristis abstulit,
tu reddis almo germine;
intrent ut astra flebiles,
sternis benigna semitam.

Tu regis alti ianua
et porta lucis fulgida;
vitam datam per Virginem,
gentes redemptae, plaudite.

Patri sit Paraclito
tuoque Nato gloria,
qui veste te mirabili
circumdederunt gratiae. Amen.


EM PORTUGUÊS

Senhora gloriosa,
bem mais que o sol brilhais.
O Deus que vos criou
ao seio amamentais.

O que Eva destruiu,
no Filho recriais;
do céu abris a porta
e os tristes abrigais.

Da luz brilhante porta,
sois pórtico do Rei.
Da Virgem veio a vida.
Remidos, bendizei!

Ao Pai e ao Espírito,
poder, louvor, vitória,
e ao Filho, que gerastes
e vos vestiu de glória. Amém.


EM ITALIANO

O Donna gloriosa,
alta sopra le stelle,
tu nutri sul tuo seno
il Dio che ti ha creato.

La gioia che Eva ci tolse
ci rendi nel tuo Figlio
e dischiudi il cammino
verso il regno dei cieli.

Sei la via della pace,
sei la porta regale:
ti acclamino le genti
redente dal Signore.

A Dio Padre sia lode,
al Figlio ed al Santo Spirito,
che ti hanno adornata
di una veste di grazia. Amen.




A visão de Santo Antonio (detalhe)
de Francisco Collantes, 
Coleção particular - Bridgeman Art Library
CLIQUE PARA AMPLIAR

Vide:
http://www.preces-latinae.org/thesaurus/BVM/OGloriosa.html 
http://www.youtube.com/watch?v=y4szcm4IOfA

Imagens da Internet.


Sempre que possível, fazei a caridade de rezar por este nosso apostolado católico. Agradecemos com nossas orações recíprocas.  

terça-feira, 29 de julho de 2014

Hinos Marianos: o "Ave" de Fátima


HINOS MARIANOS

O "Ave" de Fátima

(A treze de Maio)
  

A treze de Maio
Na Cova da Iria,
Do Céu aparece
A Virgem Maria.


Ave, Ave, Ave Maria!
Ave, Ave, Ave Maria!


A três pastorinhos
Cercada de luz,
Visita Maria,
A Mãe de Jesus.

Das mãos lhe pendiam

Continhas de lu,
Assim era o terço
Da Mãe de Jesus. 

A Virgem nos manda
Seu terço rezar, 
"Assim - diz - meus filhos,
Vos hei de salvar. 

 Vesti com modéstia
Com muito pudor
Olhai como veste
A Mãe do Senhor". 

 
Lá vem a Senhora
Da cova da Iria
Como nova aurora
De paz e alegria.

Deixou lá na serra
Um trono de luz,
Veio à nossa terra
Trazer-nos Jesus.

Por novos caminhos
Anda a mãe de Deus,
Chamando os filhinhos
Ao Reino dos Céus.

A treze de Outubro
Foi o seu adeus,
E a Virgem Maria
Voltou para o Céu.


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quarta-feira, 16 de julho de 2014

ROMANCE DAS IGREJAS DE MINAS

 

"Minha alma sobe ladeiras,

Minha alma desce ladeiras

Com uma candeia na mão,

Procurando nas igrejas

Da cidade e do sertão

O gênio das Minas Gerais

Que marcou estas paragens,

Estas sombras benfazejas,

Estas frescas paisagens,

Estes ares salutares,

Lavados, finos, porosos,

Minerais essenciais,

Este silêncio e sossego,

Estas montanhas severas,

Esta antiga solidão,

Com o sinal do seu lirismo,

Com a cruz da sua paixão.

Templos de Minas Gerais.

Das cidades e arraiais,

Templos em pedra-sabão

De Sabará e Mariana,

De Ouro Preto, de Ouro Branco,

De Brumado a Catas Altas,

De Santa Rita Durão,

Santa Bárbara, Congonhas,

Cachoeira, São João del Rei,

Tiradentes, Caeté:

Quantas vezes meditei

Os novíssimos do homem,

Que o século não consome

Nem a ciência destrói,

Nesses templos soberanos,

De riscos audaciosos,

De curvas acentuadas,

De linhas voluptuosas,

Íntimos, doces, profanos,

Refinados, populares,

Que inspiram poesia e dó,

Nesses Carmos e Pilares,

Nesses Rosários e Dores,

Nesses Perdões e Mercês,

Em São Francisco de Assis,

Em Nossa Senhora do Ó!

