ATO DE PERFEITO AMOR A DEUS
Primeiramente um esclarecimento: Habitualmente, em nosso amor de Deus há mistura de amor puro e de amor de esperança,
o que quer dizer que amamos a Deus por Si mesmo, porque é
infinitamente bom, e também porque é a fonte de nossa felicidade. Estes
dois motivos não se excluem, pois Deus quis que em O amar e glorificar
encontrássemos a nossa felicidade. Não nos inquietemos, pois, desta
mistura, e, pensando no Céu, digamo-nos somente que a nossa felicidade
consistirá em possuir a Deus, em O ver, amar e glorificar; então o
desejo e a esperança do Céu não impedem que o motivo dominante das
nossas ações seja verdadeiramente o amor de Deus.
O Ato de Amor a Deus é a maior e mais preciosa ação que possa ser feita, tanto no Céu como na terra. A alma que faz mais Ato de Amor a Deus é a alma mais amada por Deus no Céu e na terra. O Ato de Amor a Deus
é o mais poderoso e eficaz meio para chegar bem depressa, e
facilmente, a mais íntima união com Deus, à mais alta santidade e à
maior paz da alma (Beato Olier).
O Ato de perfeito Amor a Deus
realiza imediatamente o mistério da união da alma com Deus. E se esta
alma fosse culpada dos maiores erros, ainda que numerosos, adquiriria
imediatamente a Graça de Deus com este Ato, com a condição de desejar
se confessar o quanto antes. Não pode comungar antes da confissão. Mas
queremos dizer que feito o Ato de perfeito Amor a Deus, a alma por mais pecadora é perdoada por este Ato, e se morrer antes de se confessar não vai para o inferno. Está salva.
Este
ato purifica a alma dos pecados veniais, das imperfeições, dá o perdão
do pecado, dá também a remissão da pena por todos os pecados, e
restitui os méritos perdidos. O Ato perfeito de Amor a Deus
devolve à alma, imediatamente, a inocência batismal. É este Ato o meio
eficaz para converter os pecadores, salvar os moribundos, libertar as
almas do Purgatório, e para consolar os que sofrem, para ajudar os
Padres, para ser útil às almas e à Igreja.
Um Ato perfeito de Amor a Deus
aumenta a glória exterior do próprio Deus, da Santíssima Virgem e de
todos os Santos do Paraíso; soergue todas as almas do Purgatório; obtém
acréscimo da graça para todos os fiéis sobre a terra, reprime o poder
maligno do inferno sobre as criaturas. O menor Ato de amor a Deus chega como benção e graça até ao selvagem que mora na última choupana abandonada nos limites da terra.
O Ato de Amor a Deus
é o mais poderoso meio de evitar o pecado, de vencer as tentações e
também para adquirir todas as virtudes e merecer todas as graças.
"O menor Ato de perfeito Amor a Deus tem mais efeito, mais merecimento e mais importância que todas as boas obras em conjunto" (São João da Cruz). É óbvio que São João da Cruz está se referindo às obras boas mas não feitas com perfeito amor a Deus.
O Ato de Amor a Deus é a ação mais simples, mais fácil, mais curta ou rápida que se pode fazer, pois basta dizer com toda simplicidade: "Meu Deus, eu Vos amo".
É tão fácil fazer um Ato de Amor a Deus.
Pode-se realizá-lo a todo o momento, em todas as circunstâncias, no
meio do trabalho, entre a multidão humana, seja qual for o lugar, e num
instante de tempo. O Bom Deus está sempre presente, ouvindo, esperando
afetuosamente colher do coração da criatura essa expressão de amor.
Ele deseja somente que a alma que faz um Ato de Amor conserve-se atenta um momento para poder Ele, Deus, responder-lhe por sua vez: "Eu também te amo; Eu te amo muito!".
O Ato de Amor não requer esforço nem inteligência. Não interrompe a atividade, não exige fórmulas particulares.
O Ato de Amor
não é um ato de sentimento; é um ato da vontade. Elevado infinitamente
acima da sensibilidade, é também imperceptível aos sentidos. Basta que
a alma diga ou mesmo exprima sem palavras ao bom Deus: "Meu Deus, eu Vos amo!".
