MÊS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
(7 anos e 7 quarentenas de indulgência cada dia e uma indulgência plenária no fim.)ORDEM DO EXERCÍCIO COTIDIANO
Invocação do Espírito Santo
Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fieis e acendei neles o fogo do vosso amor.
V. — Enviai o vosso Espírito e tudo será criado.
R. — E renovareis a face da terra.
ORAÇÃO
Deus, que esclarecestes os corações de vossos fieis com as luzes do Espírito Santo, concedei-nos, por esse mesmo Espírito, conhecer e amar o bem e gozar sempre de suas divinas consolações. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém.
Oração preparatória
(100 dias de indulgência — Leão XIII, indulto de 10 de dezembro de 1885).
Senhor Jesus Cristo, unindo-me à divina intenção com que na terra pelo vosso Coração Sacratíssimo rendestes louvores a Deus e ainda agora os rendeis de contínuo e em todo o mundo no Santíssimo Sacramento da Eucaristia até a consumação dos séculos, eu vos ofereço por este dia inteiro, sem exceção de um instante, à imitação do Sagrado Coração da Bem aventurada Maria sempre Virgem Imaculada, todas as minhas intenções e pensamentos, todos os meus afetos e desejos, todas as minhas obras e palavras. Amém.
Lê-se a intenção própria do dia, recitando em sua conformidade um Pai Nosso, Ave Maria e Glória, e a jaculatória: Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais.
Em seguida, a Meditação correspondente ao dia e, depois, a Ladainha do Sagrado Coração.
LADAINHA DO SAGRADO CORAÇÃOSenhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.
Deus Pai dos céus, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós.
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, formado pelo Espirito Santo no seio da Virgem Mãe, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, unido substancialmente ao Verbo de Deus, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, de majestade infinita, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, templo santo de Deus, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, casa de Deus e porta do céu, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, receptáculo de justiça e amor, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, digníssimo de todo o louvor, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, rei e centro de todos os corações, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, no qual estão todos os tesouros da sabedoria e ciência, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, no qual habita toda a plenitude da divindade, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, no qual o Pai celeste põe as suas complacências, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, de cuja plenitude nós todos participamos, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, desejo das colinas eternas, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, paciente e misericordioso, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, rico para todos os que vos invocam, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, fonte de vida e santidade, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, propiciação para os nossos pecados, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, saturado de opróbios, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, atribulado por causa de nossos crimes, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, feito obediente até a morte, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, atravessado pela lança, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, fonte de toda a consolação, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, vítima dos pecadores, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, salvação dos que em vós esperam, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, esperança dos que em vós expiram, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, delícia de todos os Santos, tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.
V. — Jesus, manso e humilde de coração,
R. — Fazei o nosso coração semelhante ao vosso.
ORAÇÃO
Onipotente e sempiterno Deus, olhai para o Coração de vosso diletíssimo Filho e para os louvores e satisfações que ele vos tributa em nome dos pecadores, e àqueles que invocam vossa misericórdia, concedei benigno o perdão, em nome do mesmo Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco vive e reina juntamente com o Espírito Santo por todos os séculos dos séculos. Amém.
Para concluir, a seguinte fórmula de consagração
Recebei, Senhor, minha liberdade inteira. Aceitai a memória, a inteligência e a vontade do vosso servo. Tudo o que tenho ou possuo, vós mo concedestes, e eu vo-lo restituo e entrego inteiramente à vossa vontade para que o empregueis. Dai-me só vosso amor e vossa graça, e serei bastante rico e nada mais vos solicitarei.
(300 dias de indulgência. Leão XIII, Decreto de 28 de maio de 1887).
Doce Coração de Jesus, sede meu amor.
(300 dias — Pio IX).
Doce Coração de Maria, sede a minha salvação.
(300 dias — Pio IX).
DÉCIMO OITAVO DIA
Oremos pelas almas do Purgatório, que são mais amadas pela SS. Virgem. Pai Nosso, Ave Maria, Glória e a jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.
Almas queridas de Jesus, almas muito amadas que Ele vê sofrer, e que, em respeito a sua justiça, ainda não pode livrar!