Em capelinhas caiadas

Na colina levantadas,

Vestidas de branco e azul.

Minha alma desce ladeiras,

Minha alma sobe ladeiras,

Desce becos, sobe vielas

Com uma candeia na mão,

Procurando a forma altiva

Da cruz, viva tradição,

Pedra de ângulo, base

Da rude religião.

Diviso lívidos Cristos,

Diviso Cristos sangrentos,

Monumentos de terror,

O Cristo da Pedra Fria,

O Senhor da Cana Verde,

O Cristo atado à coluna,

O Senhor morto esticado

Envolto em roxo sudário

Debaixo do próprio altar.

Vejo agora mãos chagadas,

Nossa Senhora de espadas

Cravadas no coração,

Coroas de espinhos, vasos

Por onde escorreu o fel,

Tíbias, caveiras coroadas,

Pinturas já desmaiadas

Nas telas emolduradas

Em forma de medalhão,

Figurando o Paraíso,

A Trindade, a Anunciação,

O Lava-pés, o Batismo,

A Morte e a Ressurreição;

Relicários, oratórios,

Pelicanos de coral,

Sinistro baixo-relevo

Das almas do Purgatório

Libertas por São Miguel,

Longas lanças de Longuinho,

Atlantes do Aleijadinho,

Portas, púlpitos, profetas

Marcados por seu cinzel,

Redondos anjos barrocos

Que o toreuta retorceu,

Arabescos sensuais,

Apóstolos duros, secos,

Peregrinos medievais

Revestidos de amplos sacos,

Marchando com seu bastão;

Calvários extraordinários,

Tarja com estrelas e asas,

Tocheiros, lâmpadas, lustres,

Galerias, balaústres,

Grades em jacarandá,

Querubins, anjos-aurora

De estranhos panejamentos,

Com as asas espalmadas,

Lavabos de sacristias

Feitos de pedra-sabão,

Tetos altos do Ataíde

Exaltando a religião;

Paredes em faiscado,

Consistórios, corredores

Onde vagueiam fantasmas

De poetas inconfidentes,

De frades conspiradores;

Oleogravuras mostrando

A Via-Sacra da Paixão,

Carátulas, gárgulas negras,

Colunas tremidas, gregas,

Caixas pedindo dinheiro

Em antiquados letreiros

De oremus e ora pro nobis,

Ex-votos comemorando

Curas por intercessão:

E a nobre talha dourada,

Patinada, trabalhada,

As imagens ressaltando

De nossos oragos, tantos

Santos de esgarçados mantos,

De arbitrárias cabeleiras,

Roxas, pisadas olheiras,

Os membros caídos, feridos,

Desfeitos, desmilinguidos,

Contemplando comovidos

O descimento da cruz.

Minha alma sobe ladeiras,

Minha alma desce ladeiras

Com uma candeia na mão,

Ilumina embevecida

Seus santos de devoção,

Companheiros vigilantes

Da cruz da sua paixão,

Que deu corpo, força e vida

Aos templos de pedra-sabão:

São Pedro, Santo Isidoro,

São Gregório, São Leão,

Santa Bárbara, São Jerônimo,

São Paulo, Santa Juliana,

Sant'Ana, São Sebastião,

Santa Águeda, Santa Mônica,

São José, Santa Verônica,

São Francisco, Santa Clara,

São Policarpo, São João.

A igreja agora agasalha

Uma densa multidão

Que procura comovida

Nos mistérios redivivos

Da nossa religião

Novo alento, luz e vida,

Sustento, consolação.

Sinos de bronze ressoam,

Ressoam sonoros sinos:

Vejo figuras de orantes,

Orantes e comungantes

Com os abraços estendidos

Orando íntima oração:

Assim se vê nas pinturas

Das antigas catacumbas,

Nos mosaicos bizantinos,

Mulheres, moços, meninos,

Catecúmenos, anciãos,

Assim oravam outrora

Os primitivos cristãos.