Sofrendo na dor em paz e com paciência, a alma manifesta seu Ato de Amor deste modo: "Eu Vos amo Meu Deus, por isto sofro tudo por amor a Vós!".
Em meio aos trabalhos e preocupações exteriores, no cumprimento do dever cotidiano: "Meu Deus, eu vos amo, trabalho comVosco, para Vós, por Vosso Amor".
Na solidão, no isolamento, na imolação, na desolação: "Obrigado, meu Deus, sou assim mais semelhante a Jesus. Basta-me amar-Vos muito!".
Por ocasião de defeitos, mesmo graves: "Meu Deus, sou fraco, perdoai-me. Recorro a Vós, refugio-me em Vós porque Vos amo muito!".
Quando a última hora se aproximar: "Obrigado, meu Deus por tudo. Amei-Vos sobre a terra; espero amar-Vos para sempre no Paraíso!".
Pode-se fazer o Ato de Amor a Deus
de mil modos diversos. Mas ele é realizado de modo particular pela
vontade sempre disposta a cumprir a Santa Vontade de Deus, de qualquer modo que ela se apresente e nos seja manifestada.
Faz-se o Ato de Amor a Deus,
também, quando se cumpre mesmo uma pequenina obrigação, quando se
sofre uma bem pequena pena, ou frui-se qualquer ventura ou alegria,
tudo por seu Amor.
"Para
o bom Deus, vale mais apanhar um alfinete do chão por seu Amor, do que
realizar ações notáveis por outros objetivos, ainda que honestos" - diz um santo.
Faz-se Atos de Amor a Deus todas as vezes que se Lhe diz pela vontade: "Meu Deus, eu Vos amo!".
Uma pobre alma, ignorada de todos, pode fazer por dia 10.000 Atos de Amor a Deus.
Na realidade, uma alma simples e que vive no meio do mundo e no meio
da agitação e das preocupações pode repetir cada dia 10.000 vezes: "Meu Deus, eu Vos amo!".
1º) - Vontade de sofrer quaisquer penas e até mesmo a morte para não ofender gravemente o Senhor. "Meu Deus, antes morrer que cometer um pecado mortal".
2º) - Vontade de sofrer qualquer pena e até mesmo a morte de preferência a consentir num pecado venial. "Meu Deus, antes morrer que ofender-Vos, mesmo levemente".
3º) - Vontade de escolher sempre o que for mais agradável a Deus. "Meu Deus, uma vez que Vos amo, quero somente o que quereis".
Cada um destes três atos contém um Ato perfeito de Amor a Deus.
Santo não é quem faz milagres, tem êxtases ou visões, mas quem faz mais Atos de Amor a Deus no decorrer do dia.
Santo
não é apenas quem nunca consente num pecado, mas quem faz pecados por
fraqueza, mas logo se reergue e encontra em sua própria fraqueza nova
razão de amar ainda mais o bom Deus e de se abandonar melhor nos braços
Divinos.
Santo
não é apenas quem se flagela, usa de fortes mortificações ou que foge
ao mundo, ou que realiza obras notáveis que maravilham os homens, mas
quem diz maior número de vezes e com mais amor aos bom Deus: "Meu Deus, eu Vos amo muito, e por vosso amor, quero florescer onde me semeastes".
Santo é quem repete com maior vontade e maior número de vezes o Ato de Amor pela jornada diária afora: "Meu Deus, eu Vos amo muito".
A alma mais simples e escondida, ignorada de todos, mas que faz o maior número de Atos de Amor a Deus é muito mais útil às almas e à Igreja do que aquelas que fazem grandes obras com menor amor.
As
obras grandiosas e maravilhosas de alguns santos tiveram muito valor
justamente porque tiveram como motivo o grande amor a Deus que lhes
inflamava a alma.
Esta
postagem é um folheto distribuído por Religiosas no alto da "Escada
Santa" em Roma. Foi traduzido para o português e publicado em 1958.
Recebeu para tanto o Nihil obstat do Cônego Vital B. Cavalcanti (Censor ad hoc); e o Imprimatur foi dado pelo Mons. Caruso, Vigário Geral no Rio de Janeiro. Portanto, pode divulgar.
Português revisado por mim.
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