SIMPLES PENSAMENTOS SOBRE O PURGATÓRIO
Os benefícios de rezar pelas Almas do Purgatório
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REQUIEM AETERNAM DONA EIS, DOMINE;
ET LUX PERPETUA LUCEAT EIS.
REQUIESCANT IN PACE. AMEN
Existência do Purgatório
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O Concílio de Florença reafirmava o que dois outros
Concílios antes dele haviam dito: os Concílios Ecumênicos de Lião I[1]
e II[2],
em 1245 e 1274, respectivamente. O mesmo foi reafirmado, depois, pelo Concílio
de Trento[3]
(de 1545 a 1563)[4].
“Aqueles que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não são
perfeitamente purificados, embora estejam certos de sua salvação, são, contudo,
submetidos, após a morte, a uma purificação, com o fim de obter a santidade
necessária para entrar na alegria do Céu” (C.I.C. 1.030).
“Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas” (II Macabeus, 12,38-46).
S. Pedro
Damião, em uma visão, contempla a Virgem que caminha entre as Almas do
Purgatório para consolá-las e levá-las ao Céu[5].
Jesus adverte que a Justiça de Deus é infinita e não “quebra galhos”; tudo deve ser pago ou na Terra ou no Purgatório: “Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta. Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e tu sejas posto em prisão. Em verdade te digo: dali tu não sairás antes de teres pago o último centavo”. (Mateus 5,23-26).
A Tradição da Igreja confirma com certeza a verdade do
Purgatório: os Cristãos dos primeiros séculos, sobre as pedras tumulares, nas
catacumbas, esculpiram muitas invocações a Deus para implorar refrigério que
apressasse a seus defuntos a entrada no Céu.
Os grandes Padres e Doutores da Igreja: S.
Agostinho, S.
Jerônimo, S.
João Crisóstomo, S.
Efrém da Síria, S.
Cipriano etc., falam claramente do Purgatório.
S. Ambrósio, no discurso feito por ocasião da morte do Imperador Teodósio, roga a Deus de conceder ao defunto amigo um lugar entre os Santos, acrescentando que não se cansará nunca de rezar até que Deus o tenha recebido entre os Beatos.
Quanto se sofre no Purgatório?
“Cada mínima pena do
Purgatório é mais grave do que a máxima pena do mundo. Tanto difere a pena do
fogo do Purgatório do nosso quanto o nosso fogo difere daquele pintado” (S. Tomás).
S. Agostinho (Comentários ao Salmo 37, n. 3) fala da dor que
o fogo purgatorial causa no homem, mais aguda que qualquer outra coisa que o
homem possa padecer nesta vida, “gravior erit ignis quam quidquid potest homo
pati in hac vita” (P.L., col. 397).
Gregório
Magno fala daqueles que depois da vida “expiarão suas faltas por chamas
purgatoriais”, e acrescenta “ser a dor mais intolerável que qualquer outra
sofrível nesta vida” (Ps. 3 poenit., n. 1).
Seguindo os passos de São Gregório, São Tomás ensina que,
junto da separação da alma da vista de Deus, há a outra pena, pelo fogo. “Una poena damni, in quantum scilicet
retardantur a divina visione; alia sensus secundum quod ab igne punientur” (IV,
dist. XXI, q. i, a.1).
E S. Boaventura não só concorda com S. Tomás, como
acrescenta que esta pena pelo fogo é mais severa que qualquer pena que possa
ser dada pelos homens nesta vida; “Gravior est omni temporali poena, quam modo
sustinet anima carni conjuncta” (IV, dist. XX, p. 1, a. 1, q. II). Como este
fogo afeta as almas dos falecidos, os Doutores não sabem, e em tais matérias
vale a exortação do Concílio de Trento, que manda serem “excluídas das
pregações populares à gente simples as questões difíceis e sutis e as que não
edificam nem aumentam a piedade” (Sess. XXV, “De Purgatorio”).
Melhor o Purgatório daqui que o de lá
“O Senhor dispõe que tantas almas façam o seu Purgatório na Terra, entre nós, seja para instrução dos vivos que para sufrágio dos defuntos” (S. Tomás).
Quantos vão ao Paraíso logo após a morte?
