.



"Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém."

Pesquisar neste blog

LEITOR - JUNTE-SE A NÓS!!!

domingo, 7 de julho de 2013

CONSIDERAÇÕES PARA OS DIAS DA SEMANA

Desejando eu muito que cada dia façais um pouco de leitura espiritual, e como acho que nem todos podeis ter á mão livros apropriados para isto, apresento-vos aqui sete breves considerações, uma para cada dia da semana, com o fim de servirem aos que não podem ler outros livros deste gênero. Antes de começar a leitura, reze de joelhos esta oração:
"Meu Deus, arrependo-me de todo meu coração de vos ter ofendido; concedei-me a graça de compreender bem as verdades que vou meditar e abrasai-me no vosso amor.Virgem Maria, Mãe de Jesus, Anjo de minha guarda, Santos e Santas do Céu, roguem por mim".


DOMINGO

Fim do homem 


Considera, meu filho, que este teu corpo, esta tua alma te foram dados por Deus, sem nenhum merecimento de tua parte, quanto te criou à Sua imagem. Ele te fez seu filho no Santo Batismo; amou-te e ama-te ainda com ternura de Pai e criou-te para este único fim: para que O ames e O sirvas nesta vida e possas assim ser um dia eternamente feliz com Ele no Céu. 

Não estás, portanto, no mundo somente para gozar, nem para enriquecer, nem para comer, beber e dormir, como os animais; o teu fim é muitíssimo mais nobre e mais sublime; o teu fim é amar e servir ao teu Deus e salvar a tua alma. Se assim fizeres, quantas consolações experimentarás na hora da morte! Mas se não procurares servir a Deus, quantos remorsos terás no fim da vida! As riquezas, os prazeres que buscaste com tanto empenho, somente te servirão para amargurar o teu coração, e, então, conhecerá o mal que tais coisas fizeram à tua alma. 

Meu filho, não queiras de modo algum ser do número daqueles que pensam somente em satisfazer o corpo com atos, conversas e divertimentos maus. Naquela hora extrema, esses se encontrarão em grande perigo de se condenarem eternamente. Um secretário do rei da França expirava dizendo: “Ai de mim! Gastei tanto papel em escrever as cartas do meu príncipe e não usei uma folha para tomar nota dos meus pecados e fazer uma boa confissão!” 

Torna-se ainda maior aos teus olhos a importância deste fim, se consideras que dele depende a tua salvação ou a tua perdição. Se salvas a alma, tudo estará bem e gozarás para sempre; mas se não alcançares isto, perderás alma e corpo, Deus e Paraíso, e serás condenado para sempre. Não imiteis aqueles infelizes que se iludem dizendo: “Cometerei este pecado, mas depois me confessarei”. Não te enganes a ti mesmo desta forma: Deus amaldiçoa a quem peca na esperança do perdão: “Maledictus homo qui peccat in spe”. Lembra-te que todos os que estão no Inferno tinham esperança de emendar-se mais tarde, e, no entanto, se perderam eternamente. Quem sabe se depois terás tempo para confessar-te? Quem te garante que não hajas de morrer logo depois do pecado e que a tua alma não seja precipitada no Inferno? Além disso, que grande loucura não seria ferir-te a ti mesmo na esperança de que o médico te venha depois curar a ferida? Afasta, pois, a enganadora ideia de poderes entregar-te a Deus mais tarde; detesta neste mesmo momento e abandona o pecado, que é o maior de todos os males e que, afastando-te de teu fim, te priva de todos os bens. 

Quero ainda indicar à tua consideração um laço terrível com que o demônio prende e arrasta à perdição tantos cristãos: é deixar que aprendam as coisas da religião, mas não as pratiquem. Eles sabem que foram criados por Deus para amá-lO e servi-lO e, entretanto, com suas obras, parece que buscam somente a própria ruína. Quantas pessoas não vemos nós, neste mundo, que em tudo pensam menos em salvar-se? Se digo a um jovem que frequente os Sacramentos que faça um pouco de oração, responde-me: “Tenho mais que fazer; preciso trabalhar, preciso divertir-me”. Ó infeliz! E acaso não tens uma alma para salvar? 