Estas almas chamam-no, desejam-no, dizem-lhe a cada instante: “Quando vos veremos, Senhor?… E choram menos pelas dores que experimentam que por se verem separadas de Jesus! Parece-me, dizia uma Santa, estar vendo Jesus que estende para mim uma das suas mãos, dizendo-me: “Estas pobres almas devem-me orações, missas mal ouvidas, mortificações, esmolas que deveriam ter feito… Satisfazei por elas”.
Sim, Jesus, quero começar hoje mesmo.
“Darei, de tempos a tempos, uma esmola pelas almas do Purgatório”.
EXEMPLO
Santa Margarida Maria recomendou, vivamente, em suas instruções, o seguinte: “À noite, dareis uma voltinha pelo Purgatório, em companhia do Sagrado Coração, consagrando-lhe tudo o que houverdes feito, e pedindo que se digne aplicar os seus merecimentos às santas almas que padecem. E ao mesmo tempo lhes pedireis também, queiram interpor o seu poder para vos alcançarem a graça de “viver e de morrer no amor e fidelidade ao Sagrado Coração de N. Senhor Jesus Cristo, correspondendo aos seus desejos de resistência”. Noutro escrito que deixou, lê-se: “Numa noite de Quinta-feira Santa, tendo eu alcançado licença para passá-la diante do SS. Sacramento, estive uma parte do tempo como cercada destas almas pobres: e Nosso Senhor disse-me que me dava a elas todo este ano, para lhes fazer todo o bem que pudesse. Desde então, vem elas ter muitas vezes comigo; e não lhes dou outro nome senão o de minhas “amigas penadas”. Eu pedia em favor delas sufrágios e aplicações de Missa dizendo: “Muito mais obrigada vos fico pelo bem que lhes procurais do que se a mim mesma o fizésseis”. Outras vezes, regozijava de terem saído livres pelas orações e penitências que por elas fizera : “Esta manhã, domingo do Bom Pastor, duas das minhas boas amigas que sofrem, vieram dar-me um adeus; porque hoje o soberano Pastor as recebia no seu redil da eternidade, com outras que iam entoando cânticos de alegria que se não podem explicar”. Estes piedosos sentimentos de Sta. Margarida Maria se manifestavam também na mesma época numa Religiosa de alta virtude. Maria vitória da Encarnação, do Convento das Clarissas da Bahia, cuja vida foi escrita pelo arcebispo D. Sebastião Monteiro. Era a santa freira fervorosíssima devota dos mistérios da Paixão de Nosso Senhor e, às sextas-feiras, fazia a via sacra, carregando uma pesada cruz e levando à cabeça uma coroa de espinhos a disciplinar-se de modo que o sangue esguichava sobre as paredes ou corria pelo pavimento; assim, às vezes, a se arrastar de joelhos, ia até o lugar das sepulturas e se prostrava sobre elas orando. Tinha ainda uma particular devoção ao arcanjo S. Miguel como o defensor das almas do Purgatório, para cujo alívio fazia muitos sufrágios e oferecia todas as obras de humildade que praticava. Por isso, escreve o seu ilustre biógrafo, elas a procuravam com toda a confiança: indo, uma vez, altas horas da noite, ao coro fazer oração, ouviu lastimoso gemido de um defunto que, por chegar tarde à igreja, ficara por enterrar : cobrando ânimo, perguntou o que queria, e ele respondeu, pedindo mandasse fazer sufrágios de que muito precisava; satisfez o pedido no dia imediato, e o defunto, mais tarde, veio agradecer-lhe. Uma noite, viu a alma de uma sua serva que lhe falava, quando a companheira que dormia perto, despertando e vendo um clarão em sua cela, ao tempo em que lhe ouvia a voz, gritou assustada, fazendo acordar toda a comunidade. Viu, de •outra vez, a alma da religiosa Madre Luzia, que subia ao céu. De uma feita, acabada a sua oração no coro, retirava.se, mas a cercaram de tal sorte as almas, que ficou a orar até romper a aurora. Como para mostrar que não era isso feito de pura imaginação, permitiu Deus que as almas lhe imprimissem como três dedos de fogo num ombro, e viram-nos várias Religiosas, a quem disse por graça: “As minhas amigas me cauterizaram; não quero mais brinquedos”. Por outro lado, elas lhe faziam carinhos e a serviam: em noite de excessivo calor, uma freira que falava à porta da cela, sentiu uma suavíssima viração e, não podendo explicar, perguntou donde vinha. Madre Vitória respondeu: “São as minhas amigas que me estão abanando”. — “Oh! que consolação é a de ver uma alma em salvação. Veio aqui, nestes dias, uma tão linda e resplandecente, que excedia a luz do sol”. E, valendo-se delas, conseguiu a muitas pessoas acharem o perdido, saberem de pessoas ausentes muito longe ou de coisas futuras que se não poderiam conhecer naturalmente, e curarem-se prestes de moléstias antigas e graves. Madre Vitória morreu em 1715, numa sexta-feira, às 3 horas da tarde, dando-se, nesta ocasião e depois, por muitas vezes, fatos extraordinários que confirmaram a reputação de santidade que já gozava em sua vida, e que tem uma longa e detida comemoração na Crônica da Ordem Seráfica.