“Depois da morte, são
raras as almas que vão diretamente ao Paraiso; a multidão das outras que morrem
na graça de Deus devem ser purificadas pelas penas acérrimas do Purgatório”
(S.
Roberto Bellarmino)
No Purgatório há
também alegria?
“Não creio que, depois
da felicidade dos Santos que gozam na glória, haja uma alegria similar àquela
das almas purgantes. É certo que estas almas conciliam duas coisas em aparência
irredutíveis: gozam de uma alegria suma e, ao mesmo tempo,
sofrem inúmeros tormentos, sem que as duas coisas tão opostas se excluam e se
destruam uma à outra” (S. Catarina
de Gênova[7]).
Apesar dos sofrimentos, são também inefáveis as alegrias na Igreja Padecente. São Bernardino de Sena trata disso de modo convincente e digno de fé, pois se funda não em lendas e sim na teologia, e faz delas um longo elenco:
1) Confirmação na graça;
2) Certeza da salvação;
3) Amor de Deus;
4) Visita dos anjos;
5) Visita dos santos;
6) Visita de Nossa Senhora.
As almas do Purgatorio nos ajudam?
“A
minha vocação religiosa e sacerdotal é uma graça imensa que atribuo à minha
cotidiana oração pelas Almas do Purgatorio que, ainda menino, eu aprendi com
minha mãe” (Beato Angelo D'Acri)[8].
“Quando quero obter
alguma graça de Deus recorro às almas do Purgatório e sinto que sou atendida
por causa de sua intercessão” (S.
Catarina de Bolonha[9]).
“Caminhando pela rua, no tempo livre, rezo sempre pelas
Almas do Purgatório. Estas santas Almas com sua intercessão me salvaram de
tantos perigos da alma e do corpo” (S.
Leonardo de Porto Maurício[10]).
“Nunca pedi graças às Almas purgantes sem ser atendida, pelo
contrário, aquelas que não pude obter dos espíritos celestes as obtive pela
intercessão das Almas do Purgatório” (S. Catarina de Genova).
“Todos os dias ouço a Santa Missa pelas almas do Purgatório:
a este piedoso costume eu devo tantas graças que continuamente recebo para mim
e para meus amigos” (S.
Contardo Ferrini).
Em sentido contrário: na Bula "Exurge Domine"[11], Leão X condena a proposição (n. 38) "Nec probatum est ullis aut rationibus aut scripturis ipsas esse extra statum merendi aut augendae caritatis" (Não se prova em lugar algum pela razão ou pela Escritura que elas [as almas no purgatório] não possam ganhar méritos ou crescer na caridade). Para elas "chegou a noite, em que o homem não pode mais trabalhar", e a Tradição Cristã sempre considerou que somente nesta vida o homem pode trabalhar pelo bem de sua alma.
Os Doutores da Idade Média, mesmo aceitando que esta vida é
o momento para o mérito e o aumento da graça, ainda alguns com São Tomás
pareceram questionar se há ou não uma recompensa não essencial que as almas no
Purgatório possam merecer (IV, dist. XXI, q. I, a. 3). Belarmino acredita que,
nesta matéria, São Tomás mudou sua opinião, e faz referência a uma afirmação de
São Tomás ("De Malo", q. VII, a. 11). Seja qual for o pensamento do
Doutor Angélico, os teólogos aceitam que nenhum mérito é possível no
Purgatório, e se surgir a objeção de que as almas ganham mérito lá pelas suas
orações, Belarmino diz que tais orações são úteis por causa de méritos já
adquiridos: "Solum impetrant ex meritis praeteritis quomodo nunc sancti
orando pro nobis impetrant licet non merendo" (Elas rezam pelos méritos
adquiridos, como os que agora são santos e que rezam por nós, mesmo sem ganhar
méritos). (loc. cit. II, cap. III).