Por isso, tu, ó jovem cristão, que lês esta consideração: vê lá, não te deixes enganar desta maneira pelo demônio; promete a Deus que tudo o que fizeres ou disseres e pensares no futuro será para o bem da tua alma; porque seria a maior loucura ocupar-te com tanto empenho no que acaba tão depressa e pensar tão pouco na Eternidade, que nunca há de acabar. São Luís poderia ter prazeres, riquezas e honras, mas renunciou a tudo dizendo: “Que me serve tudo isto para a minha eternidade?” – “Quid haec ad aeternitátem?”. Conclui também tu da mesma maneira: “Tenho uma alma; se a perco, perco tudo. Que me vale ganhar o mundo inteiro, se isto for com prejuízo de minha alma?” – “Quid enim pródest hómini, si mundum univérsum lucrétur, ánimae vero suae detriméntum patiátur?”. De que me serve vir a ser um grande homem, um ricaço, adquirir fama de sábio, tornando-me conhecedor de todas as artes e ciências deste mundo, se depois vier a perder a minha alma? De nada te serviria toda a sabedoria de Salomão, se vieres a te perder. 

Dize, pois, assim: “Fui criado por Deus para salvar a minha alma e a quero salvar a todo o custo; quero que, no futuro, o único fim das minhas ações seja amar a Deus e salvar a minha alma. Trata-se de ser ou para sempre feliz ou para sempre infeliz. Perca-se tudo contanto que me salve! Meu Deus, conceda-me o perdão dos meus pecados e fazei que não caia jamais na desgraça de Vos ofender. Ajudai-me com a Vossa santa graça, para que possa fielmente amar-Vos e servir-Vos fielmente no futuro. Maria, minha esperança, intercedei por mim”. 


SEGUNDA FEIRA

O pecado mortal

Ó! Se soubesses, meu filho, o que fazes quando cometes um pecado mortal? Dás as costas àquele Deus que te criou e te cumulou de benefícios; desprezas a Sua graça e a Sua amizade. Quem peca diz com os fatos ao Senhor: “Apartai-Vos de mim, já não quero obedecer-Vos, não Vos quero servir, não Vos quero reconhecer por meu Senhor: ‘Non sérviam’. O meu deus é aquele prazer, aquela vingança, aquele ódio, aquela conversação obscena, aquela blasfêmia”. Poder-se-á imaginar ingratidão mais monstruosa do que esta? Entretanto, meu filho, tudo isto fizeste quando ofendes-te ao teu Senhor. 

Maior ainda se torna esta ingratidão, refletindo que, para pecar, serviste das mesmas coisas que Deus te deu. Ouvidos, olhos, boca, língua, mãos, pés: são todos dons de Deus, e tu deles te serviste para ofendê-lO! Ah! Ouve, pois, o que te diz o Senhor: “Filho, eu te criei do nada; dei-te tudo o que agora tens, fiz-te nascer na verdadeira Religião e receber o Santo Batismo. Podia deixar-te morrer quando estavas no pecado: conservei-te a vida para não te condenar ao Inferno; e tu, esquecido de tantos benefícios, queres servir-te dos meus próprios dons para ofender-Me?”. Quem não se sentirá tomado de profundo pesar por ter feito tamanha injúria a um Deus tão bom, tão benfazejo para conosco, suas criaturas? 

Deves, ainda, considerar que este Deus, embora seja bom e infinitamente misericordioso, todavia fica muito indignado quando O ofendes. Por isso, quanto mais tempo viveres no pecado, tanto mais vais provocando e acumulando a ira de Deus contra ti. Deves, portanto, recear muito que os teus pecados cheguem a tal número que Ele por fim te abandone. “In plenitúdine peccatórum púniet”. Não que isto aconteça por te faltar a Misericórdia divina, mas é que te faltará o tempo para pedir perdão, pois que não merece a misericórdia de Deus quem abusa para ofendê-lO. Com efeito, quantos viveram no pecado na esperança de converter-se e, entretanto, chegou a morte e faltou-lhes o tempo para disporem os negócios da consciências e agora estão eternamente perdidos! Teme que não te venha acontecer a mesma coisa a ti! Depois de tantos pecados que Deus te perdoou, deves com razão recear que, com mais algum pecado mortal, a Ira divina te fulmine e te precipite no Inferno. Dê graças a Deus por ter-te esperado até agora, e toma desde já uma firme resolução dizendo: “Basta, meu Deus; o pouco de vida que ainda me resta não a quero desperdiçar em ofender-Vos; hei de empregá-la em Vos amar e chorar os meus pecados. Arrependo-me de todo o coração. Meu Jesus, quero amar-Vos; dê-me força. Virgem santíssima, Mãe de meu Jesus, ajudai-me. Assim seja”. 