Vejo beatos sofredores

Trazendo bentinhos, fitas,

Rezando gastos rosários,

De olhos fixados no céu,

Velhas bíblicas, severas,

Nos ombros escapulários,

Perfil talhado a formão,

Muitas vestem à maneira

De senhoras de outras eras

Com filó preto, fichu,

Dona Engrácia, Dona Urbana,

Don'Ana, Dona Juju;

Irmãos da santa Irmandade

Encostados às paredes,

Pensando na procissão,

Vaidosos nas opas verdes,

Vermelhas, brancas, violetas;

Pretos de vela na mão,

Pretinhas de laçarotes,

Rapazes em seus capotes

Cor de cinza e vermelhão,

Garotinhos retorcidos

Descendentes dos garotos

Que inspiraram o Aleijadinho

Nos anjos do medalhão.

A grande ação começou:

A sublime teologia

Revela a sabedoria

Do sacrifício inefável,

Do mistério universal

De que todos participam

Na terra, no ar, no céu,

Unidos na comunhão

Do Deus eterno, uno e trino,

De um só e mesmo batismo,

Uma só fé, um só pão.

Vozes ascendem aos ares

Que desprezam o cantochão,

Rompe um canto pela nave

A Santa Maria Eterna,

Um canto sentimental

Que ofende a liturgia,

Fonte viva, genuína,

Da santa religião,

Mas que toca a alma ingênua

Do povo rústico e chão.

Agora um baixo-profundo

Canta um hino de paixão,

Esconjura o diabo imundo,

Clama os pecados do mundo

Em longa lamentação,

Chorando com gravidade,

Chorando oculto nas grades

As saudades de Sião.

Mas chega a missa ao momento

De maior concentração,

Surdo silêncio se faz.

Abre-se agora o sacrário,

No seu recesso repousa

O Cristo em sua nova lei,

Já que o antigo documento

Cede ao novo testamento,

Cede ao novo mandamento,

Mistério de caridade.

Mistério de santidade

E total despojamento

O sacramento do altar,

Ação da Comunidade,

Saúde, força, sustento,

Ante o qual todo elemento

Se inclina para adorar.

O celebrante apresenta

À Santíssima Trindade,

Em nome da humanidade,

Ao Pai eterno clemente,

Ao Filho, Verbo humanado,

Ao Espírito Divino,

Unidos na caridade

Por um nó que não desata,

O corpo de Nosso Senhor

Na santa cruz imolado,

Vencendo assim o pecado

Pela presteza do amor.

O Cristo, homem compassivo,

Deus trasladado do Céu,

Transferido à dura terra,

Solidário na sua dor,

Se reparte nos fiéis

Que traçam cruzes nos ares

Relembrando a salvação,

Curvando-se ante os altares

Onde se aprende, esculpida,

Em silêncio oferecida,

Na talha e pedra-sabão,

Ao culto do Deus criador,

A história da Encarnação,

Paixão e Ressurreição

De Cristo Nosso Senhor.

Murmuram o Agnus Dei.

O celebrante despede

O povo, "Ite missa est",

Para este cumprir na rua

O que no templo aprendeu,

Depois lê meio apressado

O evangelho de São João,

Cosmogonia do Verbo;

E afinal com o povo todo

Recita a Salve-Rainha,

Santa e solene oração.

Senhora benigna e pura,

Mãe de esperança e doçura

A quem todos nós bradamos,

Gememos e suspiramos

Neste desterro do céu,

Os olhos consoladores,

Clementes, a nós volvei,

Vossos filhos pecadores,

E mais tarde nos mostrai,

Espelho de todo o bem,

Depois de serena morte,

A face do Cristo, amém.

A multidão se dispersa

Nos seus trajos domingueiros,

Cada um retorna ao lar.

Minha alma sobe ladeiras

De Ouro Preto e Mariana,

De Sabará e São João,

Evoca no ar lavado

O drama da Redenção.

Minha alma sobe ladeiras,

Minha alma desce ladeiras

Com uma candeia na mão,

Procurando comovida,

Procurando comovida

A cruz da sua paixão,

Que deu corpo, alento e vida

Aos templos de pedra-sabão.

Por isso escrevi um canto

Com palavras essenciais,

Baseado na beleza

Da antiga Minas Gerais,

Inspirado na grandeza

Da rude religião,

Princípio e fim da existência,

Essência da perfeição,

Origem de todo o bem,

Penhor de ressurreição,

Doutrina de vida inteira,

Em louvor do Cristo, amém."

(Murilo Mendes)



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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Deus te salve, Gloriosa

Deus te Salve, Gloriosa Reina Maria
 

Deus te salve, Gloriosa

Cantiga em galego (Galícia - Espanha) atribuída a Afonso X.