Os nossos sufrágios
A Escritura e os Padres mandam fazer orações e ofertas pelos
falecidos, e o Concílio de Trento (Sess. XXV, "De Purgatorio"), em
virtude desta Tradição, não só afirma a existência do Purgatório, como
acrescenta "que as almas que nele estão detidas são aliviadas pelos
sufrágios dos fiéis, principalmente pelo sacrifício do altar". Que aqueles
que estão na terra ainda estão em comunhão com as almas do purgatório é o
ensinamento mais antigo dos Cristãos, e que os vivos ajudam os mortos por suas
orações e obras de satisfação, é evidente pela Tradição acima mencionada. Que o
Santo Sacrifício tenha sido oferecido pelos falecidos é Tradição Católica
recebida já nos dias de Tertuliano e S. Cipriano, e que as almas dos mortos são
ajudadas sobretudo "quando repousa a vítima sagrada sobre o altar" é
a expressão de S. Cirilo de Jerusalém, citada acima.
S. Agostinho diz que as "orações e esmolas dos fiéis, o
Santo Sacrifício do altar ajudam os fiéis falecidos e move o Senhor a tratá-los
em misericórdia e bondade", e, acrescenta, "esta é a prática da
Igreja universal herdada dos Padres" (Serm. CLXII, n. 2).
Se nossas obras de satisfação realizadas em favor dos mortos
são aceitas simplesmente pela benevolência e misericórdia de Deus, ou se Deus
se obriga em justiça a aceitar a nossa reparação no lugar delas, não é uma
questão respondida.
O Pe. Francisco
Suárez, S.J. pensa que a aceitação é pela justiça e afirma ser prática
comum da Igreja que reúne os vivos e mortos sem discriminação (De poenit.,
disp. XLVIII, 6, n. 4).
Os meios principais com que podemos socorrer e libertar as
Almas do Purgatório são:
1) a oração e a esmola;
2) a Santa Missa e a Santa Comunhão;
3) as indulgências e as boas obras;
4) o ato heroico de caridade.
Indulgências:
O Concílio de Trento (Sess. XXV) definiu que as indulgências são "muito salutares para o povo Cristão" e que "se deve manter o seu uso na Igreja".É o ensinamento comum dos teólogos Católicos que:1. Indulgências são aplicáveis às almas do purgatório[12].2. Indulgências estão disponíveis para elas "em forma de sufrágio" (per modum suffragii)[13].Condições para que uma indulgência aproveite para os que estão no purgatório, várias condições são necessárias:1. A indulgência deve ser estabelecida pelo papa.2. Deve haver razão suficiente para se dar a indulgência, e esta razão deve ser algo referente à glória de Deus e o bem da Igreja, não meramente o proveito que resulta às almas no purgatório.3. A obra piedosa deve ser como no caso das indulgências para os vivos.Se o estado de graça não estiver entre os requisitos, em todo caso a pessoa pode lucrar a indulgência para os falecidos, ainda que ele não esteja na amizade com Deus (S. Belarmino, loc. cit., p. 139). Pe. Francisco Suárez (De Poenit., disp. IIII, s. 4, n. 5 and 6) deixa isso bem claro quando diz: "Status gratiæ solum requiritur ad tollendum obicem indulgentiæ" (o estado de graça só se requer para remover algum impedimento da alma), e no caso das santas almas não pode haver impedimento. Este ensinamento está ligado à doutrina da Comunhão dos Santos, e os monumentos das catacumbas representam os santos e mártires como que intercedendo a Deus pelos mortos. Também as orações das antigas liturgias falam de Maria e dos santos intercedendo pelos que passaram desta vida. Agostinho acredita que um enterro numa basílica cujo titular seja um santo mártir é de valor para o falecido, pois os que ali celebram a memória daquele que sofrem, recomendarão orações ao mártir por aquele que passou desta vida (S. Belarmino, lib. II, XV). No mesmo lugar Belarmino acusa Dominicus A Soto de imprudência por ter negado esta doutrina.
1) as penas do Purgatório são mais acrimoniosas do que todas
as penas desta vida;
2) as penas do Purgatório são longuíssimas;
3) as Almas purgantes não podem ajudar a si mesmas, somente
nós podemos sufragá-las;
4) as Almas do Purgatório são muitíssimas, permanecem lá
longuissimamente, sofrem penas inumeráveis, (S. Roberto Belarmino).
“A devoção pelas Almas
purgantes é a melhor escola de vida cristã: nos leva às obras de misericórdia,
nos ensina a oração, nos faz ouvir a Santa Missa, nos habitua à meditação e à
penitência, nos impele a fazer boas obras e a dar esmola, nos faz evitar o
pecado mortal e temer o pecado venial, causa única da permanência das Almas do
Purgatório” (São Leonardo de Porto Maurício).