Sim, Jesus, eu vos prometo recitar, todos os dias, uma oração ao vosso Sagrado Coração; prometo-vos venerar as piedosas imagens que o representarem à minha devoção; prometo-vos espalhar o conhecimento desta devoção e propagá-la.
Sede a minha fortaleza, a minha alegria, a minha felicidade!
“Farei um ato de consagração ao Coração de Jesus”.
Ao Coração adorável de Jesus dou e consagro o meu corpo e a minha alma, a minha vida, os meus pensamentos, palavras, ações, dores e sofrimentos. Não me tornarei a servir de parte alguma do meu ser, que não seja para o amar, honrar e glorificar.
Tomo-vos, pois, ó divino Coração, por objeto do meu amor, protetor da minha vida, âncora da minha salvação, remédio das minhas inconstâncias, reparador dos meus defeitos, e seguro asilo na hora da morte.
Ó Coração cheio de bondade, sede a minha justificação para com Deus, e apartai de mim a sua justa cólera.
Ponho em vós toda a minha confiança, porquanto receio tudo de minha fraqueza, como tudo espero de vossa bondade. Aniquilai em mim tudo o que vos possa desagradar e resistir; imprimi-vos em meu coração, como um selo sagrado, para que jamais me possa esquecer de vós, e de vós ser separado. Isto vos peço por vossa infinita bondade: que o meu nome se inscreva em vós, que sois o livro da vida, e que façais de mim uma vítima consagrada inteiramente à vossa glória; que desde este momento seja eu abrasado e um dia inteiramente consumido pelas chamas do vosso amor; nisto consiste a minha dita, não tendo outra ambição senão a de morrer em vós e por vós.
Assim seja.
DIA 18
Armelle Nicolas foi uma pobre criada, mas tão admiravelmente exerceu o seu humilde ofício que deixou uma abençoada memória em Campenac, sua terra natal, e mereceu que o chefe da família a que serviu durante sua vida inteira atestasse a seu respeito o seguinte: Deus por uma especial providência no-la deu, logo que me casei, para governar a nossa casa, pois que, sendo minha mulher inexperiente nisso e doente, Armelle a servia, consolava e ajudava carinhosamente assim como a todos da casa, onde muitas vezes havia enfermos e meu filho mais velho sofreu por muito tempo uma aborrecida moléstia em que lhe dispensou ela inexcedíveis cuidados. Atendia a tudo em tempo, e com tanta diligência fazia suas devoções da igreja e suas compras, que mal se percebia que saísse de casa; quando advertia de alguma falta aos companheiros de serviço, era com bondade e paciência tais, que eles a ouviam dóceis e se corrigiam, e em 35 anos que esteve conosco nunca a vi irritada ou impaciente. Educava os meninos com zelo e amor, ensinando-os desde que sabiam falar, a darem seu coração a Deus e fazerem pequenas orações. Até as pessoas de posição que frequentavam o nosso lar, tinham-lhe estima e respeito. Interessava-se por todos os nossos negócios e os recomendava a Deus; num grande processo que sustentei, ela muito me consolava e animava, e às suas orações atribuo em grande parte o triunfo que alcancei. Era enfim uma cristã, em quem não conheci defeito”. Por sua vez o cura de Campenac, após a morte de Armelle, dizia do púlpito: “Desde sua infância deu indícios de uma vida acima do comum. Caracterizava-a uma perfeita caridade com o próximo: não dava lugar a que sua mãe ou os de sua casa fizessem nada de penoso, antecipava-os em tudo quanto era de maior trabalho. Sua devoção à Missa era tal, que desde a idade de 7 anos, enquanto morou em minha paróquia, nunca falhou um só dia, embora morasse longe da igreja. Dava o seu almoço às companheiras para guardarem o seu rebanho, enquanto