Sétima Fineza de Jesus Sacramentado para com os homens.
Jesus Se deixou Sacramentado para sempre, e em todas as partes do mundo.
Entre as propriedades do amor, diz Ricardo que a principal é a inseparabilidade, porque tem ele por natureza fazer do amante uma coisa com o amado, assim como eram aqueles dois amigos Jônatas e Davi, dos quais se diz que a Alma de um estava estampada n'Alma do outro. Mas, sendo assim, que amor houve jamais no mundo que não experimentasse em si a espada da divisão? Ou o decurso do tempo, que acaba com todas as coisas, ou a distância dos lugares, ou a desconfiança do amigo, ou a sombra de um desgosto basta para separar os corações mais unidos. Perguntando Carlos VII, Rei da França, a um íntimo amigo seu, o que seria bastante para apartá-lo de sua amizade, respondeu-lhe: Senhor, um só desprezo.
Porém, esta regra não estorva o amor de Jesus Sacramentado. Bem podem passar os séculos, crescer as desconfianças com os homens, os agravos e desprezos das criaturas, sempre Ele nos está a dizer, daquele Sacrário, aqui estou convosco até o fim do mundo: Ecce vobiscum sum usque ad consummationem sæculi. Esplêndido e opulento foi o banquete de Assuero, mas não durou mais do que sete dias. Maior foi o que Deus fez no deserto a seu Povo, porém, no espaço de quarenta anos, acabou-se. Quantos dias, entretanto, quantos anos e quantos séculos são já os que há durado o precioso banquete da Carne e Sangue de Jesus, e quem poderá dizer quantos ainda lhe restam a durar!
Abrasado de amor estava São Paulo quando dizia que nada o poderia apartar da amizade de Jesus. Desafiava as tribulações, a vida, a morte, as profundezas, as distâncias e as alturas, e dizia que a tudo seria seu coração um penhasco imóvel e inexpugnável. Mas quando eu considero aquelas doces palavras do Redentor, com as quais nos promete estar conosco Sacramentado enquanto o mundo for mundo, que conceito posso formar do Seu amor? Aí ouço-O perguntar-nos: o que Me poderia separar de vossa companhia? An vita? Nem a vida que Eu passei tão penosa na terra, nem a que passo tão ultrajado no Sacramento. An mors? Nem a morte que aqui pretendeis dar-Me a cada dia, pondo-Me de novo, quanto está de vossa parte, numa Cruz. An fames? Nem a pobreza que Eu padeço em Minha Casa. Vou mendigando de porta em porta uma gota de azeite para Minhas lâmpadas, uma vela de cera para Meu Altar, necessito de um tecido decente onde reclinar Meu rosto. O que, pois, será o bastante para apartar-Me dos homens? An tribulatio? Nem os olhares impuros, que ferem Meu coração, nem as conversas imodestas, que Me afrontam, nem as sacrílegas irreverências que à Minha vista se cometem. An longitudo? Nem a distância dos tempos em o decurso dos anos, nem a multiplicidade dos séculos. Trocam-se os Impérios, acabam-se as Monarquias, muda mil vezes o mundo, mas, neste Sacrário, Eu sou o mesmo, e Eu não mudo. An altitudo? Eu sou o Unigênito do Altíssimo e Deus de infinita Majestade, Que com um sopro movo as esferas celestes, e com três dedos sustento toda a máquina do Universo. Porém nem toda a Minha grandeza, nem a profundeza, nem a baixeza das criaturas, nem a vileza de sua condição bastará para que, por um só instante, deixe Eu de estar Sacramentado com eles; porque nestes Altares tenho posto para sempre Meu coração: Ponam cor meum ibi cunctis diebus.
Assim, obra conosco um Deus amante. Que ser nosso companheiro até o fim do mundo. Por todas as horas e em todos os momentos, de dia e de noite quer que sempre o encontremos naquele Sacrário. Mas o que mais torna imensa esta fineza de Jesus é que, não só para sempre, senão que em todas as partes e em todos os lugares quer estar conosco Sacramentado. Compadeço-me muito daquele pobre Paralítico, quando leio que, por espaço de trinta e oito anos, jazia em um pórtico, por não poder chegar a uma Piscina, que era a única no mundo, e só em Jerusalém se achava, para remédio de seus males. Mas aqui sente minha Alma ferir-se vivamente pelo amor, quando considero não ter parte alguma da terra onde não se possa encontrar facilmente a saudável Piscina do Sangue de Jesus, único antídoto para a paralisia de nossas culpas. Não há reino, não há província, cidade, terra ou lugar no mundo, onde não esteja ou possa estar este amante Sacramentado. Nos lugares mais humildes, nas cabanas mais pobres, nas campanhas mais desertas O pôs Seu amor. Se entro nos hospitais mais desamparados, se passo pelas ruas mais imundas aí O encontro. Se O busco nos exércitos entre o rumor das armas, aí também O adoro. Finalmente, como se toda a terra não bastasse, se navego pelos mares também navega comigo sobre as ondas o Senhor Sacramentado.
