RELIGIOSOS PROTESTOS
I.
Eu
o mais miserável e maior de todos os pecadores, com o mais profundo
respeito e submissão, humildemente prostrado ante o Trono de vossa
Divina Majestade, e na vossa adorável e respeitável presença, protesto
que creio firmemente tudo quanto crê e ensina a Santa Madre Igreja
Católica Apostólica Romana, única e verdadeira Igreja, fora da qual não
ha salvação, pois só esta foi instituída por Vós, verdadeiro Deus, e
verdadeiro Homem, Verbo Divino feito carne para redenção dos homens,
Redentor e Salvador nosso, Supremo Juiz que nos haveis de julgar,
unigênito do Eterno Pai consubstancial com ele mesmo, e com Ele e com o
Espirito Santo o mesmo e Único Deus. N’esta Fé, cujos mistérios todos e
cada um dos seus artigos aqui hei por explicitamente confessados, e na
qual por misericórdia Vossa, Senhor, tenho vivido desde o meu baptismo,
protesto querer constante e inviolavelmente persistir, e apesar de tudo
permanecer até ao ultimo instante da minha vida. Protesto vencer e
desprezar, mediante a Vossa Graça todas as tentações com que o inimigo
comum do gênero humano me possa acometer contra qualquer dos Dogmas ou
verdades reveladas ensinadas pela Santa Madre Igreja, para o que imploro
a Vossa Divina Graça, só com a qual poderei triunfar do mesmo inimigo; e
se por desgraça minha, acontecer, que alienado dos sentidos, eu diga,
pense ou faça alguma cousa que seja, ou pareça ser contraria, ou menos
conforme a estes meus protestos, desde já para sempre tudo isso retrato,
desdigo, revogo, desprezo, e declaro que nada d’isso é minha vontade, e
que só é a renuncia, resistência, combate, e vencimento de tudo quanto
for oposto ou menos conforme à Vossa Divina Fé.
II.
Protesto
na vossa adorável presença, Senhor, que desejo render-vos infinitas
graças, por me haverdes tirado do nada, criado para Vós e à Vossa imagem
e semelhança, especialmente por me haverdes feito Cristão, chamando-me
ao santo baptismo, e por ele ao seio da santa Igreja, concedendo-me o
preciosíssimo dom da Fé com as mais virtudes infusas, e adotando-me por
vosso filho e herdeiro do Céu, isto só a impulsos do vosso amor e
Misericórdia, dignando-vos escolher-me entre milhares e preferir-me a um
sem numero d’almas, que por vossa terrível e adorável Justiça foram
deixadas na massa da perdição. Ah! que graças podem ser bastantes para
tão especial e gratuita predileção!
E que direi eu da particular
providencia com a qual desde os meus primeiros anos, desde o principio
da minha existência no mundo, tendes vigiado sobre mim como o mais
desvelado e amante Pai, fazendo sensível por modos tão notáveis,
particulares, e até extraordinários um cuidado paternal o mais solicito e
extremoso! Que direi da pasmosa paciência com que tendes sofrido minhas
enormes ingratidões e ofensas, com que me tendes esperado, com que,
como a porfia comigo, quanto mais vos tenho ofendido, com quanto mais
profusão, vós me tendes acumulado de graças, de dons e de benefícios!
Bendito sejais, Senhor, por toda a Eternidade. Oh! se todos os meus
membros se convertessem em línguas, nem ainda assim, bastariam para
assaz vos louvar e engrandecer! Gloria, honra e louvor vos deem por mim
todas as criaturas. Fazei Senhor, por vossa infinita Misericórdia, que
até ao ultimo instante da minha vida eu permaneça n’estes sentimentos de
gratidão, que os renove com maior fervor na hora da minha morte, e que
vá louvar-vos e bendizer-vos por toda a Eternidade.
III.
Posto
que os meus pecados tenham sido sem numero e mui graves e enormes,
protesto que nem por isso ó meu Deus, desconfio da Vossa Divina
Misericórdia a respeito do perdão d’eles e da minha salvação, antes pelo
contrario muito confio que toda a Trindade Santíssima pelos infinitos
merecimentos da Vossa Paixão e Morte, se ha de compadecer de mim,
perdoar-me e salvar-me; mas para que esta esperança não seja da minha
parte temerária, protesto e desejo de todo o coração animá-la com a
pratica das boas obras e exato cumprimento dos meus deveres, para o que
repito e renovo aqui, e proponho renovar e repetir na hora da minha
morte as promessas do meu baptismo, renunciar satanás, às suas pompas, e
obras, prometendo de conformar a minha vida com a minha fé, e de vos
amar, servir, obedecer em quanto viver, e vos rogo e suplico o mais
eficazmente possível me concedais a graça da perseverança e me assistais
com o vosso poderoso auxilio agora e sempre, porem especialmente na
hora da minha morte.
IV.