“A oração pelos defuntos é mais aceita por Deus do que
aquela pelos vivos, porque os defuntos precisam dela e não podem ajudar a si
mesmos, como podem fazê-lo, ao invés, os vivos” (São Tomás).
A Santa Missa pelos defuntos
“Pelos vossos defuntos, para demonstrar-lhes vosso amor, não
ofereçais apenas violetas, mas sobretudo orações; não cuidais apenas das pompas
fúnebres, mas sufragai-os com esmolas, indulgências e obras de caridade; não
vos preocupeis apenas com a construção de tumbas suntuosas, mas especialmente
com a celebração do Santo Sacrifício da Missa. As manifestações externas são um
alívio para vós, as obras espirituais são um sufrágio para eles, por eles
esperado e desejado” (S. João Crisóstomo).
“É certo que nada é mais eficaz pelo sufrágio e a libertação
das Almas do fogo do Purgatório do que a oferta a Deus, por elas, do Sacrifício
da Missa” (S. Roberto Belarmino).
“Durante a celebração da S. Missa quantas almas são libertadas
do Purgatório! Aquelas pelas quais se celebra não sofrem, aceleram a sua
expiação ou voam logo para o Céu, porque a S. Missa é a chave que abre duas
portas: aquela do Purgatório para de lá sair, e aquela do Paraíso, para nele
entrar para sempre” (S. Jerônimo).
“Reza sempre à Santa Virgem pelas Almas do Purgatório. A
Virgem recebe a tua oração para leva-la ao trono de Deus e livrar logo as Almas
pelas quais você suplica” (S. Leonardo de Porto Maurício).
Advertências aos vivos
Com muita facilidade vocês pecam e tornam a pecar. Se
provassem por um só instante quão graves, quão longas penas deverão sofrer no
Purgatório cometendo mesmo um só pecado venial, o evitariam mais do que a morte.
Rogai por nós que expiamos as nossas culpas passadas, evitem o pecado, todo
pecado, causa única destes inauditos sofrimentos. Pregai a todos o quanto são
graves estas penas onde deverão ser expiados os pecados que em vida os homens
tão facilmente cometem” (Crônicas dos Menores[14]).
Nosso Senhor Jesus Cristo apareceu a S.
Gertrudes em seu leito de morte e lhe disse: “Coragem e confiança. Logo
estarás no Céu. Eis a multidão de Almas que tu libertaste do Purgatório: vem-te
ao encontro, com cantos exultantes para te acompanhar ao prêmio eterno no
Paraíso” (Vida de S. Gertrudes).
Ato heroico de caridade
É sabido pelo Catecismo que, por cada obra cristão cumprida na graça de Deus, se adquirem três méritos:
1) um aumento de glória para o Céu;
2) um aumento de graça para o presente;
3) uma redução das penas devidas pelas culpas passadas que
devem ser expiadas na Terra o no Purgatório.
Aos dois primeiros méritos não se pode renunciar, são
inalienáveis; ao terceiro, pelo contrário, se pode renunciar e pode ser
aplicado às santas Almas do Purgatório: este ato pessoal constitui o Ato
heroico de caridade, que consiste em “fazer à Majestade divina, em benefício
das Almas do Purgatório, a oferta de todas as próprias obras satisfatórias
durante a vida e de todos os sufrágios que podem nos ser aplicados depois da
nossa morte”.
Este Ato heroico pode ser feito com o coração e é válido, não precisa de uma fórmula externa. É bom fazê-lo após a Santa Comunhão. Quantas Almas nós podemos libertar das terríveis penas do Purgatório com este santíssimo ato de caridade!
O Ato heroico foi aprovado pelo Sumo Pontífice
Gregório XV, quando, com sua Bula Pastoris
Aeterni (italiano), aprovou o “Instituto do Consórcio dos Irmãos”, fundado
pelo Venerável
Pe. Domenico de Jesus Maria (1559-1630), Carmelita Descalço, na qual, entre
os outros piedosos exercícios em prol dos defuntos, consta o de oferecer e
consagrar em sufrágio deles a parte satisfatória das próprias obras.