ela ia assistir ao Santo Sacrifício”. O povo de Campenac, a uma voz, o confirmava, chamando-a todos a boa Armelle. Aos vinte anos, deixou as ocupações do campo e veio procurar trabalho na cidade, para ter mais frequente o ensino e o conforto da religião. “Se meu sangue pudesse valer alguma coisa para o bem das almas, dizia ela, eu o daria todo”. E a seus votos e orações pela conversão dos pecadores juntava um empenho constante com os ricos para que protegessem as obras apostólicas e auxiliassem as missões, sobretudo nas freguesias rurais. Soube-se que muito concorreu para a conversão de pessoas que de há muito viviam escandalosamente no vício. Aplicava as Missas que ouvia e todas as suas boas obras ao alívio das almas do purgatório: “Se eu visse um de meus parentes num braseiro, deixa-lo-ia arder, podendo salvá-lo? Que não devo, pois, fazer para socorrer a meus irmãos no purgatório!” Compadecia-se também vivamente dos pobres e dos enfermos, distribuindo com eles o seu salário e visitando-os com a mais desvelada caridade: a um operário de Vannes que vivia abandonado até da própria esposa, coberto de úlceras que repugnava olhar, ela ia ver todos os dias, levava-lhe o sustento, pensava-lhe as chagas, exortava-o à paciência, e assim o tratou por muito tempo até que ele morreu, bendizendo a Deus de que a houvesse enviado em seu socorro. Não lhe faltaram tentações, e às vezes violentas; porém corria a abrigar-se como uma criança nos braços de seu Pai do céu rogando que lhe não consentisse ofendê-lo, e a tentação cessava. Perguntando-se-lhe, um dia, de que meios se servia para chegar a essa vida exemplar, respondeu que durante vinte anos entregou seu coração a Jesus, e ao cabo destes Jesus lhe abrira o seu. “Eu quero te abrigar em minha casa, me disse Jesus, e, mostrando-me a chaga do seu divino lado, fez-me entrar por aí em seu Coração… E me achei aí encerrada com tanta glória e liberdade que o não podia compreender. Sentia-me ali à vontade, nada me oprimia. Via esse Divino Coração tão infinitamente grande, que mil mundos inteiros não bastariam para enchê-lo. Eu agora, dia e noite, não saio do Coração de Jesus; é um asilo, é meu refúgio contra todos os meus inimigos”. Aconselhada a deixar o serviço doméstico para praticar mais livremente suas devoções, recusou-o, declarando que nessa baixa condição se exercitaria mais na humildade, e, servindo as criaturas, aprenderia a servir a Deus. Num dia da oitava de “Corpus Christi” recebeu o coice de um cavalo, que lhe fraturou a perna; durante mais de um ano, presa ao leito ou cadeira, não ficava ociosa, fazia-se conduzir a um canto da cozinha, e daí dirigia o trabalho ou executava qualquer coisa de útil à casa; e quando lastimavam que se visse privada de praticar como dantes a sua fé e dedicação, acudia logo: “Jesus me ensinou que tudo o que é feito ou suportado por seu amor, é uma verdadeira oração. Por sua graça e sua grande misericórdia, eu estou numa perfeita união com Ele”. Nestes sentimentos e santas disposições morreu aos 65 anos de idade; seu amo determinou que se lhe fizesse o enterro como o de uma sua filha, e, mandando que se lhe não cobrissem os pés, foi de joelhos beijá-los. Foi uma procissão de todo o povo de Campenac o seu préstito fúnebre, e sua sepultura, diz quem lhe historiou a vida, é visitada por muitos, a lhe pedirem graças ou agradecê-las.
O quarto desejo do Coração de Jesus
é o livramento das almas do Purgatório
Almas queridas de Jesus, almas muito amadas que Ele vê sofrer, e que, em respeito a sua justiça, ainda não pode livrar!
