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"Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém."

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domingo, 1 de junho de 2014

Oração de um pecador arrependido à sua doce Mãe Celeste.

Como não se comover com essas palavras tão piedosas e sinceras que brotam de um coração arrependido? Como não se apropriar delas para repeti-las, de joelho, a essa Mãe tão terna e tão misericordiosa, porque é a Mãe da Misericórdia?!?!?!


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EIS-ME AOS VOSSOS PÉS, Ó MINHA MÃE!





Eis, ó poderosa Mãe de Deus, eis aos vossos pés um traidor, um pérfido, um ingrato. Ele é o bárbaro que fez jorrar debaixo de vossos olhos o sangue de vosso Filho inocente. O infiel que teve a coragem de abandonar-vos. O escravo fugitivo e rebelde. Ei-lo enfim, ei-lo de volta. Ele está diante de vós. Que ocasião mais favorável podes esperar para vos vingar? Ele está em vossas mãos, é hora de lhe fazer sentir o rigor merecido de vossa justa cólera.

Podeis perdê-lo, podeis castigá-lo, podeis até aniquilá-lo se o quiserdes. Expulsá-lo, repeli-lo, isso é muito pouco. Ao invés, faças estourar sobre ele o raio de vossa indignação, tire do mundo um monstro sem semelhante sobre a terra, condene-o, ele o merece, a esta prisão, eterna morada da morte e do horror.

Porém insensato, o que digo? Em vós (há) rigor! Em vós (há) vingança! É este então o emprego que Deus vos deu? É este o ministério ao qual fostes destinada? Contudo seria então falso o que a Igreja universal tem repetido de século em século, que sois a Advogada e o Refúgio dos miseráveis? Seria então falso o que os Pais da verdade pregam altivamente? Seria então falso que sois a Mediadora da paz entre Deus e os homens, a Esperança dos desesperados, o Asilo dos pecadores, a onipotente Reconciliadora dos infelizes filhos de um pai culpado?

Ouças, grande Rainha: esse monstro de infidelidade, esse traidor, esse ingrato que vos ultrajou tão cruelmente, ah!, esse ingrato indignado, sou eu, e apesar de tudo isso sou vosso filho: vosso filho, concebeste-me no momento afortunado onde consentistes na encarnação do Verbo eterno. Vosso filho, engendraste-me nas angústias, ao pé da cruz. Ah! Minha terna, minha amável Mãe, se, para justificar vossa ira, recordas-me minhas perfídias, eu, para justificar meus pedidos, vos recordo o Calvário.

É aí, sobre essa montanha adorável, que foi paga a dívida imensa de minhas iniquidades. É aí que foi rasgado o registro de minhas obrigações. É aí que foi apagada a fatal sentença de morte já publicada contra mim. É aí que foi apertado o nó da paz e da aliança entre o céu e a terra. É aí, enfim, que foi lacrado pelo sangue do Homem-Deus o grande testamento de reconciliação e de graça, que me deu direito à herança de meu irmão primogênito. E vós, sim, vós mesma fostes a cooperadora dessa grande obra, única digna de um Deus.

Mas se lembranças tão ternas e tão vivas não podem despertar em vós a compaixão por um infeliz, sejas ao menos tocada pelas últimas palavra de vosso Filho sobre a cruz. Sim, ele, ó minha mãe, sim, ele próprio, após trinta anos de cansaços, após ter bebido até o fim o amargo cálice de minhas iniquidades, apresentadas desde então ao seu pensamento, tomando meu lugar por um excesso inaudito de caridade, me deu a vós por filho, e vos deu a mim por mãe.

Esse ato solene de sua vontade, ao qual ele quis que estivesses presente, a fim de vos declarar publicamente, diante do universo inteiro, executora de suas disposições, esse ato foi a única lembrança que ele vos deixou por escrito em seu grande testamento. Este também foi o emprego que ele teve por bem vos destinar, e que aceitastes de bom grado. Como, portanto, continuas inflexível a esse traço de caridade sem precedentes? Como vos recusas a cumprir a honorável função que vos foi dada?

Ó minha Mãe, tende piedade do mais miserável dos pecadores. Ele custou o sangue e a morte de vosso Filho, e esse sangue e esta morte serão completamente perdidos por mim quando eu me perder. E eu perderia certamente se não me ajudastes. Conceda-me então vossa proteção, vosso apoio, vosso socorro, e minha salvação está assegurada, e compensarei por louvores eternos todas as minhas ingratidões passadas.

Peço muito, eu o sei, eu o vejo. Acaso isso custará muito ao vosso coração? Acaso a imensa misericórdia cuja necessito invadirá, ofenderá os imprescritíveis direitos da justiça? Pelo contrário. Tomo como penhor disso o ilustre Crisólogo. Sua palavra me encoraja e me reanima.

As virtudes, diz ele, têm isso em comum, que elas se ligam umas às outras, de modo que se isolardes uma, uma única, destruireis todas as demais. Portanto, se a justiça e a misericórdia são duas virtudes distinta, elas são irmãs, e é de sua natureza serem inseparáveis. É por isso que no próprio Deus, fonte eterna de todas as verdadeiras virtudes, a misericórdia não existe sem a justiça, nem a justiça sem a misericórdia.

Logo, conclui esse grande doutor, uma equidade sem bondade degenera em rigor, e uma justiça sem misericórdia torna-se crueldade. Quereis, augusta Virgem, quereis ser rigorosa e cruel comigo? E quando o quereis, o podereis? Tereis a coragem disso?

DE CONCILIIS, Louis-Marie. Marie, étoile de la mer. Tradução de Robson Carvalho. 2ª ed. Paris, Gaume Frères et J. Duprey, 1873.

Visto em: http://catolicosribeiraopreto.com/eis-me-aos-vossos-pes-o-minha-mae.

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