MÊS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
(7 anos e 7 quarentenas de indulgência cada dia e uma indulgência plenária no fim.)ORDEM DO EXERCÍCIO COTIDIANO
Invocação do Espírito Santo
Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fieis e acendei neles o fogo do vosso amor.
V. — Enviai o vosso Espírito e tudo será criado.
R. — E renovareis a face da terra.
ORAÇÃO
Deus, que esclarecestes os corações de vossos fieis com as luzes do Espírito Santo, concedei-nos, por esse mesmo Espírito, conhecer e amar o bem e gozar sempre de suas divinas consolações. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém.
Oração preparatória
(100 dias de indulgência — Leão XIII, indulto de 10 de dezembro de 1885).
Senhor Jesus Cristo, unindo-me à divina intenção com que na terra pelo vosso Coração Sacratíssimo rendestes louvores a Deus e ainda agora os rendeis de contínuo e em todo o mundo no Santíssimo Sacramento da Eucaristia até a consumação dos séculos, eu vos ofereço por este dia inteiro, sem exceção de um instante, à imitação do Sagrado Coração da Bem aventurada Maria sempre Virgem Imaculada, todas as minhas intenções e pensamentos, todos os meus afetos e desejos, todas as minhas obras e palavras. Amém.
Lê-se a intenção própria do dia, recitando em sua conformidade um Pai Nosso, Ave Maria e Glória, e a jaculatória: Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais.
Em seguida, a Meditação correspondente ao dia e, depois, a Ladainha do Sagrado Coração.
LADAINHA DO SAGRADO CORAÇÃOSenhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, ouvi-nos.
Jesus Cristo, atendei-nos.
Deus Pai dos céus, tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo, tende piedade de nós.
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, Filho do Pai Eterno, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, formado pelo Espirito Santo no seio da Virgem Mãe, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, unido substancialmente ao Verbo de Deus, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, de majestade infinita, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, templo santo de Deus, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, tabernáculo do Altíssimo, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, casa de Deus e porta do céu, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, receptáculo de justiça e amor, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, abismo de todas as virtudes, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, digníssimo de todo o louvor, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, rei e centro de todos os corações, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, no qual estão todos os tesouros da sabedoria e ciência, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, no qual habita toda a plenitude da divindade, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, no qual o Pai celeste põe as suas complacências, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, de cuja plenitude nós todos participamos, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, desejo das colinas eternas, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, paciente e misericordioso, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, rico para todos os que vos invocam, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, fonte de vida e santidade, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, propiciação para os nossos pecados, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, saturado de opróbios, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, atribulado por causa de nossos crimes, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, feito obediente até a morte, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, atravessado pela lança, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, fonte de toda a consolação, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, nossa vida e ressurreição, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, nossa paz e reconciliação, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, vítima dos pecadores, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, salvação dos que em vós esperam, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, esperança dos que em vós expiram, tende piedade de nós.
Coração de Jesus, delícia de todos os Santos, tende piedade de nós.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.
V. — Jesus, manso e humilde de coração,
R. — Fazei o nosso coração semelhante ao vosso.
ORAÇÃO
Onipotente e sempiterno Deus, olhai para o Coração de vosso diletíssimo Filho e para os louvores e satisfações que ele vos tributa em nome dos pecadores, e àqueles que invocam vossa misericórdia, concedei benigno o perdão, em nome do mesmo Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco vive e reina juntamente com o Espírito Santo por todos os séculos dos séculos. Amém.
Para concluir, a seguinte fórmula de consagração
Recebei, Senhor, minha liberdade inteira. Aceitai a memória, a inteligência e a vontade do vosso servo. Tudo o que tenho ou possuo, vós mo concedestes, e eu vo-lo restituo e entrego inteiramente à vossa vontade para que o empregueis. Dai-me só vosso amor e vossa graça, e serei bastante rico e nada mais vos solicitarei.
(300 dias de indulgência. Leão XIII, Decreto de 28 de maio de 1887).
Doce Coração de Jesus, sede meu amor.
(300 dias — Pio IX).
Doce Coração de Maria, sede a minha salvação.
(300 dias — Pio IX).
VIGÉSIMO DIA
Oremos pelas almas que resistem à graça. Pai Nosso, Ave Maria, Glória e a jaculatória: “Coração de Jesus, que tanto nos amais, fazei que vos amemos cada dia mais”.