Estas almas chamam-no, desejam-no, dizem-lhe a cada instante: “Quando vos veremos, Senhor?… E choram menos pelas dores que experimentam que por se verem separadas de Jesus! Parece-me, dizia uma Santa, estar vendo Jesus que estende para mim uma das suas mãos, dizendo-me: “Estas pobres almas devem-me orações, missas mal ouvidas, mortificações, esmolas que deveriam ter feito… Satisfazei por elas”.
Sim, Jesus, quero começar hoje mesmo.
“Darei, de tempos a tempos, uma esmola pelas almas do Purgatório”.
EXEMPLO
Santa Margarida Maria recomendou, vivamente, em suas instruções, o seguinte: “À noite, dareis uma voltinha pelo Purgatório, em companhia do Sagrado Coração, consagrando-lhe tudo o que houverdes feito, e pedindo que se digne aplicar os seus merecimentos às santas almas que padecem. E ao mesmo tempo lhes pedireis também, queiram interpor o seu poder para vos alcançarem a graça de “viver e de morrer no amor e fidelidade ao Sagrado Coração de N. Senhor Jesus Cristo, correspondendo aos seus desejos de resistência”. Noutro escrito que deixou, lê-se: “Numa noite de Quinta-feira Santa, tendo eu alcançado licença para passá-la diante do SS. Sacramento, estive uma parte do tempo como cercada destas almas pobres: e Nosso Senhor disse-me que me dava a elas todo este ano, para lhes fazer todo o bem que pudesse. Desde então, vem elas ter muitas vezes comigo; e não lhes dou outro nome senão o de minhas “amigas penadas”. Eu pedia em favor delas sufrágios e aplicações de Missa dizendo: “Muito mais obrigada vos fico pelo bem que lhes procurais do que se a mim mesma o fizésseis”. Outras vezes, regozijava de terem saído livres pelas orações e penitências que por elas fizera : “Esta manhã, domingo do Bom Pastor, duas das minhas boas amigas que sofrem, vieram dar-me um adeus; porque hoje o soberano Pastor as recebia no seu redil da eternidade, com outras que iam entoando cânticos de alegria que se não podem explicar”. Estes piedosos sentimentos de Sta. Margarida Maria se manifestavam também na mesma época numa Religiosa de alta virtude. Maria vitória da Encarnação, do Convento das Clarissas da Bahia, cuja vida foi escrita pelo arcebispo D. Sebastião Monteiro. Era a santa freira fervorosíssima devota dos mistérios da Paixão de Nosso Senhor e, às sextas-feiras, fazia a via sacra, carregando uma pesada cruz e levando à cabeça uma coroa de espinhos a disciplinar-se de modo que o sangue esguichava sobre as paredes ou corria pelo pavimento; assim, às vezes, a se arrastar de joelhos, ia até o lugar das sepulturas e se prostrava sobre elas orando. Tinha ainda uma particular devoção ao arcanjo S. Miguel como o defensor das almas do Purgatório, para cujo alívio fazia muitos sufrágios e oferecia todas as obras de humildade que praticava. Por isso, escreve o seu ilustre biógrafo, elas a procuravam com toda a confiança: indo, uma vez, altas horas da noite, ao coro fazer oração, ouviu lastimoso gemido de um defunto que, por chegar tarde à igreja, ficara por enterrar : cobrando ânimo, perguntou o que queria, e ele respondeu, pedindo mandasse fazer sufrágios de que muito precisava; satisfez o pedido no dia imediato, e o defunto, mais tarde, veio agradecer-lhe. Uma noite, viu a alma de uma sua serva que lhe falava, quando a companheira que dormia perto, despertando e vendo um clarão em sua cela, ao tempo em que lhe ouvia a voz, gritou assustada, fazendo acordar toda a comunidade. Viu, de •outra vez, a alma da religiosa Madre Luzia, que subia ao céu. De uma feita, acabada a sua oração no coro, retirava.se, mas a cercaram de tal sorte as almas, que ficou a orar até romper a aurora. Como para mostrar que não era isso feito de pura imaginação, permitiu Deus que as almas lhe imprimissem como três dedos de fogo num ombro, e viram-nos várias Religiosas, a quem disse por graça: “As minhas amigas me cauterizaram; não quero mais brinquedos”. Por outro lado, elas lhe faziam carinhos e a serviam: em noite de excessivo calor, uma freira que falava à porta da cela, sentiu uma suavíssima viração e, não podendo explicar, perguntou donde vinha. Madre Vitória respondeu: “São as minhas amigas que me estão abanando”. — “Oh! que consolação é a de ver uma alma em salvação. Veio aqui, nestes dias, uma tão linda e resplandecente, que excedia a luz do sol”. E, valendo-se delas, conseguiu a muitas pessoas acharem o perdido, saberem de pessoas ausentes muito longe ou de coisas futuras que se não poderiam conhecer naturalmente, e curarem-se prestes de moléstias antigas e graves. Madre Vitória morreu em 1715, numa sexta-feira, às 3 horas da tarde, dando-se, nesta ocasião e depois, por muitas vezes, fatos extraordinários que confirmaram a reputação de santidade que já gozava em sua vida, e que tem uma longa e detida comemoração na Crônica da Ordem Seráfica.
