Décima Fineza de Jesus Sacramentado para com os homens.
Jesus Se deixou Sacramentado para ser paupérrimo no mundo.
É deveras Este Augustíssimo Sacramento um abismo infinito no Qual se perde o discurso, descobrindo a cada vez maiores excessos do Divino amor. Seria necessário aqui que eu tivesse uma voz que se ouvisse em todo o mundo, para que chegasse à notícia de todas as criaturas esta maravilhosa fineza de Jesus. Porém não quero declarar o que é tornar-Se paupérrimo n'Este inefável Sacramento, a não ser com as mesmas palavras com que nos fala continuamente naquele Altar: Egenus et pauper sum. Eu estou aqui pobre e necessitado de todas as coisas. Eu, Que semeei as estrelas no céu, vesti os planetas de luzes e enriqueci de pérolas a Eritréia: Eu, Que adorno de flores o campo, crio o ouro nas minas e dou reinos e monarquias aos príncipes, estou aqui reduzido a tanta pobreza que necessito de um pano para Meus Altares, de Corporais para reclinar Meu rosto, mendigo das criaturas um pouco de azeite para Minha Casa. Eu sou a luz do mundo, e todo o Céu não necessita de outro resplendor senão o da Minha Humanidade, que é o Divino Sol que o alumia. E, aqui na terra, apenas arde diante do Meu Corpo uma pequena luz, que, por descuido das criaturas, está toda a noite apagada. É coisa maravilhosa ver o Rei da Glória com tanta pobreza em Sua Casa. Os sagrados vasos, em que reservam Seu adorável Corpo, quantas vezes são feitos de um metal vil. Os cálices em que Se deposita Seu precioso Sangue, tão imundos que muitos teriam asco de beber e brindar com semelhantes taças em suas mesas. Correi essas terras e lugares pequenos da Cristandade, onde se crê e adora Este Augustíssimo Mistério da Fé, e vereis coisas que vos sacarão lágrimas dos olhos. Vereis Igrejas de Católicos mais pobres que os pagodes entre os gentios; Altares menos asseados do que lareiras entre calvinistas: que digo? Achareis estábulos mais limpos do que o que é depósito do Corpo de Jesus.
A esta extrema pobreza reduziu Seu amor o Criador de tudo, n'Este Sacramento. Mas, o que me causa maior assombro, Seu amor Lhe dá tal aparência de pobre que às vezes vemos rodeado de vermes Sua Carne. Quando as Sagradas espécies do Pão começam a corromper-se, é devido à sua natureza que se substitua ali dita substância, na qual se introduza a forma de verme. Não se atreveram esses a chegar ao Corpo de Jesus quando nos três dias esteve sepultado na terra. Mas n'Este amoroso Sacramento, onde dá maiores exemplos de pobreza que no Sepulcro, permite que os vermes se vejam juntos com Sua carne. Nada afligia tanto em sua pobreza ao paciente Jó quanto ver-se por todas as partes rodeado de vermes. Pois, que transmutações tão raras são essas do amor de Jesus? Que invenções tão engenhosas para ir sempre empobrecendo mais por amor das criaturas? Sendo Deus Se faz homem, sendo homem Se disfarça em pão, e as espécies de pão O fazem parecer verme: Vermis sum, et non homo.
Volvei agora os olhos, Católicos, aos palácios dos reis e príncipes da terra. Olhai a suntuosidade de seus adornos, a riqueza de seus gabinetes e a resiliência de suas mesas. Olhai como se empobrece a Índia para enriquecer suas salas, e se desnuda a China para vestir e adornar suas camas. Olhai como ardem aí sem número as chamas, e a cada passo reluzem preciosos artefatos. É esse o albergue de uma pobre criatura, que, por grande que seja, à vista de Jesus é uma sombra que se desfaz. Volvei depois o olhar para a Casa e habitação onde vive o Monarca Sacramentado, para Cujo trono não são dignas o bastante as asas dos Serafins; e percebereis como muitas vezes Lhe falta o decente para celebrar-se o tremendo Sacrifício de Seu Sangue, como carece de um par de velas para Seus Altares, e como, pela suma pobreza, arde uma diminuta vela diante de Sua Majestade. Eu vi na Casa de um poderoso do mundo arder numa sala mil e quinhentas velas de finíssima cera em um sarau. Gasta-se em uma ópera e um baile o que não se gastaria com um Deus. Seu Templo e Seu adorável Corpo Sacramentado passam noites inteiras escuras, e no máximo com uma pobre lâmpada acendida em um rincão de Sua Casa.