TERÇA FEIRA

A morte

A morte é a separação da alma do corpo, como total abandono das coisas deste mundo. Considera, portanto, meu filho, que a tua alma deverá separar-se do corpo; mas não sabes se a morte te assalta na tua cama, ou durante o trabalho, ou na rua, ou em outra parte. A ruptura de uma veia, um catarro, uma hemorragia, uma febre, uma chaga, uma queda, um terremoto, um raio bastam para te tirar a vida. Isso pode acontecer daqui a um ano, daqui a um mês, a uma semana, a uma hora e, talvez, ao terminar a leitura desta consideração. Quantos se deitaram à noite cheios de saúde e de manhã foram encontrados mortos! Quantos acometidos de algum ataque morreram de repente! E depois para onde foram? Se estava na graça de Deus, felizes deles! Gozarão para sempre. Se, pelo contrário, se achavam em pecado mortal, estão para sempre perdidos. Dizei-me, filho, se tivesses que morrer neste instante, o que seria de tua alma? Ai de ti, se não te manténs sempre preparado! Quem não está hoje preparado para bem morrer, corre grande perigo de morrer mal. 

Embora seja incerto o lugar e incerta a hora de tua morte, é, porém, muito certo que a morte há de vir. Quero esperar que a última hora de tua vida não venha repentinamente ou de modo violento, mas aos poucos e precedida de uma doença comum. Mas há de chegar um dia no qual, estendido numa cama, estarás prestes a passar à eternidade, assistido por um Sacerdote que encomendará tua alma, tendo um crucifixo ao lado e uma vela acesa do outro, e derredor os aparentes que choram. Terás a cabeça dolorida, os embaçados, a língua ressequida, a garganta presa, a respiração ofegante, o sangue a arrefecer, o corpo consumido, o coração aflito. E, logo que a alma expire, o teu corpo vestido de poucos andrajos será a apodrecer em uma cova. Ai os ratos e os vermes roeram todas as tuas carnes e de ti restaram apenas quatros ossos descarnados e um pó nauseabundo. Abri um sepulcro e vê a que ficou reduzido aquele jovem rico, aquele ambicioso, aquele soberbo. Lê com atenção estas linhas, meu filho, e lembra-te que elas se aplicam também a ti igualmente como a todos os demais homens. Agora o demônio, para induzir-te a pecar, procura arrancar-te deste pensamento e levar-te a escusar a tua culpa, dizendo-te não ser enfim tão grande mal aquele prazer, aquela desobediência, aquela omissão da Missa nos domingos; mas na hora da morte descobrir-te-á a gravidade destes e de outros teus pecados, pondo-os diante de ti. E que haverás de fazer tu então, no ponto de te encaminhares para tua Eternidade? Ai de quem se achar em desgraça de Deus naquele momento! 

