Terceira Fineza de Jesus Sacramentado para com os homens.
Jesus se deixou Sacramentado prevendo os agravos que se haviam de fazer a Seu Corpo.
Língua de Querubim não basta para explicar quão grande seja esta fineza de Jesus Sacramentado. Porque se foi ardentíssima a caridade que obrigou São Paulo a dizer que ia a Jerusalém pregar o Evangelho tendo evidência de que o esperavam os grilhões, as prisões, os cárceres e os trabalhos: qual será o amor que obrigou, não um Apóstolo, senão a um Deus, a deixar na terra seu Corpo, sabendo as inumeráveis afrontas que n'Este adorável Sacramento havia de padecer.
Previu o finíssimo Amante as muitas ofensas, os desacatos execráveis que Lhe haviam de fazer nestes Altares; porém nada O deteve de entregar-Se nas mãos de tão ingratas criaturas. Conheceu que uns Lhe perderiam o respeito nos Templos com as imodéstias, e outros, aos pés de Seus mesmos Santuários, ferir-Lhe-iam o coração com irreverências. Viu que não faltaria quem atravessasse Seu coração com punhais, quem O precipitasse dos mais altos despenhadeiros, e O pisassem com seus pés. Porém nada entibiou Seu amor para apartar-Se da companhia dos homens. São Paulo dizia que não temia os trabalhos, nem ir entregar-se a seus inimigos, porque estava atado a seu espírito e só punha os olhos em acabar a carreira de seu Apostolado. Como, pois, recearia Jesus ficar no Sacramento exposto aos tormentos, se Ele por essência é o próprio amor, que é Seu Espírito?
Mas, permiti-me Vós, ó Divino Redentor, que Vos faça aqui uma pergunta. Vosso Apóstolo não concluíra ainda o caminho de seu ministério, porém Vós não tínheis já terminado felizmente a passo de gigante o curso de vosso amor? Não disséreis na Cruz que tudo estava consumado por meio da morte mais cruel e afrontosa, porquanto podia já descansar Vosso amor? Para que, pois, querer ainda passar por isso no Sacramento? Mas ah! Quão bem definiu o amor aquele que disse que é um círculo dentro de outro círculo, que continuamente gira. Amor est circulus circa circulum perpetuo revolutus. E quem não vê que o amor de Jesus está sempre em um contínuo movimento? Do Céu correu ao Presépio, do Presépio ao Calvário, do Calvário ao Altar, e no Altar ainda corre e ainda padece.
Por essa causa protestou o amante Redentor, que morria com sede de maiores penas. Essa sede em que Ele na Cruz ardia não era outra que de padecer mais pelos homens, pois tinha tanta água no peito que, ao primeiro golpe de uma lança, emanou em grande abundância. Porém essa água causava mais sede no Coração de Jesus, pois como dela e de Seu Sangue se havia de formar Este Sacramento, faziam-n'O mais sedento os tormentos e os agravos que n'Ele havia de padecer.
Depois que Deus criou o homem, descansou; mas depois que o redimiu e passou por ele tantas penas, não repousa. Na Cruz tem fim os tormentos; porém continuam ainda nos Altares. Provou o Redentor as delícias de padecer por nós; e porque depois de morto tornava-se impassível a Sua carne, fica para padecer, mas Sacramentado. Insaciável foi o amor de Jesus em fazer-Lhe penar pelos homens, pois, não satisfeito em vê-l'O Rei dos Mártires no Calvário, martiriza-O ainda no Sacramento, e, escondido debaixo daqueles acidentes, expõe-n'O a uma crueldade.
Mas como não se desfaz de dor nosso coração, considerando as ofensas que faz o mundo ao mais Augusto Mistério de nossa Fé? O pérfido judeu O blasfema, o herege incrédulo O nega, o católico imodesto não O respeita, o Sacerdote irreverente O despreza. Todos esses e muitos mais agravos previu o finíssimo Amante, que as criaturas ingratas haviam de fazer a Seu Corpo Sacramentado. E, não obstante, entregou-O livremente, e com Ele todos os tesouros de Sua Divindade.
Assim é, Almas Católicas. N'Este Pão Angélico vos deu Jesus todo o criado e o incriado. Não pode mais Sua Onipotência, não soube mais Sua Sabedoria, não tiveram mais Seus Tesouros. N'Ele vos deu a fecundidade d'Aquele Eterno Pai Que não tem Pai; Que gera e não é gerado; Que é princípio sem ter origem. N'Ele vos deu Aquele Divino Verbo, por Cuja virtude são feitas todas as coisas, e Ele não é feito por nenhuma, e só no entendimento Paterno é produzida imagem viva e natural de Sua substância. N'Ele vos deu o amoroso Espírito, Que procede do Pai e do mesmo Verbo, e com ambos se identifica perfeitissimamente na mesma natureza. Tudo vo-lo deu Jesus neste Divino Pão, porque n'Ele Se deu a Si mesmo. O dar, diz Tertuliano, é a vida de Deus; porém o dar-se, que entendimento pode haver que o compreenda? Nos outros benefícios que Deus faz ao homem, depois que o criou, sempre lhe deu, mas n'Este inefável Sacramento chegou a dar-Se a Si; deu-Se-lhe como Deus e deu-Se-lhe como homem. Esse foi o maior de todos os dons que podia excogitar Seu amor: dar-Se a Si mesmo, e dar-Se para ser ofendido e ultrajado, ainda quando mais liberal e mais amante se mostra.