Este Ato heroico de caridade foi enriquecido de muitos
favores, pelo Decreto de 23 de agosto de 1728, pelo Sumo Pontífice Benedito
XIII, confirmados depois pelo Papa Pio VII,
aos 12 de dezembro de 1788; esses favores foram, então, especificados pelo Santo Padre Papa Pio
IX, com Decreto da “Sacra Congregação das Indulgências” de 10 de setembro
de 1852, da seguinte maneira:
I. Os Sacerdotes que fizeram dita oferta poderão gozar,
todos os dias, o indulto do altar privilegiado pessoal.
Todos os fiéis que fizeram a mesma oferta poderão lucrar:
II. Indulgência Plenária aplicável somente aos Defuntos em
qualquer dia façam a Santa Comunhão, contanto que visitem uma Igreja ou um
público Oratório e lá rezem por algum tempo, segundo a intenção do Sumo Pontífice.
III. Da mesma forma, poderão lucrar Indulgência Plenária
todas as segundas-feiras, assistindo à Santa Missa em sufrágio das Almas do
Purgatório, e cumprindo as outras condições supramencionadas.
IV. Todas as Indulgências que são concedidas e se concederão no futuro, as quais se lucram pelos fiéis que fizeram esta oferta, podem ser aplicadas às Almas do Purgatório.
Finalmente, o mesmo Papa Pio IX, em 20 de novembro de 1854, tendo em vista aqueles jovens que ainda não comungam e também os enfermos, os crônicos, os velhos, os camponeses, os encarcerados e outras pessoas que não podem comungar ou não podem acompanhar a Santa Missa às segundas-feiras, concedeu-lhes que poderiam aplicar ao mesmo fim a Missa do Domingo. E para aqueles fiéis que ainda não comungam ou são impedidos de comungar, poderá a oferta ser comutada em outra obra de piedade pelos confessores autorizados pelo Ordinário local.
Adverte-se, ainda, que, embora esse Ato heroico de caridade
seja chamado em alguns opúsculos de “Voto heroico de caridade” e venha
acompanhado de uma fórmula escrita, não se deve entender este “voto” como feito
em modo que obrigue “sob pecado”; também não é necessário pronunciar qualquer
fórmula, bastando, para ser partícipes das Indulgências e privilégios
indicados, a obrigação feita com o coração.
Pesquisa, tradução e organização: Giulia d’Amore di Ugento.
Vide sobre isso também aqui: Novembro: Mês das Almas do Purgatório: DIA 27 e Ato heróico em favor das Almas do Purgatório. Sobre o DIA DE FINADOS.
Fontes de pesquisa:
Il Purgatorio (italiano).
Altri documenti sul Purgatorio (italiano).
Chi morrà, vedrà… Il Purgatorio e il
Paradiso (italiano).
Il Purgatorio (italiano).
Filotea per i Defunti (italiano).
[1] Lião I: “(...) Finalmente, afirmando a Verdade no Evangelho, que se
alguém blasfemar contra o Espírito Santo não lhe será perdoado nem neste mundo
nem no futuro [Mat. 12,32], o que dá a entender que algumas culpas são
perdoadas no século presente e outras no futuro; bem como também disse o
Apóstolo, que o fogo provará a obra de cada um; e aquele cuja obra arder
sofrerá dano; ele, porém, se salvará, mas como quem passa pelo fogo [1Cor. 3,13-15];
e como os próprios gregos dizem que creem e afirmam, verdadeira e
indubitavelmente, que as almas daqueles que morrem, recebida a penitência,
porém sem cumpri-la, ou sem pecado mortal, mas apenas veniais e pequenos, são
purificadas após a morte e podem ser auxiliadas pelos sufrágios da Igreja;
visto que [os gregos] dizem que o lugar desta purificação não lhes foi indicado
com nome certo e próprio por seus doutores, como nós que, de acordo com as
tradições e autoridades dos Santos Padres, o chamamos 'Purgatório', queremos
que daqui por diante também eles o chamem por este nome, porque com aquele fogo
transitório certamente são purificados os pecados, não os criminais ou capitais
que antes não tenham sido perdoados pela penitência, mas os pequenos ou
veniais, que pesam mesmo depois da morte, ainda que tenham sido perdoados em
vida...” (Concílio Ecumênico de Lião I, 13º Ecumênico).