CONSAGRAÇÃO AO CORAÇÃO DE JESUS
Sim, Jesus, eu vos prometo recitar, todos os dias, uma oração ao vosso Sagrado Coração; prometo-vos venerar as piedosas imagens que o representarem à minha devoção; prometo-vos espalhar o conhecimento desta devoção e propagá-la.
Sede a minha fortaleza, a minha alegria, a minha felicidade!
“Farei um ato de consagração ao Coração de Jesus”.
Ao Coração adorável de Jesus dou e consagro o meu corpo e a minha alma, a minha vida, os meus pensamentos, palavras, ações, dores e sofrimentos. Não me tornarei a servir de parte alguma do meu ser, que não seja para o amar, honrar e glorificar.
Tomo-vos, pois, ó divino Coração, por objeto do meu amor, protetor da minha vida, âncora da minha salvação, remédio das minhas inconstâncias, reparador dos meus defeitos, e seguro asilo na hora da morte.
Ó Coração cheio de bondade, sede a minha justificação para com Deus, e apartai de mim a sua justa cólera.
Ponho em vós toda a minha confiança, porquanto receio tudo de minha fraqueza, como tudo espero de vossa bondade. Aniquilai em mim tudo o que vos possa desagradar e resistir; imprimi-vos em meu coração, como um selo sagrado, para que jamais me possa esquecer de vós, e de vós ser separado. Isto vos peço por vossa infinita bondade: que o meu nome se inscreva em vós, que sois o livro da vida, e que façais de mim uma vítima consagrada inteiramente à vossa glória; que desde este momento seja eu abrasado e um dia inteiramente consumido pelas chamas do vosso amor; nisto consiste a minha dita, não tendo outra ambição senão a de morrer em vós e por vós.
Assim seja.
DIA 18
Armelle Nicolas foi uma pobre criada, mas tão admiravelmente exerceu o seu humilde ofício que deixou uma abençoada memória em Campenac, sua terra natal, e mereceu que o chefe da família a que serviu durante sua vida inteira atestasse a seu respeito o seguinte: Deus por uma especial providência no-la deu, logo que me casei, para governar a nossa casa, pois que, sendo minha mulher inexperiente nisso e doente, Armelle a servia, consolava e ajudava carinhosamente assim como a todos da casa, onde muitas vezes havia enfermos e meu filho mais velho sofreu por muito tempo uma aborrecida moléstia em que lhe dispensou ela inexcedíveis cuidados. Atendia a tudo em tempo, e com tanta diligência fazia suas devoções da igreja e suas compras, que mal se percebia que saísse de casa; quando advertia de alguma falta aos companheiros de serviço, era com bondade e paciência tais, que eles a ouviam dóceis e se corrigiam, e em 35 anos que esteve conosco nunca a vi irritada ou impaciente. Educava os meninos com zelo e amor, ensinando-os desde que sabiam falar, a darem seu coração a Deus e fazerem pequenas orações. Até as pessoas de posição que frequentavam o nosso lar, tinham-lhe estima e respeito. Interessava-se por todos os nossos negócios e os recomendava a Deus; num grande processo que sustentei, ela muito me consolava e animava, e às suas orações atribuo em grande parte o triunfo que alcancei. Era enfim uma cristã, em quem não conheci defeito”. Por sua vez o cura de Campenac, após a morte de Armelle, dizia do púlpito: “Desde sua infância deu indícios de uma vida acima do comum. Caracterizava-a uma perfeita caridade com o próximo: não dava lugar a que sua mãe ou os de sua casa fizessem nada de penoso, antecipava-os em tudo quanto era de maior trabalho. Sua devoção à Missa era tal, que desde a idade de 7 anos, enquanto morou em minha paróquia, nunca falhou um só dia, embora morasse longe da igreja. Dava o seu almoço às companheiras para guardarem