A alma inocente é morada de Deus, e pela sagrada Comunhão torna-se a habitação particular de Jesus Cristo… aí Jesus Cristo está “em casa”, e encontra suas delícias; aí quer ficar… Ora cometer um pecado mortal, conservá-lo voluntariamente, é admitir o demônio dentro d’alma, constituí-lo Senhor no lugar de Jesus que sai então expulso, ignominiosamente…
Pobre Jesus! Fica ele então à porta da alma pecadora; bate a essa porta que lhe cerraram, pede para entrar e ouve um espantoso grito dos Judeus: “Não! não! não é a vós que eu quero, mas ao meu pecado!” — Oh! se vos julgais em estado de pecado mortal, ide, ide já confessar-vos.
“Uma oração pelos pecadores”.
EXEMPLO
A piedade, como diz a Sagrada Escritura, é útil a tudo. Isto se vê até no êxito admirável de tantas pequenas indústrias que o amor de Deus sugere aos seus servos para fazerem o bem e lhe ganharem as almas. Em 1891, na escola católica da Ilha de Tine, do arquipélago grego, foi colocado sob a imagem de Nosso Senhor um coração “cheio de espinhos”, tendo o direito de cada tarde, no mês de junho, tirar desse coração um espinho o aluno que houvesse procedido melhor; tal foi a porfia entre eles por uma conduta exemplar que tornou um espetáculo de edificação à escola, podendo dizer-se que o Sagrado Coração era aí, todo o dia, coberto das mais belas flores d’alma por aquela piedosa turba infantil.
O colégio congreganista de Negapatan, no Indostão, em 1869, instituía a prática seguinte: no começo do mês, cada aluno traçava numa folha de papel tantas linhas perpendiculares quantos os dias do mês e à margem de uma série de linhas horizontais, registrava as espécies de boas obras que se poderiam aplicar, escrevendo no fim de cada dia, na coluna e lugar correspondentes, o número dos atos de virtude que praticara. Ao fim de um mês, entregavam-se todas as listas ao Diretor do Apostolado da Oração, sem nenhuma indicação nominal, para que só de Deus fosse conhecido o esforço e mérito de cada um; e o Diretor, somando o resultado em relação a cada espécie de boas obras, na conferência mensal publicava o balanço do “Tesouro do Coração de Jesus”.
O Pe. Eraud, noticiando o fato, considera-o a causa principal dos progressos que na instrução e na vida cristã fazem os alunos dos estabelecimentos, alguns dos quais ainda recentemente se haviam distinguido em difíceis provas a que se submeteram na universidade de Madras.
Sim, Jesus, eu vos prometo recitar, todos os dias, uma oração ao vosso Sagrado Coração; prometo-vos venerar as piedosas imagens que o representarem à minha devoção; prometo-vos espalhar o conhecimento desta devoção e propagá-la.
Sede a minha fortaleza, a minha alegria, a minha felicidade!
“Farei um ato de consagração ao Coração de Jesus”.
Ao Coração adorável de Jesus dou e consagro o meu corpo e a minha alma, a minha vida, os meus pensamentos, palavras, ações, dores e sofrimentos. Não me tornarei a servir de parte alguma do meu ser, que não seja para o amar, honrar e glorificar.
Tomo-vos, pois, ó divino Coração, por objeto do meu amor, protetor da minha vida, âncora da minha salvação, remédio das minhas inconstâncias, reparador dos meus defeitos, e seguro asilo na hora da morte.
Ó Coração cheio de bondade, sede a minha justificação para com Deus, e apartai de mim a sua justa cólera.
Ponho em vós toda a minha confiança, porquanto receio tudo de minha fraqueza, como tudo espero de vossa bondade. Aniquilai em mim tudo o que vos possa desagradar e resistir; imprimi-vos em meu coração, como um selo sagrado, para que jamais me possa esquecer de vós, e de vós ser separado. Isto vos peço por vossa infinita bondade: que o meu nome se inscreva em vós, que sois o livro da vida, e que façais de mim uma vítima consagrada inteiramente à vossa glória; que desde este momento seja eu abrasado e um dia inteiramente consumido pelas chamas do vosso amor; nisto consiste a minha dita, não tendo outra ambição senão a de morrer em vós e por vós.
Assim seja.