Considera que do instante da morte depende a tua eterna salvação ou eterna perdição. Nas proximidades da morte, ao avizinhar-se aquela última vez que se fecha a boca, a luz daquela vela, quantas coisas se hão de ver! Duas vezes temos diante de nós uma vela acesa: Quando somos batizados e em ponto de morte; a primeira vez, para conhecermos os preceitos da Lei divina que devemos guardar; a segunda, para que vejamos se os temos cumprido. Por isso, meu filho, a luz dessa vela as de ver se amaste o teu Deus ou se O desprezaste; se honraste o Seu santo Nome ou se O blasfemaste; hás de ver os dias santos profanados, as Missas deixadas, as desobediências aos superiores, os maus exemplos dados aos companheiros; verás aquela soberba, aquele orgulho que te lisonjeava; verás... Mas, ó! Deus!... Tudo verás naquele momento, no qual se abrirá diante de ti o caminho da Eternidade: “Moméntum a quo pendet aéternitas”. Ó! grande, ó! terrível momento, do qual depende uma Eternidade de glória ou de tormentos! Compreendes bem o que te digo? Quero dizer que daquele momento depende ir para o Céu ou para o Inferno; ser para sempre feliz ou para sempre infeliz; para sempre filho de Deus ou para sempre escravo do demônio; para sempre gozar com os Anjos com os Santos no Céu ou gemer e arder para sempre com os condenados no Inferno! 

Teme grandemente pela tua alma e pensa que do viver bem depende uma boa morte e uma Eternidade de glória. Por isso, não difiras por mais tempo e prepara-te desde já para fazer uma boa confissão e dispor bem as coisas da tua consciência, prometendo a Nosso Senhor perdoar os teus inimigos, reparar os escândalos dados, santificar os dias de guarda, cumprir os deveres do teu estado. 

E, agora, põe-te na presença de teu Deus e dize-Lhe de coração: “Meu Deus, desde este momento eu me converto a Vós; amo-Vos, quero amar-Vos e servir-Vos até a morte. Virgem Santíssima, minha Mãe, ajudai-me naquele terrível momento. Jesus, José e Maria, espire em paz entre vós a minha alma”. 


QUARTA FEIRA

O Juízo

O Juízo é a sentença que o Salvador há de pronunciar no fim de nossa vida; sentença com a qual fixará o destino de cada um por toda a Eternidade. Apenas a alma tiver saído do corpo, comparecerá logo perante o supremo Juiz. A primeira coisa que torna este comparecimento terrível à alma do pecador é que a alma se encontrará sozinha na presença de um Deus desprezado, de um Deus que conhece todos os segredos do nosso coração, todos os nossos pensamentos. E que levaremos conosco? Levaremos aquele pouco de bem ou o mal que tivermos feito durante a vida: “Ut réferat unusquísque própria corporis, prout gessit, sive bonum, sive malum”. Não se pode, então, inventar nem escusa nem pretexto nenhum. Santo Agostinho, falando deste tremendo comparecimento, disse: “Quando tu, ó homem, compareceres diante do Criador para seres julgado, terás sobre tua cabeça um Juiz indignado; de um lado os pecados que te acusam; de outro os demônios prontos a executar a condenação; dentro de ti uma consciência que te agita e te atormenta; debaixo de ti um Inferno aberto, pronto a tragar-te. Em tais apertos, para onde irás, para onde fugirás?”. Feliz de ti, ó meu filho, se tiveres feito o bem durante a tua vida. Entretanto, o divino Juiz abrirá os livros da consciência e começará o exame: “Judícium sedit, et livre apérti sunt”. 

Então, dirá aquele Juiz inapelável: “Quem és tu?” – “Sou um Cristão”, responderás. – “Bem”, replicará Ele, “se és Cristão, vamos ver se procedeste como Cristão”. Em seguida, começará a recordar as promessas feitas no Santo Batismo, pelas quais renunciaste ao demônio, ao mundo, à carne; lembrar-te-á as graças que te concedeu, as muitas vezes que recebeste os Sacramentos, as pregações, as instruções, os avisos dos confessores, as correções dos pais: tudo será posto diante de ti. – “Mas tu”, dirá, então, o divino Juiz, “apesar de tantos dons, de tantas graças, Ó!, quão mal correspondestes à tua profissão de cristão! Mal chegando a idade em que apenas começavas a conhecer-Me, começaste a ofender-Me com mentiras, com faltas de respeito na igreja, com desobediências a teus pais e com muitas outras transgressões dos teus deveres. Melhor seria se, com o ocorrer dos anos, tivesses melhorado o teu procedimento; mas não: Justamente com a idade aumentou em ti, infelizmente, também o desprezo à minha Lei. Missas perdidas, profanação dos dias santos, blasfêmias, jejuns não observados, confissões mal feitas, comunhões às vezes sacrílegas, escândalos dados aos companheiros: Eis o que fizeste em vez de servir-Me.” 