Que bem dizia eu, que à pobreza de Jesus Sacramentado nunca houve semelhante no mundo. É verdade que em Seu nascimento padeceu pobreza incrível, porém encontrou os braços de sua amantíssima Mãe, que o envolveram em limpíssimos panos. É verdade que na Cruz morreu o mais necessitado, porém teve um José, que, com um finíssimo sudário, cobriu Sua desnudez. Ver um Belizário, que, depois de governar um Império, mendigava um pedaço de pão pelas ruas, tirava lágrimas dos olhos, que não tinha, para ver suas misérias. Mas ver Jesus Sacramentado tão necessitado em Sua Casa não excita nos poderosos do mundo a compaixão. Bem ouvem as piedosas vozes com que Ele está dizendo daquele Sacrário: Egenus et pauper sum. Mas lá vão seus tesouros para servir suas profanidades, lá gastam suas riquezas para comprazer a seus apetites.
A esta extrema pobreza reduziu Seu amor o Criador de tudo, n'Este Sacramento. Mas, o que me causa maior assombro, Seu amor Lhe dá tal aparência de pobre que às vezes vemos rodeado de vermes Sua Carne. Quando as Sagradas espécies do Pão começam a corromper-se, é devido à sua natureza que se substitua ali dita substância, na qual se introduza a forma de verme. Não se atreveram esses a chegar ao Corpo de Jesus quando nos três dias esteve sepultado na terra. Mas n'Este amoroso Sacramento, onde dá maiores exemplos de pobreza que no Sepulcro, permite que os vermes se vejam juntos com Sua carne. Nada afligia tanto em sua pobreza ao paciente Jó quanto ver-se por todas as partes rodeado de vermes. Pois, que transmutações tão raras são essas do amor de Jesus? Que invenções tão engenhosas para ir sempre empobrecendo mais por amor das criaturas? Sendo Deus Se faz homem, sendo homem Se disfarça em pão, e as espécies de pão O fazem parecer verme: Vermis sum, et non homo.
Volvei agora os olhos, Católicos, aos palácios dos reis e príncipes da terra. Olhai a suntuosidade de seus adornos, a riqueza de seus gabinetes e a resiliência de suas mesas. Olhai como se empobrece a Índia para enriquecer suas salas, e se desnuda a China para vestir e adornar suas camas. Olhai como ardem aí sem número as chamas, e a cada passo reluzem preciosos artefatos. É esse o albergue de uma pobre criatura, que, por grande que seja, à vista de Jesus é uma sombra que se desfaz. Volvei depois o olhar para a Casa e habitação onde vive o Monarca Sacramentado, para Cujo trono não são dignas o bastante as asas dos Serafins; e percebereis como muitas vezes Lhe falta o decente para celebrar-se o tremendo Sacrifício de Seu Sangue, como carece de um par de velas para Seus Altares, e como, pela suma pobreza, arde uma diminuta vela diante de Sua Majestade. Eu vi na Casa de um poderoso do mundo arder numa sala mil e quinhentas velas de finíssima cera em um sarau. Gasta-se em uma ópera e um baile o que não se gastaria com um Deus. Seu Templo e Seu adorável Corpo Sacramentado passam noites inteiras escuras, e no máximo com uma pobre lâmpada acendida em um rincão de Sua Casa.
Que bem dizia eu, que à pobreza de Jesus Sacramentado nunca houve semelhante no mundo. É verdade que em Seu nascimento padeceu pobreza incrível, porém encontrou os braços de sua amantíssima Mãe, que o envolveram em limpíssimos panos. É verdade que na Cruz morreu o mais necessitado, porém teve um José, que, com um finíssimo sudário, cobriu Sua desnudez. Ver um Belizário, que, depois de governar um Império, mendigava um pedaço de pão pelas ruas, tirava lágrimas dos olhos, que não tinha, para ver suas misérias. Mas ver Jesus Sacramentado tão necessitado em Sua Casa não excita nos poderosos do mundo a compaixão. Bem ouvem as piedosas vozes com que Ele está dizendo daquele Sacrário: Egenus et pauper sum. Mas lá vão seus tesouros para servir suas profanidades, lá gastam suas riquezas para comprazer a seus apetites.
(Finezas de Jesus Sacramentado para con los hombres, e ingratitudes de los hombres para con Jesus Sacramentado. Escrito en Toscano, y Portugués por el P. F. Juan Joseph de S. Teresa Carmelita Descalzo. y traducido en castellano por D. Iñigo Rosende presbitero. Con licencia. Barcelona: En la Imprenta de los Herederos de Maria Angela Marti, Plaza de S. Jayme, año 1775.)
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