Previu o finíssimo Amante as muitas ofensas, os desacatos execráveis que Lhe haviam de fazer nestes Altares; porém nada O deteve de entregar-Se nas mãos de tão ingratas criaturas. Conheceu que uns Lhe perderiam o respeito nos Templos com as imodéstias, e outros, aos pés de Seus mesmos Santuários, ferir-Lhe-iam o coração com irreverências. Viu que não faltaria quem atravessasse Seu coração com punhais, quem O precipitasse dos mais altos despenhadeiros, e O pisassem com seus pés. Porém nada entibiou Seu amor para apartar-Se da companhia dos homens. São Paulo dizia que não temia os trabalhos, nem ir entregar-se a seus inimigos, porque estava atado a seu espírito e só punha os olhos em acabar a carreira de seu Apostolado. Como, pois, recearia Jesus ficar no Sacramento exposto aos tormentos, se Ele por essência é o próprio amor, que é Seu Espírito?
Mas, permiti-me Vós, ó Divino Redentor, que Vos faça aqui uma pergunta. Vosso Apóstolo não concluíra ainda o caminho de seu ministério, porém Vós não tínheis já terminado felizmente a passo de gigante o curso de vosso amor? Não disséreis na Cruz que tudo estava consumado por meio da morte mais cruel e afrontosa, porquanto podia já descansar Vosso amor? Para que, pois, querer ainda passar por isso no Sacramento? Mas ah! Quão bem definiu o amor aquele que disse que é um círculo dentro de outro círculo, que continuamente gira. Amor est circulus circa circulum perpetuo revolutus. E quem não vê que o amor de Jesus está sempre em um contínuo movimento? Do Céu correu ao Presépio, do Presépio ao Calvário, do Calvário ao Altar, e no Altar ainda corre e ainda padece.
Por essa causa protestou o amante Redentor, que morria com sede de maiores penas. Essa sede em que Ele na Cruz ardia não era outra que de padecer mais pelos homens, pois tinha tanta água no peito que, ao primeiro golpe de uma lança, emanou em grande abundância. Porém essa água causava mais sede no Coração de Jesus, pois como dela e de Seu Sangue se havia de formar Este Sacramento, faziam-n'O mais sedento os tormentos e os agravos que n'Ele havia de padecer.
Depois que Deus criou o homem, descansou; mas depois que o redimiu e passou por ele tantas penas, não repousa. Na Cruz tem fim os tormentos; porém continuam ainda nos Altares. Provou o Redentor as delícias de padecer por nós; e porque depois de morto tornava-se impassível a Sua carne, fica para padecer, mas Sacramentado. Insaciável foi o amor de Jesus em fazer-Lhe penar pelos homens, pois, não satisfeito em vê-l'O Rei dos Mártires no Calvário, martiriza-O ainda no Sacramento, e, escondido debaixo daqueles acidentes, expõe-n'O a uma crueldade.
Mas como não se desfaz de dor nosso coração, considerando as ofensas que faz o mundo ao mais Augusto Mistério de nossa Fé? O pérfido judeu O blasfema, o herege incrédulo O nega, o católico imodesto não O respeita, o Sacerdote irreverente O despreza. Todos esses e muitos mais agravos previu o finíssimo Amante, que as criaturas ingratas haviam de fazer a Seu Corpo Sacramentado. E, não obstante, entregou-O livremente, e com Ele todos os tesouros de Sua Divindade.
Assim é, Almas Católicas. N'Este Pão Angélico vos deu Jesus todo o criado e o incriado. Não pode mais Sua Onipotência, não soube mais Sua Sabedoria, não tiveram mais Seus Tesouros. N'Ele vos deu a fecundidade d'Aquele Eterno Pai Que não tem Pai; Que gera e não é gerado; Que é princípio sem ter origem. N'Ele vos deu Aquele Divino Verbo, por Cuja virtude são feitas todas as coisas, e Ele não é feito por nenhuma, e só no entendimento Paterno é produzida imagem viva e natural de Sua substância. N'Ele vos deu o amoroso Espírito, Que procede do Pai e do mesmo Verbo, e com ambos se identifica perfeitissimamente na mesma natureza. Tudo vo-lo deu Jesus neste Divino Pão, porque n'Ele Se deu a Si mesmo. O dar, diz Tertuliano, é a vida de Deus; porém o dar-se, que entendimento pode haver que o compreenda? Nos outros benefícios que Deus faz ao homem, depois que o criou, sempre lhe deu, mas n'Este inefável Sacramento chegou a dar-Se a Si; deu-Se-lhe como Deus e deu-Se-lhe como homem. Esse foi o maior de todos os dons que podia excogitar Seu amor: dar-Se a Si mesmo, e dar-Se para ser ofendido e ultrajado, ainda quando mais liberal e mais amante se mostra.
(Finezas de Jesus Sacramentado para con los hombres, e ingratitudes de los hombres para con Jesus Sacramentado. Escrito en Toscano, y Portugués por el P. F. Juan Joseph de S. Teresa Carmelita Descalzo. y traducido en castellano por D. Iñigo Rosende presbitero. Con licencia. Barcelona: En la Imprenta de los Herederos de Maria Angela Marti, Plaza de S. Jayme, año 1775.)
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