DIA 20
Garcia Moreno, o heroico presidente da República do Equador, desde menino revelou um talento não comum e adquiriu uma vontade enérgica e firme. Cedo a pobreza se assentou em seu lar, sendo preciso que sua própria mãe ministrasse ao órfão o ensino primário. Passou depois a estudar humanidades com um sábio Religioso da Ordem de Nossa Senhora das Mercês, que se afeiçoou vivamente ao discípulo, por sua constante aplicação e a facilidade e rapidez, com que tudo aprendia. Acabado este tirocínio, o jovem resolveu, ainda através de todas as privações, ir cursar a Universidade, e também nesta circunstância lhe valeu o Religioso, recomendando-o a duas irmãs suas residentes em Quito, que, embora pobres, o acolheram. Aí entregou-se com ardor aos estudos, que estendia até a noite alta e reatava, madrugando; mas em compensação dos labores conquistava o primeiro lugar nas aulas e se fazia querido e respeitado por mestres e condiscípulos. Aos vinte anos, os salões de Quito abriam-se ao pobre que tanto se distinguia, e ele se deixou seduzir um momento pelas festas do mundo, mas logo reagiu, e, cortando rente os cabelos como se fora um monge, orou e disse, levantando-se: “A vida é muito curta para se gastar sequer um dia em futilidades. Agora, serei mais fiel a meus livros”. Pensou então em abraçar o sacerdócio, e chegou a receber a tonsura e ordens menores, mas ou por sua sede insaciável de saber, que parece querer lançar-se a tudo, ou por desígnios da Providência que traçavam outros combates, diplomou-se em direito, dando-se primeiro à advocacia, que abandonou pelo desgosto de ter defendido uma causa que conheceu mais tarde ser injusta. Com um sábio estrangeiro, expondo por vezes a vida, fez cuidadosas explorações do grande vulcão de Quito, das quais apresentou substanciosas memórias que as revistas científicas publicaram. Assentou por fim a sua tenda no jornalismo e na carreira política, votando-se à obra da restauração dos princípios cristãos nas instituições públicas de seu país. Nessa campanha, vibrou a sua brilhante “Defesa dos jesuítas”, demonstrando que a perseguição a esses Padres em Nova Granada, no Equador, em todo o mundo, tinha por alvo a própria fé e o bem que eles faziam; concluía assim: “Chamar-me-ão fanático, porque empreguei meu tempo em traçar esta defesa, mas isto pouco me importa. Sou católico e me ufano de o ser, conquanto não me conte como um dos mais fervorosos. Cristão e patriota, não me posso calar sobre uma questão que afeta no mais alto grau a religião e a pátria”. Mas, se na verdade esqueceu por algum tempo certos deveres de cristão, sua consciência despertou, diligente e humilde, quando interrogada. Um dia, em Paris, onde Moreno se abrigara contra as graves ameaças dos que dominavam no Equador, defenderam em sua presença o ato de um infeliz que à hora da morte recusara os sacramentos; ele rebateu, fazendo ver que, se o esquecimento do dever religioso, no curso da vida, pode quiçá escusar-se pela irreflexão humana e multiplicidade de negócios que desafiam a atenção, à hora da morte, em que se decidem os interesses eternos, o desprezo da religião é uma coisa monstruosa; e dissertou calorosa e brilhantemente sobre a sublimidade da fé. O contendor, não podendo retorquir vantajosamente, achou esta saída: “Mas, vós mesmo vos descuidais de praticar a bela religião que pregais; desde quando não vos confessais?” Garcia Moreno curva a cabeça um instante, e, erguendo-a logo, exclamou: “Obrigado, amigo, respondestes com um argumento pessoal, que vos pode parecer hoje excelente, mas que amanhã nada valerá;” e no mesmo dia confessava-se, reatando na manhã seguinte a prática regular e fiel de seus deveres cristãos. Eleito reitor da Universidade pelo corpo docente, voltou a dar combate aos abusos do poder, ganhando tanto a confiança dos seus concidadãos, que lhe deram o voto sucessivamente para os mais altos cargos e na convenção nacional de 1861 o elegeram Presidente da República. Viu-se então restabelecida no país a ordem; o ensino cristão propagou-se, recebendo o concurso das instruções religiosas da Europa mais altos cargos e na convenção nacional de asilos e hospitais; e celebrou-se a concordata com a Santa Sé, dando ação livre à Igreja em seu ministério. Garcia tinha sobre sua mesa de trabalho, como a inspirá-lo e guardá-lo, uma imagem do Sagrado Coração. Completo o quadriênio do governo, deixava-o por entre ovações do povo que em 1869 o reconduzia à presidência. Neste segundo período presidencial obteve que o Congresso reformasse a Constituição, moldando-a pelos genuínos princípios