Voltar-se-á para o escandaloso, cheio de indignação, dizendo: “Vês aquela alma que caminha pela estrada do pecado? Foste tu, com as tuas conversas imorais, que lhe ensinaste a malícia. Tu, como cristão que és, devias ensinar com o bom exemplo o caminho do Céu aos teus companheiros; pelo contrário, traindo o Meu sangue, lhes ensinaste o caminho da perdição. Vês aquela alma no Inferno? Foste tu com os teus pérfidos conselhos que a arrancaste a Mim para entregá-la ao demônio. Foste tu a causa de sua eterna perdição. Agora pague a tua alma por aquela outra que deitaste a perder com os teus escândalos: “Répetam anima tuam pro anima illíus”. 

Que te parece, meu filho, deste exame? Que te diz a consciência? Estás ainda em tempo, se quiseres; pede a Deus perdão de teus pecados e faze um sincero propósito de não tornar a pecar; começa desde hoje uma vida de bom cristão, preparando-te, assim, um tesouro de boas obras para o dia em que deverás comparecer perante o Tribunal de Jesus Cristo. 

À vista das rigorosas contas que o Juiz supremo exige do pecador, tentará este aduzir alguma escusa a pretexto, dizendo que não sabia que deveria ser submetido a um exame tão rigoroso. Mas receberá esta resposta: “E não ouviste aquele sermão e aquela explicação do catecismo? Não leste naquele livro que Eu haveria de pedir rigorosas contas de tudo?” O infeliz, então, se encomendará a Misericórdia divina; mas a misericórdia não é mais para ele, porque não merece misericórdia quem por tanto tempo dela abusou; e porque na morte termina o tempo da misericórdia. Recomendar-se-á aos Anjos, aos Santos, a Maria Santíssima; e Maria responderá por todos: “Agora e que pedes o meu auxílio? Não me quiseste por Mãe durante a vida e agora já não te quero por filho; já não te conheço”. 

Então, o pecador, não encontrando mais nenhum refúgio, bradará as montanhas, aos rochedos, que o cubram, e eles não se moverão. Invocará o Inferno e vê-lo-á aberto: “Inférius horréndum chãos”. Esse é o momento em que o inexorável Juiz proferirá a tremenda sentença: “filho infiel”, dirá, “para longe de mim. Meu Pai celeste te amaldiçoou: Eu também te amaldiçoo. Vai para o fogo eterno a gemer e sofrer com os demônios por toda a Eternidade: ‘Discédite a me, maledíeti, in ignem aetérnum’.” Aquela alma infeliz, ante de afastar-se para sempre do seu Deus, volverá pela última vez o olhar ao Céu e no auge da desolação dirá: “Adeus, companheiros, adeus amigos que habitais o Reino da glória; adeus, pai, mãe, irmãos, irmãs; vós gozareis para sempre, e eu serei para sempre atormentado. Adeus, meu Anjo da guarda, Anjos e Santos todos do Paraíso: Não vos tornarei a ver jamais. Adeus, ó Salvador, adeus ó Cruz santa, adeus, ó Sangue em vão por mim derramado; não vos tornarei a ver jamais. Desde este momento eu não sou filho de Deus; serei para sempre escravos dos demônios no Inferno”. Então, os demônios, que se tornaram senhores desta alma, arrastando-a e empurrando-a, a farão cair nos seu abismos de torturas, de misérias, de tormentos eternos. 

Meu filho, não receais que tal sentença seja também a tua? Ah! Por amor de Jesus e de Maria, prepara com boas obras uma sentença favorável, e lembra-te que, como é terrível a sentença proferida contra o pecador, igualmente consolador será o convite que há de dirigir Jesus a quem viveu cristãmente. “Vêm”, dirá, “vêm para posse da glória que te preparei. Tu me serviste com fidelidade no breve tempo de tua vida; agora gozarás eternamente: ‘Intra in gáudium Dómine tui’.” 