o seu rebanho, enquanto ela ia assistir ao Santo Sacrifício”. O povo de Campenac, a uma voz, o confirmava, chamando-a todos a boa Armelle. Aos vinte anos, deixou as ocupações do campo e veio procurar trabalho na cidade, para ter mais frequente o ensino e o conforto da religião. “Se meu sangue pudesse valer alguma coisa para o bem das almas, dizia ela, eu o daria todo”. E a seus votos e orações pela conversão dos pecadores juntava um empenho constante com os ricos para que protegessem as obras apostólicas e auxiliassem as missões, sobretudo nas freguesias rurais. Soube-se que muito concorreu para a conversão de pessoas que de há muito viviam escandalosamente no vício. Aplicava as Missas que ouvia e todas as suas boas obras ao alívio das almas do purgatório: “Se eu visse um de meus parentes num braseiro, deixa-lo-ia arder, podendo salvá-lo? Que não devo, pois, fazer para socorrer a meus irmãos no purgatório!” Compadecia-se também vivamente dos pobres e dos enfermos, distribuindo com eles o seu salário e visitando-os com a mais desvelada caridade: a um operário de Vannes que vivia abandonado até da própria esposa, coberto de úlceras que repugnava olhar, ela ia ver todos os dias, levava-lhe o sustento, pensava-lhe as chagas, exortava-o à paciência, e assim o tratou por muito tempo até que ele morreu, bendizendo a Deus de que a houvesse enviado em seu socorro. Não lhe faltaram tentações, e às vezes violentas; porém corria a abrigar-se como uma criança nos braços de seu Pai do céu rogando que lhe não consentisse ofendê-lo, e a tentação cessava. Perguntando-se-lhe, um dia, de que meios se servia para chegar a essa vida exemplar, respondeu que durante vinte anos entregou seu coração a Jesus, e ao cabo destes Jesus lhe abrira o seu. “Eu quero te abrigar em minha casa, me disse Jesus, e, mostrando-me a chaga do seu divino lado, fez-me entrar por aí em seu Coração… E me achei aí encerrada com tanta glória e liberdade que o não podia compreender. Sentia-me ali à vontade, nada me oprimia. Via esse Divino Coração tão infinitamente grande, que mil mundos inteiros não bastariam para enchê-lo. Eu agora, dia e noite, não saio do Coração de Jesus; é um asilo, é meu refúgio contra todos os meus inimigos”. Aconselhada a deixar o serviço doméstico para praticar mais livremente suas devoções, recusou-o, declarando que nessa baixa condição se exercitaria mais na humildade, e, servindo as criaturas, aprenderia a servir a Deus. Num dia da oitava de “Corpus Christi” recebeu o coice de um cavalo, que lhe fraturou a perna; durante mais de um ano, presa ao leito ou cadeira, não ficava ociosa, fazia-se conduzir a um canto da cozinha, e daí dirigia o trabalho ou executava qualquer coisa de útil à casa; e quando lastimavam que se visse privada de praticar como dantes a sua fé e dedicação, acudia logo: “Jesus me ensinou que tudo o que é feito ou suportado por seu amor, é uma verdadeira oração. Por sua graça e sua grande misericórdia, eu estou numa perfeita união com Ele”. Nestes sentimentos e santas disposições morreu aos 65 anos de idade; seu amo determinou que se lhe fizesse o enterro como o de uma sua filha, e, mandando que se lhe não cobrissem os pés, foi de joelhos beijá-los. Foi uma procissão de todo o povo de Campenac o seu préstito fúnebre, e sua sepultura, diz quem lhe historiou a vida, é visitada por muitos, a lhe pedirem graças ou agradecê-las.
Mês do Sagrado Coração de Jesus. Mons. Dr. José Basílio Pereira. Editora Mensageiro da Fé. Fortaleza. 1962. Fonte.
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