[2] Lião II: “(...) Mas por causa dos diversos erros que alguns por
ignorância e outros por malícia introduziram, devemos dizer e pregar que
aqueles que depois do batismo caem no pecado não devem ser rebatizados, mas que
obtêm, pela verdadeira penitência, o perdão dos pecados. E se, verdadeiramente
arrependidos, morrerem em caridade antes de ter satisfeito com frutos dignos de
penitência por seus atos e omissões, suas almas são purificadas após a morte
com penas purgatórias ou catartérias, como nos explicou frei João; e, para
alívio dessas penas, lhes aproveitam os sufrágios dos fiéis vivos a saber: os
sacrifícios das missas, as orações e esmolas, e outros ofícios de piedade que,
segundo as instituições da Igreja, alguns fiéis costumam fazer em favor de
outros. Mas aquelas almas que, após terem recebido o santo batismo, não incorreram
em mancha alguma de pecado e também aquelas que após o contraírem se
purificaram - quer enquanto permaneciam em seus corpos quer após deixá-los -
como acima foi dito, são recebidas imediatamente no céu” (Concílio de Lião III,
14º Ecumênico).
[3] Concílio de Trento. Ver “Istoria del Concilio di Trento (1833)”,
em PDF. E também: “O sacrosanto, e ecumenico Concilio
de Trento em latim e portuguez”, PDF
em dois volumes.
[4] “Tendo a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, segundo a
doutrina da Sagrada Escritura e da antiga Tradição dos Padres, ensinado nos
sagrados Concílios, e atualmente neste Geral de Trento, que existe Purgatório e
que as almas detidas nele recebem alívio com os sufrágios dos fiéis e em
especial com o aceitável sacrifício da missa, ordena o Santo Concílio aos
Bispos que cuidem com máximo esmero que a santa doutrina do Purgatório,
recebida dos santos Padres e sagrados Concílios, seja ensinada e pregada em
todas as partes, e que seja crida e conservada pelos fiéis Cristãos.
Excluam-se, todavia, dos sermões pregados em língua vulgar à plebe rude, as
questões muito difíceis e sutis que em nada conduzem à edificação e com as
quais raras vezes se aumenta a piedade. Também não se permita que sejam
divulgadas e tratadas as coisas incertas, ou que tenham vislumbres ou indícios
de falsidade. Ficam proibidas, por serem consideradas escandalosas e que servem
de tropeço aos fiéis, as que tocam em certa curiosidade ou superstição, ou têm
resíduos de interesse ou de sórdida ganância. Os bispos deverão cuidar para que
os sufrágios dos fiéis, a saber, os sacrifícios das missas, as orações, as
esmolas e outras obras de piedade que costumam fazer pelos defuntos, sejam
executados piedosa e devotadamente segundo o estabelecido pela Igreja, e que
seja satisfeito, com esmero e exatidão, tudo quanto deve ser feito pelos
defuntos, segundo exijam as fundações dos entendidos ou outras razões, não
superficialmente, mas sim por sacerdotes e ministros da Igreja e outros que têm
esta obrigação” (Concílio de Trento, Sessão 25: Decreto sobre o Purgatório).
[5] Maria livra as almas do purgatório. Mas a Santíssima Virgem não só
favorece e consola os seus devotos, como também os tira e livra do purgatório
com a sua intercessão. Jean Gerson,
célebre teólogo do Século XV, o ‘Doctor
christianissimus’, disse: “No dia da Assunção de Maria esvaziou-se o
purgatório. No momento de ser elevada ao céu, Maria pediu ao seu amado Filho a
graça de levar consigo todas as almas, que então se achavam no Purgatório”.
Desde então, diz o teólogo Gerson, está Maria na posse do privilégio de livrar
seus devotos daquelas penas. Dionísio
o Cartuxo, teólogo do mesmo século XV, diz que, nas festas do Natal e da
Ressurreição do Senhor, Nossa Senhora liberta muitas almas. Diz que em tais
dias desce Maria ao Purgatório, acompanhada por muitos anjos, e livra muitas
almas daquelas penas. Novarino
(livros
para baixar em PDF, e aqui),
teólogo do século XVII, inclina-se a crer que o mesmo acontece em todas as
festividades solenes de Nossa Senhora, e se baseia em graves autores, dizendo
que pelos merecimentos de Maria não só se tornam mais leves, mas também mais
breves as penas nessas almas, apressando-se com a intercessão da Santíssima
Virgem o tempo de expiação. Basta que ela formule um pedido nesse sentido. E
isso o afirma também absolutamente S.