Meu Jesus, concedei-me a graça de poder ser também eu um desses bem-aventurados. Virgem Santíssima, ajudai-me; protegei-me na vida e na morte e especialmente quando me apresentar ao vosso Filho para ser julgado. 


QUINTA FEIRA

O Inferno

O Inferno é um lugar destinado pela Justiça divina para punir com suplícios eternos os que morrem em pecado mortal. A primeira pena que os condenados sofrem no Inferno é a “pena dos sentidos”, que são atormentados por um fogo que queima horrivelmente, sem nunca diminuir de intensidade. Fogo nos olhos, fogo na boca, fogo em todas as partes. Cada sentido sofre a própria pena: os olhos sofrem pela fumaça e pelas trevas e são aterrados pela vista dos demônios e dos outros condenados. Os ouvidos, dia e noite, só escutam contínuos uivos, prantos e blasfêmias. O olfato sofre enormemente pelo mau cheiro daquele enxofre e pez ardente que o sufoca. A boca é atormentada por sede devoradora e fome canina: “At famem patiéntur ut canes”. O mau rico, no meio daqueles tormentos, ergueu o olhar ao Céu e pediu, como grande graça, uma pequena gota de água para mitigar a aridez de sua língua, e também essa gota de água lhe foi negada. Por isso, aqueles infelizes, requeimados de sede, devorados pelas chamas, atormentados pelo fogo, choram, gritam e se desesperam. “Ó! Inferno, Inferno! Como são infelizes os que caem em teus abismos!” – E Tu, que dizes, meu filho? Se tivesses que morrer neste instante, para onde irias? Se agora não podes conservar um dedo sobre uma pequena chama de vela, se não podes aguentar nenhuma fagulha de fogo na mão sem gritar, como poderás aguentar-te, então, entre aquelas chamas por toda a Eternidade? 

Considera, além disso, meu filho, o remorso que experimenta a consciência dos condenados. Eles padecerão o Inferno na memória, na inteligência, na vontade. Recordarão continuamente o motivo da sua perdição, isto é, por terem querido secundar alguma paixão. Esta lembrança é o verme que nunca morre: “Vermis eórum non móritur”. Recordarão o tempo que Deus lhes deu para evitar a perdição, os bons exemplos dos companheiros, os propósitos feitos e não cumpridos. Pensarão nos sermões ouvidos, nos avisos do confessor, nas boas inspirações para deixar o pecado; e, vendo que já não há remédio, lançarão gritos desesperados. A vontade nada terá do que deseja, e, ao contrário, padecerá todos os males. A inteligência conhecerá, finalmente, o grande bem que perdeu. A alma separada do corpo, ao apresentar-se no Tribunal divino, entrevê a beleza de Deus, conhece toda a Sua bondade, chega quase a contemplar por um instante o esplendor do paraíso, ouve talvez também os cantos harmoniosíssimos dos Anjos e dos Santos. Que dor ver que tudo isso se perdeu para sempre! Quem poderá resistir a tais tormentos? 

Meu filho, tu que agora não te importas de perder o teu Deus e o Paraíso, conhecerás a tua cegueira quando vires tantos companheiros teus, mais ignorantes e mais pobres do que tu, triunfarem e gozarem no Reino dos céus, ao passo que tu serás amaldiçoado por Deus, e serás arremessado para longe daquela Pátria feliz, do gozo do mesmo Deus, da companhia da Santíssima Virgem e dos Santos. Eia, pois, faze penitência, não esperes para quando não houver mais tempo, entrega-te a Deus! Quem sabe se não é este o último chamado, e, se não correspondes, quem sabe se Deus não te abandonará e não te deixará cair naqueles eternos suplícios! “Ó!, meu Jesus, livrai-me do Inferno” – “A poenis inférni, libera me, Dómine!” 