Em todas as partes e a cada passo nos expõe todos os tesouros da Glória. É festejada no mundo a ave Fênix, porque dizem que é única, mas só nasce nos montes da Arábia. Precioso é o ouro, mas a natureza o esconde nas entranhas da terra. Brilhantes são os diamantes, mas estão encerrados nos secretos seios das minas. Só o Corpo de Jesus se acha por todas as partes sem fadiga e sem dispêndio, Aquele adorável Corpo, Que é a única inexplicável pérola engastada no Peito do Divino Verbo.
Ah! Quanto mais liberal e mais amoroso se mostra Deus, agora, com os homens, do que, na Lei antiga, com os israelitas! Então não havia no mundo mais do que um Templo, um Sacrifício e um Sacerdote; e ainda assim, tudo era só uma figura d'Este Sacramento. E agora não há lugar em toda a redondeza da terra onde não se possa não a figura, senão o figurado. Já não é necessário andar perguntando, como a Esposa, onde vive e onde come nosso amado, porque não só ao meio-dia, mas a todas as horas e em todas as partes se manifesta a nossos olhos, e com o Sangue de seu peito, qual Pelicano amoroso, nos alimenta.
Em um só lugar se depositava a Arca do Testamento, e era ditosa a Casa que merecia hospedá-la. Quem não se enternece agora em considerar esta fineza de Jesus? Ele não é a Arca de Deus, mas o mesmo Deus da Arca. Não é a Lei Escrita, mas o próprio Autor da Lei. Não é o Maná figurado, mas o próprio figurado pelo Maná. Não é a Vara de Moisés, senão flor bela do Paraíso, e a cada passo O vemos, encontramo-l'O, comemo-l'O, metemo-l'O em nossos corações. Com Sua Imensidão ocupa Deus todo o Universo; e se houvesse infinitos mundos, achar-Se-ia presente em todos eles. Mas foi tão engenhoso o Seu amor que quis dar também n'Este Sacramento este tão excelente atributo [isto é, Sua Imensidão], de algum modo, também à sua humanidade. E porque quando Ele andava no mundo num só lugar Se achava um Homem-Deus, Sua sabedoria buscou um modo de multiplicadas infinitas vezes as transubstanciações do Pão em Sua Carne, podermos dizer que em todas as partes, e em inumeráveis mundos, se os houvesse, temos em nossa companhia um Deus-Homem.
(Grifos do blog Grupo Santo Tomás de Aquino).
Porém, esta regra não estorva o amor de Jesus Sacramentado. Bem podem passar os séculos, crescer as desconfianças com os homens, os agravos e desprezos das criaturas, sempre Ele nos está a dizer, daquele Sacrário, aqui estou convosco até o fim do mundo: Ecce vobiscum sum usque ad consummationem sæculi. Esplêndido e opulento foi o banquete de Assuero, mas não durou mais do que sete dias. Maior foi o que Deus fez no deserto a seu Povo, porém, no espaço de quarenta anos, acabou-se. Quantos dias, entretanto, quantos anos e quantos séculos são já os que há durado o precioso banquete da Carne e Sangue de Jesus, e quem poderá dizer quantos ainda lhe restam a durar!
Abrasado de amor estava São Paulo quando dizia que nada o poderia apartar da amizade de Jesus. Desafiava as tribulações, a vida, a morte, as profundezas, as distâncias e as alturas, e dizia que a tudo seria seu coração um penhasco imóvel e inexpugnável. Mas quando eu considero aquelas doces palavras do Redentor, com as quais nos promete estar conosco Sacramentado enquanto o mundo for mundo, que conceito posso formar do Seu amor? Aí ouço-O perguntar-nos: o que Me poderia separar de vossa companhia? An vita? Nem a vida que Eu passei tão penosa na terra, nem a que passo tão ultrajado no Sacramento. An mors? Nem a morte que aqui pretendeis dar-Me a cada dia, pondo-Me de novo, quanto está de vossa parte, numa Cruz. An fames? Nem a pobreza que Eu padeço em Minha Casa. Vou mendigando de porta em porta uma gota de azeite para Minhas lâmpadas, uma vela de cera para Meu Altar, necessito de um tecido decente onde reclinar Meu rosto. O que, pois, será o bastante para apartar-Me dos homens? An tribulatio? Nem os olhares impuros, que ferem Meu coração, nem as conversas imodestas, que Me afrontam, nem as sacrílegas irreverências que à Minha vista se cometem. An longitudo? Nem a distância dos tempos em o decurso dos anos, nem a multiplicidade dos séculos. Trocam-se os Impérios, acabam-se as Monarquias, muda mil vezes o mundo, mas, neste Sacrário, Eu sou o mesmo, e Eu não mudo. An altitudo? Eu sou o Unigênito do Altíssimo e Deus de infinita Majestade, Que com um sopro movo as esferas celestes, e com três dedos sustento toda a máquina do Universo. Porém nem toda a Minha grandeza, nem a profundeza, nem a baixeza das criaturas, nem a vileza de sua condição bastará para que, por um só instante, deixe Eu de estar Sacramentado com eles; porque nestes Altares tenho posto para sempre Meu coração: Ponam cor meum ibi cunctis diebus.