cristãos, e por atos oficiais consagrou a República ao Sagrado Coração de Jesus. “É preciso, porém, dizia ele neste ato, que o povo se purifique no Sangue divino, para que a oferenda seja digna”. Na última página de um livro da “Imitação” de que usava, achou-se escrito por seu punho: “Todas as manhãs, na oração, pedirei particularmente a virtude da humildade; assistirei à Missa, recitarei o rosário, e lerei um capítulo da “Imitação”… Farei duas vezes por dia o exame particular, e confessar-me-ei todas as semanas”. Nos dias de sua eleição, a esposa mostrou desejos de que oferecesse um banquete aos diplomatas e ministros, e declarando ele que não gastaria com festas dessa ordem quando eram tantas as necessidades públicas, ela deu-lhe 500 piastras suas para esse fim; Moreno levou-as ao hospital, mandando que com a soma dessem melhor refeição aos pobres, e, de volta, informou-a do fato, dizendo: “Melhor do que desejava, apliquei teu dinheiro”. Garcia Moreno foi o único chefe de Estado que teve a coragem de protestar contra a ocupação de Roma pelo rei do Piemonte. Um alemão, professor da Escola Politécnica, ao voltar de visitá-lo em sua casa de campo, escreveu edificado que aí o vira com o maior recolhimento ajudar à Missa, diante de todo o povo do lugar. Foi ainda reeleito em 1873, mas a impiedade e o maçonismo, exasperados contra o seu governo cristão, trataram de matá-lo. Avisado várias vezes até do próprio dia que estava marcado para o assassinato, e aconselhado a se fazer seguir de uma escolta, não o quis, declarando que a última medida a tomar era a de ser pronto para ir à presença de Deus, feliz de morrer pela fé. No dia 6 de agosto de 1875, primeira sexta-feira do mês, assistiu à Missa e comungou na igreja de S. Domingos em Quito; a uma hora da tarde, se dirigiu para o palácio, entrando antes na catedral para adorar o SS. Sacramento exposto; à saída, os algozes o atacam de emboscada, vibrando sucessivos golpes, e ele cai, exclamando: “Deus não morre!” Indignado contra o crime que o surpreendera, o povo castigou logo os principais assassinos; o congresso nacional, decretando o luto público, proclamava Garcia Moreno o regenerador da pátria e mártir da civilização católica; e Pio IX, à notícia da grande perda, pranteava-a, dizendo à cristandade: “Cavalheiro de Cristo, ele caiu vítima da fé e da caridade com a pátria!”
O 1º espinho do Coração de Jesus são as
almas que, voluntariamente, permanecem
em estado de pecado mortal
A alma inocente é morada de Deus, e pela sagrada Comunhão torna-se a habitação particular de Jesus Cristo… aí Jesus Cristo está “em casa”, e encontra suas delícias; aí quer ficar… Ora cometer um pecado mortal, conservá-lo voluntariamente, é admitir o demônio dentro d’alma, constituí-lo Senhor no lugar de Jesus que sai então expulso, ignominiosamente…
Pobre Jesus! Fica ele então à porta da alma pecadora; bate a essa porta que lhe cerraram, pede para entrar e ouve um espantoso grito dos Judeus: “Não! não! não é a vós que eu quero, mas ao meu pecado!” — Oh! se vos julgais em estado de pecado mortal, ide, ide já confessar-vos.
“Uma oração pelos pecadores”.
EXEMPLO
A piedade, como diz a Sagrada Escritura, é útil a tudo. Isto se vê até no êxito admirável de tantas pequenas indústrias que o amor de Deus sugere aos seus servos para fazerem o bem e lhe ganharem as almas. Em 1891, na escola católica da Ilha de Tine, do arquipélago grego, foi colocado sob a imagem de Nosso Senhor um coração “cheio de espinhos”, tendo o direito de cada tarde, no mês de junho, tirar desse coração um espinho o aluno que houvesse procedido melhor; tal foi a porfia entre eles por uma conduta exemplar que tornou um espetáculo de edificação à escola, podendo dizer-se que o Sagrado Coração era aí, todo o dia, coberto das mais belas flores d’alma por aquela piedosa turba infantil.
O colégio congreganista de Negapatan, no Indostão, em 1869, instituía a prática seguinte: no começo do mês, cada aluno traçava numa folha de papel tantas linhas perpendiculares quantos os dias do mês e à margem de uma série de linhas horizontais, registrava as espécies de boas obras que se poderiam aplicar, escrevendo no fim de cada dia, na coluna e lugar correspondentes, o número dos atos de virtude que praticara. Ao fim de um mês, entregavam-se todas as listas ao Diretor do Apostolado da Oração, sem nenhuma indicação nominal, para que só de Deus fosse conhecido o esforço e mérito de cada um; e o Diretor, somando o resultado em relação a cada espécie de boas obras, na conferência mensal publicava o balanço do “Tesouro do Coração de Jesus”.