Bernardino de Sena, para quem tem Maria a faculdade de livrar, com suas
súplicas e com a aplicação de seus merecimentos, as pobres almas, especialmente
as de seus devotos. Refere S. Pedro
Damião que certa mulher, chamada Marózia, apareceu depois de morta a uma
sua comadre e lhe disse que no dia da Assunção de Maria havia sido libertada do
Purgatório e que, juntamente com ela, saíra um tão considerável número de Almas,
que excediam o da população de Roma. Conhecidíssima é a promessa que Maria fez
ao Papa João XXII.
Apareceu-lhe um dia e lhe ordenou que fizesse saber a todos aqueles que
trouxessem o Escapulário do Carmo que
seriam livres do Purgatório no primeiro sábado depois da morte: chama-se “privilégio
sabatino”. O Papa obedeceu por uma Bula que publicou e que depois foi confirmada
por Clemente VII
(Ex clementis, aos 12 de aposto de
1530), Pio
V (Superna dispositione, aos 18
do fevereiro de 1566), Gregório XIII (Ut Laudes, aos 18 de setembro de 1577) e
Paulo V.
Este, em 20 de janeiro de 1613, por decreto da S. Inquisição Romana, assim diz:
“Pode o povo Cristão piamente crer que a bem-aventurada Virgem ajudará com a
sua contínua intercessão, com os seus rogos, e com especial proteção, depois da
morte, e principalmente no dia de sábado, consagrado pela Igreja à mesma
Virgem, as Almas dos irmãos da Confraria de
Nossa Senhora do Carmo que morreram na graça de Deus. Como condição
requer-se que tenham usado sempre o Escapulário, recitando o Ofício da Virgem, ou, não podendo
recitá-lo, tenham observado os jejuns da Igreja, abstendo-se de carne às
quartas-feiras e ao sábado”. Diz também o Breviário
da festa de Nossa Senhora do Carmo: “Segundo uma piedosa crença, a
Santíssima Virgem com maternal amor consola os confrades do Carmo no
purgatório, e com sua intercessão depressa os leva à pátria celeste”. Aos 4 de
julho de 1908, a S. Congregação aprovou uma Súmula de indulgências e privilégios
concedidos à Confraria do Escapulário do Carmo.
[6] Revelação de Nossa Senhora a Santa Brígida, com a aprovação do Papa Bonifácio IX.
[7] S. Catarina de Gênova. Trechos de seu “Tratado”, aqui.
[8] Angelo D'Acri (1669-1739) foi um presbítero e
religioso italiano que Papa Leão XII beatificou em 1825. Ele intercedeu pela
cura imediata de Pietro Sacco de Bisignano e de Marianna Bernaudo, irmã do
vigário geral de Bisignano. E também pela ressureição de Francesco Sirimarco de
Sant'Agata d'Esaro.
[9] Catarina de Bolonha (1413-1463), às vezes
chamada de Catarina de Virgi, nasceu em Bolonha, Itália. Franciscana terciária
com 14 anos. Freira das Clarissas Pobres. Madre das noviças. Estabeleceu um
convento de “Clarissas Pobres” em Bolonha em 1456, e lá serviu como Abadessa.
Mística, fazia milagres e ainda era profetisa e visionária. Também era pintora e decifrava manuscritos como se estivesse
iluminada por um anjo. Em um dia de Natal recebeu uma visão de Jesus nos braços de Maria. Esta visão ela pintou em um quadro que se
encontra no Museu do Vaticano. Faleceu em 9 de março de 1463 em Bolonha,
Itália, e foi enterrada sem caixão e não foi embalsamada. Exumada dezoito dias
depois, devido a milagres que ocorriam junto de sua tumba, o odor de perfume
exalou de seu túmulo e o seu corpo estava incorrupto. Diante disso foi chamado o doutor Maestro Giovanni Marcanova que
examinou o corpo e não pode explicar o fato. Assim seu corpo foi vestido com
roupa limpa e foi colocado em uma cadeira, em uma capela especial, atrás de
barras e vidros onde está até hoje. Na arte litúrgica da Igreja, Santa Catarina
é mostrada como uma Clarissa Pobre carregando o Menino Jesus ou em um trono com
um livro, ou com uma cruz sobre seu peito e descalça. Escreveu “Tratado em
armas espirituais” e “Revelações”. Canonizada em 22 de maio de 1712 pelo Papa
Clemente XI, é padroeira da Academia de arte de Bolonha, dos pintores e das
artes liberais.