Assim, obra conosco um Deus amante. Que ser nosso companheiro até o fim do mundo. Por todas as horas e em todos os momentos, de dia e de noite quer que sempre o encontremos naquele Sacrário. Mas o que mais torna imensa esta fineza de Jesus é que, não só para sempre, senão que em todas as partes e em todos os lugares quer estar conosco Sacramentado. Compadeço-me muito daquele pobre Paralítico, quando leio que, por espaço de trinta e oito anos, jazia em um pórtico, por não poder chegar a uma Piscina, que era a única no mundo, e só em Jerusalém se achava, para remédio de seus males. Mas aqui sente minha Alma ferir-se vivamente pelo amor, quando considero não ter parte alguma da terra onde não se possa encontrar facilmente a saudável Piscina do Sangue de Jesus, único antídoto para a paralisia de nossas culpas. Não há reino, não há província, cidade, terra ou lugar no mundo, onde não esteja ou possa estar este amante Sacramentado. Nos lugares mais humildes, nas cabanas mais pobres, nas campanhas mais desertas O pôs Seu amor. Se entro nos hospitais mais desamparados, se passo pelas ruas mais imundas aí O encontro. Se O busco nos exércitos entre o rumor das armas, aí também O adoro. Finalmente, como se toda a terra não bastasse, se navego pelos mares também navega comigo sobre as ondas o Senhor Sacramentado.
Em todas as partes e a cada passo nos expõe todos os tesouros da Glória. É festejada no mundo a ave Fênix, porque dizem que é única, mas só nasce nos montes da Arábia. Precioso é o ouro, mas a natureza o esconde nas entranhas da terra. Brilhantes são os diamantes, mas estão encerrados nos secretos seios das minas. Só o Corpo de Jesus se acha por todas as partes sem fadiga e sem dispêndio, Aquele adorável Corpo, Que é a única inexplicável pérola engastada no Peito do Divino Verbo.
Ah! Quanto mais liberal e mais amoroso se mostra Deus, agora, com os homens, do que, na Lei antiga, com os israelitas! Então não havia no mundo mais do que um Templo, um Sacrifício e um Sacerdote; e ainda assim, tudo era só uma figura d'Este Sacramento. E agora não há lugar em toda a redondeza da terra onde não se possa não a figura, senão o figurado. Já não é necessário andar perguntando, como a Esposa, onde vive e onde come nosso amado, porque não só ao meio-dia, mas a todas as horas e em todas as partes se manifesta a nossos olhos, e com o Sangue de seu peito, qual Pelicano amoroso, nos alimenta.
Em um só lugar se depositava a Arca do Testamento, e era ditosa a Casa que merecia hospedá-la. Quem não se enternece agora em considerar esta fineza de Jesus? Ele não é a Arca de Deus, mas o mesmo Deus da Arca. Não é a Lei Escrita, mas o próprio Autor da Lei. Não é o Maná figurado, mas o próprio figurado pelo Maná. Não é a Vara de Moisés, senão flor bela do Paraíso, e a cada passo O vemos, encontramo-l'O, comemo-l'O, metemo-l'O em nossos corações. Com Sua Imensidão ocupa Deus todo o Universo; e se houvesse infinitos mundos, achar-Se-ia presente em todos eles. Mas foi tão engenhoso o Seu amor que quis dar também n'Este Sacramento este tão excelente atributo [isto é, Sua Imensidão], de algum modo, também à sua humanidade. E porque quando Ele andava no mundo num só lugar Se achava um Homem-Deus, Sua sabedoria buscou um modo de multiplicadas infinitas vezes as transubstanciações do Pão em Sua Carne, podermos dizer que em todas as partes, e em inumeráveis mundos, se os houvesse, temos em nossa companhia um Deus-Homem.
(Grifos do blog Grupo Santo Tomás de Aquino).
(Finezas de Jesus Sacramentado para con los hombres, e ingratitudes de los hombres para con Jesus Sacramentado. Escrito en Toscano, y Portugués por el P. F. Juan Joseph de S. Teresa Carmelita Descalzo. y traducido en castellano por D. Iñigo Rosende presbitero. Con licencia. Barcelona: En la Imprenta de los Herederos de Maria Angela Marti, Plaza de S. Jayme, año 1775.)
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