Cantiga original

Deus te salve, Gloriosa,
reinha Maria,
lume dos santos fremosa
e dos ceos via.
 Salve-te, que concebiste
mui contra natura,
e pois teu padre pariste
e ficaste pura
virgem, e por en sobiste
sobre'la altura
dos ceos, porque quesiste
o que El queria.
       Deus te salve, groriosa
       reinha Maria,
       lume dos santos fremosa
       e dos ceos via.
Salve-te, que enchoíste
Deus gram sem mesura
em ti, e dele feziste
hom'e creatura:
esto foi porque houviste
gram sem e cordura
em creer quando oíste
sa messageria.
       Deus te salve, groriosa
       reinha Maria
       lume dos santos fremosa
       e dos ceos via.
 Salve-te Deus, ca nos diste,
em nossa figura,
o seu Filho, que trouxiste,
de gram fremosura,
e com El nos remiiste
da mui gram loucura
que fez Eva, e venciste
o que nos vencia.
       Deus te salve, groriosa
       reinha Maria,
       lume dos santos fremosa
       e dos ceos via.
Salve-te Deus, ca tolhiste
de nós gram tristura
u por teu filho frangiste
a cárcer escura
u íamos, e metiste
nos em gram folgura;
com quanto bem nos viíste,
quen'o contaria?
       Deus te salve, groriosa
       reinha Maria,
       lume dos santos fremosa
       e dos ceos via

Nota(s):
 
Esta é a única cantiga mariana que se acha ao mesmo tempo nos mss. afonsinos das CSM E 40, T -, U 30) e num cancioneiro de poesia profana (Be 467). (Na referência dos mss. que ofereço no título da cantiga (E 40, T -, U 30, Be 467), embora a ordem mais lógica em que deveriam aduzir-se as siglas dos mss. seja a alfabética, neste caso coloco no fim o ms. B  -que nessa ordem deveria ocupar o primeiro lugar-, dado o carácter excepcional da sua emergência na lista de cantigas marianas, a fim de que resulte mais clara a continuidade dos restantes mss.). A letra minúscula e que acompanha a sigla do ms. B indica um dos seis amanuenses renacentistas que, segundo Anna Ferrari, copiaram este cancioneiro para o humanista italiano Colocci, na primeira metade do século XVI, em Roma: Anna Ferrari denomina com as seis letras iniciais do alfabeto (a, b, c, d, e, f) cada um dos copistas que, de modo mais bem irregular, se vão turnando na transcrição dos textos desse cancioneiro B (Anna Ferrari, «Formazione e struttura del canzoniere portoghese della Biblioteca Nazionale di Lisboa (Cod. 10991: Colocci-Brancuti): Premesse codicologiche alla critica del testo (Materiali e note problematiche)», em: Arquivos do Centro Cultural Português (Paris) 14 (1979), pp. 27-142, mais várias folhas de lâminas fotográficas de textos).

Na tradição manuscrita desta cantiga 40 resulta curiosa a coincidência de dous factos: a presença  -excepcional, como fica dito-  em B e a falta do correspondente fólio em T; poderia haver alguma relação entre ambos os factos?

Trataram particularmente desta cantiga Francisco Fernandes Lopes, «Uma Cantiga de Santa Maria no cancioneiro de Colocci-Brancuti», em: Brotéria 46 (1948), pp. 733-739 (com especial atenção ao aspecto musical), e Silvio Pellegrini, «Le due laude alfonsine del canzoniere Colocci-Bracuti», em: [Vários], Romania: Scritti offerti a Francesco Piccolo nel suo LXX compleanno, Casa Editrice Armanni, Nápoles 1962, 538 pp., pp. 359-368, e concretamente sobre esta cantiga pp. 359-367 (infelizmente, para a edição do texto limita-se ao ms. B; o artigo foi reeditado na colectânea póstuma de estudos do mesmo Silvio Pellegrini, Varietà romanze a cura di G. E. Sansone, Adriatica Editrice, Bari 1977, 568 pp., pp. 9-19, sobre esta cant. pp. 9-17).
Por motivos que nos são desconhecidos, os apógrafos italianos transcrevem o texto de duas Cantigas de Santa Maria, esta de forma completa, a outra (de autenticidade duvidosa) de forma parcelar. Muito embora se incluam na obra galego-portuguesa de Afonso X, as Cantigas de Santa Maria, cantigas religiosas e não profanas, têm uma tradição manuscrita autónoma (ou seja, foram-nos transmitidas por códices próprios), pelo que a inclusão destas duas composições (ambas laudas, ou cantigas de louvor) nos cancioneiros profanos tem um caráter excecional, que está por explicar.