Já que até aqui tenho sido tão
ingrato duro, e rebelde para convosco, meu amorosíssimo Redentor, que
não só vos não tenho amado como devo, antes ofendido, e negado o por
tantos e tão rigorosos títulos, devido tributo d’amor; já que sendo Vós o
centro do meu coração, e devendo o meu coração ser todo para Vós, eu
desgraçadamente em lugar de vos amar com todo o meu coração, é talvez a
Vós a quem menos tenho amado: agora protesto, e desejo ansiosamente
d’aqui em diante, até ao ultimo momento da minha existência, amar-vos
sobre todas as cousas, com todo o meu entendimento, com todo o meu
coração, com toda a minha alma, e com todas as minhas forças e só a vós
amar, e ser o vosso amor o único dominante e soberano do meu coração.
Por
amor de Vós, ó meu Deus, eu protesto também d’aqui em diante amar ao
meu próximo como a mim mesmo. Por amor de Vós perdoo do coração a todos
os meus inimigos, a todos quantos me têm ofendido, ou querem ofender, ou
têm feito, ou desejam por qualquer modo ou maneira fazer mal:
perdoai-lhes Senhor, não os castigueis: retribui-lhes antes em bens e
graças, o mal que me houverem feito ou desejado fazer.
Por amor de
Vós eu humildemente peço perdão a todos que eu tiver ofendido e
escandalizado por palavras, obras, maus exemplo s, ou por simples
descuidos e omissões: desejo dar todos, e a cada um, a devida satisfação
e reparação, e muito vos suplico. Vos digneis fazer-me conhecer o que a
este respeito devo praticar para alivio da minha consciência,
prometendo eu tudo prontamente executar antes que chegue a hora da minha
morte.
V.
Não é possível, ó meu Deus, bem amar-vos sem ter
um grande pesar de vos não ter amado, por isso, muito e muito me pesa de
vos não ter amado, e de vos haver tanto ofendido: protesto nunca mais
ofender-vos; proponho emendar-me. Abomino e detesto tudo quanto é
pecado; declaro e protesto que desde agora até ao ultimo instante da
minha vida não quero mais desagradar-vos, não quero consentir em
pensamento algum contra a vossa divina Lei: antes tormentos, antes
infâmia, antes total perda de bens e de saúde, antes morte do que um só
pecado e ofensa do meu Senhor. Quem dera a meus olhos lagrimas perenes e
inconsoláveis, para chorar de dia e de noite os meus pecados! Oh! se o
coração se me partira de dor e contrição de os haver cometido! Se eu
morresse de excesso de pesar e arrependimento de ter pecado! Só Vós ó
meu JESUS me podeis conceder tão especiais graças; eu as desejo
sinceramente no meu coração, eu vol-as suplico humilde e ansiosamente.
Mas que! um tão grande pecador ainda ousa pretender ser ouvido e
atendido? Uma criatura tão ingrata e rebelde, ainda se atreve a suplicar
graças, e graças tão especiais? Sim, ouso e suplico porque a Vossa
Bondade, Amor e Misericórdia para com os pecadores não tem limites. Oh!
se também houvera remédio para não ter pecado! Custasse ele o que
custasse; custasse o sangue das veias, custasse a própria vida, todo o
Sangue, mil vidas eu dera de boa vontade para Vos não ter ofendido uma
só vez. Senhor, Misericórdia! Não entreis em juízo de rigor com o Vosso
servo. Quem ó meu Deus aparecerá justificado na vossa presença!
Continuai Senhor, a ostentar como até agora tão liberalmente tendes
ostentado n’este miserável pecador, as Vossas Misericórdia s Eterno Pai,
fixai vossos amorosos olhos sobre a face do vosso divino filho, meu
Senhor JESUS Cristo, compadecei-vos de mim e perdoai-me. Esquecei-vos
para sempre dos meus crimes, admiti-me à vossa Graça e amizade, e não
permitais que eu torne a perder joia tão preciosa e inestimável. Não me
deixeis jamais cair em tentação. Fazei com a vossa poderosa Graça, que
sempre, mas especialmente no transe da morte, eu possa vencer e sair
triunfante de todas as tentações e do tentador. Graça e Misericórdia
Senhor, digo eu agora, Graça e Misericórdia desejo eu dizer na hora da
minha morte.
VI.