SEXTA FEIRA

A Eternidade das Penas

Considera, meu filho, que se fores para o Inferno, nunca mais dele sairás. Lá se sofrem todas as penas, e todas, eternamente. Passarão cem anos que caíste no Inferno, passarão mil, e o Inferno estará ainda em seu começo; passarão cem mil, cem milhões, passarão milhões de séculos, e o Inferno terá apenas principiado. Se um Anjo levasse aos condenados a notícia que Deus os quer libertar do Inferno depois de passados tantos milhões de séculos quantas são as gotas de água do mar, as folhas das árvores e os grãos de areia da terra, esta notícia lhes causaria a maior satisfação. “É verdade”, diriam, “que devem passar ainda tantos séculos, mas um dia hão de acabar”. Pelo contrário, passarão todos estes séculos e todos os tempos que se possam imaginar e o Inferno estará sempre no princípio. Todos os condenados fariam de boa vontade com Deus o seguinte pacto: “Senhor, aumentai quanto entenderdes este meu suplício; deixai-me nestes tormentos por quanto tempo quiserdes, contanto que me deis a esperança de que um dia hão de acabar”. Mas nada; esta esperança, este termo nunca chegará. 

Se ao menos o pobre condenado pudesse enganar-se a si mesmo e iludir-se dizendo: “Quem sabe, um dia talvez terá Deus piedade de mim e me arrancará deste abismo!” Mas não, nem isto: verá sempre escrita diante de si a sentença de sua eternidade infeliz. Pois então, irá ele dizendo, “todas estas penas, este fogo, estes gritos, nunca mais acabarão para mim?”. “Não”, lhe será respondido, “não, jamais”. “E durarão sempre?”. “Sempre, por toda a eternidade”. Sempre, verá escrito naquelas chamas que queimam: sempre, na ponta das espadas que o transpassam; sempre, naqueles demônios que o atormentam; sempre, naquelas portas eternamente fechadas para ele. “Ó! Eternidade! Ó! Abismo sem fundo! Ó! Mar sem praias! Ó! Caverna sem saída! Quem não tremerá ao pensar em ti? Maldito pecado! Que tremendos suplícios preparas para quem te comete! Ah! nunca mais, nunca mais pecarei durante a minha vida.” 

Mas o que deve encher de pavor é pensar que aquela horrível fornalha está sempre aberta debaixo de teus pés, e que é suficiente um só pecado mortal para lá te fazer cair. Compreendes bem, meu filho, o que estás lendo? Uma pena eterna por um só pecado mortal que cometes com tanta facilidade. Uma blasfêmia, uma profanação dos dia santos, um furto, um ódio, uma palavra, um ato, um pensamento obsceno basta para seres condenado às penas do Inferno. Ó!, meu filho, escuta pois o meu conselho: Se a consciência te acusa de algum pecado, vai depressa confessar-te para começar uma vida boa. Põe em prática todos os meios que te indicar o confessor. Se for necessário, faze uma confissão geral. Promete que hás de fugir das ocasiões perigosas, dos maus companheiros, e se Deus te indicasse até que deves deixar o mundo, segue logo a sua voz. Tudo que se fizer para evitar uma eternidade de tormentos é pouco, é nada: “Nulla nímia secúritas, ubi periclitátur aetérnitas”. (S. Bern.). Ó!, quantos na flor da idade abandonaram o mundo, a pátria, os parentes, e foram viver isolados nas cavernas, nos desertos, alimentando-se somente de pão e água, e até às vezes só de raízes, e tudo isto para evitar o Inferno! E tu que fazes, depois de tantas vezes que mereceste o Inferno com o pecado, que fazes? Lança-te aos pés do teu Deus e dize-Lhe: “Senhor, estou pronto a fazer o que Vós quiserdes; nunca mais hei de pecar em minha vida; já por demais Vos tenho ofendido; mandai-me todos os sofrimentos que quiserdes durante esta vida, contanto que eu possa salvar a minha alma”. 