O autor: Afonso X, o Sábio


Afonso de Castela

O rei Afonso X de Castela, conhecido na historiografia como «o Sábio», nasceu em Toledo em 1221, e faleceu em Sevilha em 1284 com 63 anos de idade. Era filho de Fernando III o Santo (rei de Castela desde 1217, e também de Leão desde 1229-1230) e da sua mulher Beatriz de Suábia.

Já antes de ser rei desempenhou um papel de primeira linha nas conquistas, promovidas por seu pai, de territórios do sul peninsular ocupados pelos árabes (Múrcia em 1243, Jaém em 1246, Sevilha em 1248). Em 1246-47 penetrou em Portugal com a fracassada expedição militar de apoio ao deposto rei Sancho II.

À morte de seu pai em 1252, Afonso, com 31 anos, herdou dele, como filho primogénito, a coroa dos reinos de Leão e Castela (os quais, antes distintos durante longo tempo, ficaram definitivamente unidos em 1230). O reino de Leão, por sua vez, englobava dentro de si o que fora o antigo reino da Galiza, de fala portuguesa.

Afonso X foi rei durante 32 anos: desde 1252 a 1284. Algumas das suas composições poéticas, especialmente das Cantigas de Santa Maria, encerram abundantes referências de natureza biográfica (ou autobiográfica).

Da biografia de Afonso X há um aspecto, relativo à sua produção literária, que não está ainda suficientemente esclarecido: a saber, se a preferência pela língua portuguesa para a obra poética deve algo a uma estadia do futuro rei durante a infância em terras galegas. Em geral os biógrafos inclinam-se a admitir a possibilidade de que o príncipe Afonso se criasse na Galiza (talvez na comarca de Alhariz) durante algum tempo, como sabemos aconteceu com seu pai e com outros reis leoneses. Caso existisse, essa estadia deveria ter sido depois de que seu pai Fernando III passou a ser também rei de Leão (1230), quando a Galiza entrou a formar parte do seu reino. Nessa altura (1230) o príncipe Afonso (nascido em 1221) tinha 9 anos. A partir desse momento, pois, poderíamos talvez admitir alguma breve estadia na Galiza, não superior a um ano, mais ou menos; porém, mesmo isto resulta inseguro, e faltam dados históricos que confirmem o que é uma simples suposição indiciária.

Este capítulo biográfico tem importância também para alguns aspectos da língua usada pelo rei nos seus poemas, fonética e léxico especialmente. De resto, esse assunto liga-se também com outro problema, a que já foi feita alusão na apresentação geral da poesia trovadoresca: o do grau de intervenção pessoal do rei na redacção das suas obras literárias em geral, e, especialmemente, das poesias em língua portuguesa. É incerto em que medida o próprio Afonso X foi autor dessas composições, sobretudo das Cantigas de Santa Maria (com excepção talvez de umas poucas que aparecem redigidas em primeira pessoa pelo próprio rei, nas quais podemos supor que o seu papel como autor foi mais decisivo).

Afonso X foi –ademais de autor– promotor da poesia trovadoresca: a sua corte foi centro de acolhida de trovadores e jograis, especialmente de língua portuguesa, mas também de língua provençal.

Já se tem notado repetidamente que, apesar de usar a língua portuguesa para a sua obra poética, Afonso X não parece mostrar um afecto especial pela Galiza, o território dos seus reinos onde essa língua era nativa. Especialmente significativo pode ser que não tenha visitado a Galiza nem sequer uma vez nos 32 anos (1252-1284) que durou o seu reinado, feito insólito nos reis castelhano-leoneses (os quais não deixavam de acudir, alguma vez pelo menos, em peregrinação a Santiago de Compostela).


Obra poética: 42 cantigas profanas (cc. 452-494, 1531, 1636) e 420 CSM1.

1 As CSM som 420, nom 429, apesar de que assim pode parecer. A explicação do facto está em que há 9 cantigas repetidas no ms. por descuido dos autores/organizadores da colecção. Como os precedentes editores, optei por manter esses 9 números vazios, já que, em caso contrário, resultaria destruída a estuturação decenal que as CSM possuem.
 
 
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Pedido

"Aproveitemos o tempo para santificação nossa e dos nossos parentes e amigos. Solicitem orações, que estaremos rezando juntos, em união de orações aos Sagrados Corações."