[12] S. Agostinho (Cidade de Deus XX.9) declara que
as almas dos fiéis falecidos não estão separadas da Igreja, que é o Reino de
Cristo, e por esta razão as orações e obras dos vivos são úteis aos mortos.
"Se então", argumenta S. Belarmino "podemos oferecer nossas
orações e satisfações em favor das almas do purgatório, por sermos membros do
grande corpo de Cristo, porque não pode o Vigário de Cristo aplicar a essas
almas a satisfação superabundante de Cristo e seus santos, da qual ele é
dispenseiro?" (De indulgentiis, XIV). Esta é a doutrina de São Tomás que
afirma que as indulgências aproveitam principalmente para aquele que realiza a
obra indulgenciada, e ao menos em segundo plano pode aproveitar para os mortos,
se a forma em que a indulgência é dada estiver expressa de tal modo que
possibilite esta interpretação, e ele acrescenta "nem há qualquer razão
pela qual a Igreja não possa dispor de seu tesouro de méritos em favor dos
mortos, como certamente se faz em favor dos vivos" (IV, Sent., dist. XLV,
q. II, a. 3, q. 2).
[13] São Boaventura (IV, Sent., dist. XX, p. 2, q.
v) concorda com São Tomás, mas acrescenta que tal "remissão não se faz a
modo de absolvição, como no caso dos vivos, mas como sufrágio" (Haec non
tenet modum judicii, sed potius suffragii). Esta opinião de São Boaventura, de
que a Igreja através do seu Supremo Pastor não absolve juridicamente as almas
do purgatório da pena devida pelos seus pecados, é o ensinamento dos Doutores.
Eles apontam (Gratian, 24 q. II, 2, can.1) que no caso daqueles que partiram
desta vida, o julgamento é reservado a Deus; eles alegam a autoridade de Gelásio (Ep. ad
Fausturn; Ep. annuncio. Episcopos Dardaniae) como apoio a seu argumento
(Gratian ibid.), e também insistem que os Romanos Pontífices, quando concedem
indulgências aplicáveis aos mortos, acrescentam a restrição "per modum
suffragii et deprecationis". Esta frase é encontrada na Bula de Sisto IV "Romani Pontificis provida diligentia",
27 de Nov. de 1447. A frase "per modum suffragi et deprecationis" tem
sido interpretada de várias formas pelos teólogos (S. Belarmino, "De
indulgentiis", p.137). O próprio Belarmino diz: "A verdadeira opinião
é de que indulgências aproveitam como sufrágio, pois não aproveitam ao modo de
absolvição jurídica 'quia non prosunt per modum juridicae absolutionis'."
Mas de acordo com o mesmo autor, os sufrágios dos fiéis aproveitam às vezes
"per modum meriti congrui" (por meio de mérito), às vezes "per
modum impetrationis" (por meio de súplica), às vezes "per modum
satisfactionis" (por meio de satisfação); mas quando se trata de aplicar
uma indulgência a alguém no purgatório, sempre é "per modum suffragii
satisfactorii" e por esta razão "o papa não absolve a alma no
purgatório das penas devidas pelos seus pecados, mas oferece a Deus, do tesouro
da Igreja, tudo o que seja necessário para o cancelamento de sua pena". Se
a questão for refeita indagando se tal satisfação é aceita por Deus por
misericórdia e benevolência, ou "ex justitia", os teólogos não estão
de acordo — alguns sustentam uma opinião e outros, a outras. Belarmino, depois
de investigar os dois lados (pp. 137, 138), não se atreve a deixar nenhuma de
lado, mas está inclinado a pensar que a primeira é mais razoável enquanto diz
que a última está em harmonia com a piedade ("admodum pia").