Protesto, que eu desejo com a maior
eficácia que me é possível, receber, na proximidade da minha morte todos
os Santos Sacramentos próprios dos enfermos que se acham n’aquele
perigo, e desde já, e com o maior empenho os peço. Peço o Santo
Sacramento da Penitencia, e a vós, Senhor, todas as graças necessárias e
convenientes para fazer então uma boa e perfeita confissão. Peço a
Santíssima Eucaristia por viatico, e a vós, Senhor, me concedais os
afetos mais devotos de que o meu coração é capaz, ajudado com a vossa
Graça, para receber com o devido fruto o vosso Corpo, Sangue, Alma, e
Divindade tão real e perfeitamente como estais no Céu, bem que oculto
aos nossos olhos debaixo das espécies sacramentais. Peço-vos mui
humildemente, ó meu amado JESUS não permitais que eu então fique privado
da consolação de receber este preciosíssimo penhor da futura
imortalidade. Desejo que a devoção e fervor d’esta minha ultima comunhão
repare a tibieza e indignidade de todas quantas comunhões tenho feito
em todo o decurso da minha vida. E se por qualquer incidente eu não
poder conseguir esta felicidade, desde já eu declaro e protesto, que em
tal caso a minha vontade e os meus mais veementes desejos são, de, ao
menos comungar espiritualmente, e receber em desejos no meu coração o
vosso Corpo Sacramentado, render-vos todos os meus afetos como se
efetivamente vos recebesse, e desde já também rogo-vos digneis aceitar
benignamente estes meus sinceros desejos, e derramar em minha alma,
então mais que nunca necessitada, os vossos divinos dons e graças. Peço
igualmente desde já o Santo Sacramento da Extrema-Unção, e a vós, meu
Senhor JESUS Cristo, a disposição necessária para o receber, com fruto; e
no caso de não o poder receber que nem por isso fique privado dos seus
efeitos espirituais e tão saudáveis, dignando-vos vós, Senhor,
misericordiosamente liberalisar-mos para conforto da minha alma em tão
arriscado transe, a fim de resistir corajosamente, e vencer o inimigo.
Peço em fim todas as orações, assistências, e socorros espirituais da
Igreja, destinados para aquele passo; a aplicação da Indulgencia
plenária; e benção Papal do Santo Padre Benedito XIV, e toda e qualquer
benção e absolvição que possa ter lugar então receber; a lição dos
salmos penitenciais, o oficio d’agonia, e todas as mais orações
respetivas do ritual Romano, as quais todas desejo, e me proponho
repetir e acompanhar conforme o estado da enfermidade m’o permitir, se
não poder com a boca, com o coração, em espirito contrito, humilde e
religioso, e desejo exalar o meu ultimo suspiro tendo invocado muitas
vezes antes com fé e devoção, e repetindo então eu mesmo com a maior
ternura e fervor o vosso Santíssimo e dulcíssimo nome, e o de vossa
querida Mãe minha Senhora, pois é assim que eu quero, proponho, e
ardentissimamente desejo finalizar a vida, e entregar a minha alma nas
vossas mãos.
VII.
Protesto que com toda a resignação, e com a
melhor vontade, aceito da vossa mão e da vossa adorável e amorosa
Providencia a moléstia que deve pôr fim a meus dias, as dores, as
aflições e angustias da morte, e a mesma morte, e proponho tudo sofrer e
levar com espirito penitente e cristão, beijando a vossa divina e
paternal mão, já em justíssimo castigo e expiação das minhas culpas, já
em testemunho do meu amor, e do desejo de acompanhar-vos em vossa
sacratíssima paixão, morte e Cruz, e de participar d’ela, pois que n’ela
e por ela me remistes: por isso desde já vos ofereço todos aqueles
padecimentos e a minha morte em satisfação dos meus pecados, e em
sacrifício d’amor, gratidão, humildade e submissão a vossa Suprema
Majestade; e não só conformo e resigno toda a minha vontade na vossa e
renuncio toda a impaciência, mas em igual espirito e intenção me sujeito
a todas as humilhantes mudanças, corrupção e dissolução por que o meu
corpo ha de passar, e a que a morte o ha de reduzir em justíssima pena
das ofensas, de que no decurso da vida, foi causa, e instrumento contra o
seu mesmo Senhor e Criador. Convenho, e até mesmo estimo, que todos os
meus membros, ossos, e carne sofram os horrores e humilhações da
sepultura, para assim ao menos repararem por fim a enorme injustiça da
sua rebelião contra o espirito, e mais que tudo contra vós. E ainda que
iste não fosse indispensável pensão de todo o ser humano, eu mesmo se me
fosse permitido, a pagaria por escolha minha, só para d’alguma maneira
render à suprema Sabedoria de vossa divina Majestade um sacrifício, e
testemunho nada equivoco, e incontestável, do meu reconhecimento,
submissão, e humildade.
VIII.
Protesto finalmente, que
desejo de todo o coração, e me preponho n’aquele ultimo transe abraçar
me intima e amorosamente com a vossa sagrada Imagem, beijando a uma e
muitas vezes nos pés, nas mãos e no Lado sacrossanto, espirar repetindo o
vosso nome Santíssimo, e encomendando ao Eterno Pai a minha alma
pecadora sim, mas banhada com o vosso preciosíssimo sangue. Igualmente
desde já vos suplico, ó meu amantíssimo Salvador, vos digneis conceder
me a graça eficaz de executar então pontualmente tudo quanto agora aqui
proponho e protesto. Finalmente vos rogo, ó meu JESUS tenhais para com a
minha alma piedade e misericórdia, e mui particularmente me concedais a
graça final, e o fim ditoso para que vós me criastes e remistes, pelo
qual unicamente suspiro, e ardentemente desejo conseguir, que é a posse
da Bem-aventurança no gozo e visão beatifica de Deus, meu único,
sempiterno e Sumo Bem. Amém.