O Pe. Eraud, noticiando o fato, considera-o a causa principal dos progressos que na instrução e na vida cristã fazem os alunos dos estabelecimentos, alguns dos quais ainda recentemente se haviam distinguido em difíceis provas a que se submeteram na universidade de Madras.
CONSAGRAÇÃO AO CORAÇÃO DE JESUS
Sim, Jesus, eu vos prometo recitar, todos os dias, uma oração ao vosso Sagrado Coração; prometo-vos venerar as piedosas imagens que o representarem à minha devoção; prometo-vos espalhar o conhecimento desta devoção e propagá-la.
Sede a minha fortaleza, a minha alegria, a minha felicidade!
“Farei um ato de consagração ao Coração de Jesus”.
Ao Coração adorável de Jesus dou e consagro o meu corpo e a minha alma, a minha vida, os meus pensamentos, palavras, ações, dores e sofrimentos. Não me tornarei a servir de parte alguma do meu ser, que não seja para o amar, honrar e glorificar.
Tomo-vos, pois, ó divino Coração, por objeto do meu amor, protetor da minha vida, âncora da minha salvação, remédio das minhas inconstâncias, reparador dos meus defeitos, e seguro asilo na hora da morte.
Ó Coração cheio de bondade, sede a minha justificação para com Deus, e apartai de mim a sua justa cólera.
Ponho em vós toda a minha confiança, porquanto receio tudo de minha fraqueza, como tudo espero de vossa bondade. Aniquilai em mim tudo o que vos possa desagradar e resistir; imprimi-vos em meu coração, como um selo sagrado, para que jamais me possa esquecer de vós, e de vós ser separado. Isto vos peço por vossa infinita bondade: que o meu nome se inscreva em vós, que sois o livro da vida, e que façais de mim uma vítima consagrada inteiramente à vossa glória; que desde este momento seja eu abrasado e um dia inteiramente consumido pelas chamas do vosso amor; nisto consiste a minha dita, não tendo outra ambição senão a de morrer em vós e por vós.
Assim seja.
DIA 20
Garcia Moreno, o heroico presidente da República do Equador, desde menino revelou um talento não comum e adquiriu uma vontade enérgica e firme. Cedo a pobreza se assentou em seu lar, sendo preciso que sua própria mãe ministrasse ao órfão o ensino primário. Passou depois a estudar humanidades com um sábio Religioso da Ordem de Nossa Senhora das Mercês, que se afeiçoou vivamente ao discípulo, por sua constante aplicação e a facilidade e rapidez, com que tudo aprendia. Acabado este tirocínio, o jovem resolveu, ainda através de todas as privações, ir cursar a Universidade, e também nesta circunstância lhe valeu o Religioso, recomendando-o a duas irmãs suas residentes em Quito, que, embora pobres, o acolheram. Aí entregou-se com ardor aos estudos, que estendia até a noite alta e reatava, madrugando; mas em compensação dos labores conquistava o primeiro lugar nas aulas e se fazia querido e respeitado por mestres e condiscípulos. Aos vinte anos, os salões de Quito abriam-se ao pobre que tanto se distinguia, e ele se deixou seduzir um momento pelas festas do mundo, mas logo reagiu, e, cortando rente os cabelos como se fora um monge, orou e disse, levantando-se: “A vida é muito curta para se gastar sequer um dia em futilidades. Agora, serei mais fiel a meus livros”. Pensou então em abraçar o sacerdócio, e chegou a receber a tonsura e ordens menores, mas ou por sua sede insaciável de saber, que parece querer lançar-se a tudo, ou por desígnios da Providência que traçavam outros combates, diplomou-se em direito, dando-se primeiro à advocacia, que abandonou pelo desgosto de ter defendido uma causa que conheceu mais tarde ser injusta. Com um sábio estrangeiro, expondo por vezes a vida, fez cuidadosas explorações do grande vulcão de Quito, das quais apresentou substanciosas memórias que as revistas científicas publicaram. Assentou por fim a sua tenda no jornalismo e na carreira política, votando-se à obra da restauração dos princípios cristãos nas instituições públicas de seu país. Nessa campanha, vibrou a sua brilhante “Defesa dos jesuítas”, demonstrando que a perseguição a esses Padres em Nova Granada, no Equador, em todo o mundo, tinha por alvo a própria fé e o bem que eles faziam; concluía assim: “Chamar-me-ão