SÁBADO

O Paraíso

Quanto nos apavora o pensamento e a consideração do Inferno, igualmente nos consola a lembrança do Paraíso, preparado por Deus para todos os que O amam e O servem durante esta vida. Para que possas fazer dele uma ideia, contempla uma noite serena. Como é belo contemplar o céu, com aquela multidão e variedade de estrelas! Umas menores, outras maiores, outras estão prestes a desaparecer. Todas, porém, com boa ordem e segundo a vontade do Seu Criador. Acrescenta a isto a visão de um belo dia, mas de tal forma que o esplendor do sol não ofusque a claridade das estrelas e da lua. Supõe, além disto, ter à mão tudo o que de belo se encontrar no mar, na terra, nos povoados, nas cidades, nos paços dos reis e dos monarcas do mundo inteiro. Acrescenta a isto as bebidas mais delicadas, os alimentos mais saborosos, a música mais doce, a harmonia mais suave. Pois bem: tudo isto junto não é nada em comparação à excelência, aos bens, aos gozos do Paraíso. Ó! como bem merece ser desejado e ardentemente amado aquele lugar onde se goza de todos os bens! O bem-aventurado não poderá deixar de exclamar: “Estou saciado da glória do Senhor” – “Satiábor cum apparúerit glória tua.” 

Considera, além disso, o gozo que inundará a tua alma ao entrares no Paraíso. O encontro, o acolhimento dos amigos; a nobreza, a beleza dos Querubins, dos Serafins, de todos os Anjos e de todos os Santos que aos milhões e milhões louvam o Criador; o Coro dos Apóstolos, a multidão imensa dos Mártires, dos Confessores, das Virgens. Há também um exército enorme de jovens que, por terem conservado a virtude da pureza, cantam a Deus um hino que ninguém mais pode entoar. Ó! quanto gozam naquele Reino os bem-aventurados! Sempre mergulhados na alegria, sem a menor doença, sem desgostos e preocupações que perturbem a sua paz e o seu gozo. 

Considera, além disso, meu filho, que todos os bens até aqui considerados são um nada em comparação ao grande prazer que se experimenta na visão de Deus. Ele alegra os bem-aventurados com o Seu olhar amorável, e derrama no seus corações um mar de delícias. Da mesma forma que o sol ilumina e embeleza o mundo inteiro, assim Deus, com a sua presença, ilumina todo o Paraíso, e enche os seus afortunados habitadores de gozos inefáveis. Nele hás de ver, como em um espelho, todas as coisas; gozarás de todos os prazeres da mente e do coração. São Pedro, no Monto Tabor, por ter visto uma só vez o rosto de Jesus radiante de luz, ficou repleto de tanta doçura que exclamou fora de si: “Senhor, bom é para nós que fiquemos aqui” – “Dómine, bonum est nos hic esse”. E lá teria ficado para sempre. Que prazer não será pois contemplar, não por um instante, mas para sempre, para sempre gozar desse Rosto divino que enleva os Anjos e os Santos e que aformoseia todo o Paraíso! E a beleza e amabilidade de Maria! De que prazer deve também encher o coração do bem-aventurado! Ó! Sim! “Quanto são amáveis os teus tabernáculos, ó Senhor!” – “Quam dilécta tabernácula tua, Dómine virtútum!”. Por isso, os Coros dos Anjos e dos Bem-Aventurados cantam a Sua glória dizendo: “Santo, Santo, Santo é o Deus dos exércitos. A Ele seja dada honra e glória por todos os séculos”. 

Coragem, pois, meu filho; neste mundo terá que sofrer alguma coisa, mas não importa: o prêmio que hás de receber no Céu compensará infinitamente todos os teus sofrimentos. Que consolação não será a tua, quando te encontrares no Céu na companhia dos parentes, dos amigos, dos Santos, dos Bem-aventurados, e exclamares: “Estou salvo, e estarei sempre com Deus” – “Semper cum Dómino érimus”. Então é que hás de abençoar a hora em que abandonaste o pecado, a hora em que fizeste aquela boa Confissão e começaste a frequentar os Sacramentos, o dia em que deixaste os maus companheiros e te entregaste à virtude; e cheio de gratidão te volverás para o teu Deus e cantarás Seus louvores e Sua glória por todos os séculos. Assim seja. 


Trecho do livro "O Jovem Instruído na Prática de Seus Deveres Religiosos" (Parte I) - S. João Bosco.

+
Informe aqui o seu email, para receber nossas publicações:


Delivered by FeedBurner.

Pedido

"Aproveitemos o tempo para santificação nossa e dos nossos parentes e amigos. Solicitem orações, que estaremos rezando juntos, em união de orações aos Sagrados Corações."