fanático, porque empreguei meu tempo em traçar esta defesa, mas isto pouco me importa. Sou católico e me ufano de o ser, conquanto não me conte como um dos mais fervorosos. Cristão e patriota, não me posso calar sobre uma questão que afeta no mais alto grau a religião e a pátria”. Mas, se na verdade esqueceu por algum tempo certos deveres de cristão, sua consciência despertou, diligente e humilde, quando interrogada. Um dia, em Paris, onde Moreno se abrigara contra as graves ameaças dos que dominavam no Equador, defenderam em sua presença o ato de um infeliz que à hora da morte recusara os sacramentos; ele rebateu, fazendo ver que, se o esquecimento do dever religioso, no curso da vida, pode quiçá escusar-se pela irreflexão humana e multiplicidade de negócios que desafiam a atenção, à hora da morte, em que se decidem os interesses eternos, o desprezo da religião é uma coisa monstruosa; e dissertou calorosa e brilhantemente sobre a sublimidade da fé. O contendor, não podendo retorquir vantajosamente, achou esta saída: “Mas, vós mesmo vos descuidais de praticar a bela religião que pregais; desde quando não vos confessais?” Garcia Moreno curva a cabeça um instante, e, erguendo-a logo, exclamou: “Obrigado, amigo, respondestes com um argumento pessoal, que vos pode parecer hoje excelente, mas que amanhã nada valerá;” e no mesmo dia confessava-se, reatando na manhã seguinte a prática regular e fiel de seus deveres cristãos. Eleito reitor da Universidade pelo corpo docente, voltou a dar combate aos abusos do poder, ganhando tanto a confiança dos seus concidadãos, que lhe deram o voto sucessivamente para os mais altos cargos e na convenção nacional de 1861 o elegeram Presidente da República. Viu-se então restabelecida no país a ordem; o ensino cristão propagou-se, recebendo o concurso das instruções religiosas da Europa mais altos cargos e na convenção nacional de asilos e hospitais; e celebrou-se a concordata com a Santa Sé, dando ação livre à Igreja em seu ministério. Garcia tinha sobre sua mesa de trabalho, como a inspirá-lo e guardá-lo, uma imagem do Sagrado Coração. Completo o quadriênio do governo, deixava-o por entre ovações do povo que em 1869 o reconduzia à presidência. Neste segundo período presidencial obteve que o Congresso reformasse a Constituição, moldando-a pelos genuínos princípios cristãos, e por atos oficiais consagrou a República ao Sagrado Coração de Jesus. “É preciso, porém, dizia ele neste ato, que o povo se purifique no Sangue divino, para que a oferenda seja digna”. Na última página de um livro da “Imitação” de que usava, achou-se escrito por seu punho: “Todas as manhãs, na oração, pedirei particularmente a virtude da humildade; assistirei à Missa, recitarei o rosário, e lerei um capítulo da “Imitação”… Farei duas vezes por dia o exame particular, e confessar-me-ei todas as semanas”. Nos dias de sua eleição, a esposa mostrou desejos de que oferecesse um banquete aos diplomatas e ministros, e declarando ele que não gastaria com festas dessa ordem quando eram tantas as necessidades públicas, ela deu-lhe 500 piastras suas para esse fim; Moreno levou-as ao hospital, mandando que com a soma dessem melhor refeição aos pobres, e, de volta, informou-a do fato, dizendo: “Melhor do que desejava, apliquei teu dinheiro”. Garcia Moreno foi o único chefe de Estado que teve a coragem de protestar contra a ocupação de Roma pelo rei do Piemonte. Um alemão, professor da Escola Politécnica, ao voltar de visitá-lo em sua casa de campo, escreveu edificado que aí o vira com o maior recolhimento ajudar à Missa, diante de todo o povo do lugar. Foi ainda reeleito em 1873, mas a impiedade e o maçonismo, exasperados contra o seu governo cristão, trataram de matá-lo. Avisado várias vezes até do próprio dia que estava marcado para o assassinato, e aconselhado a se fazer seguir de uma escolta, não o quis, declarando que a última medida a tomar era a de ser pronto para ir à presença de Deus, feliz de morrer pela fé. No dia 6 de agosto de 1875, primeira sexta-feira do mês, assistiu à Missa e comungou na igreja de S. Domingos em Quito; a uma hora da tarde, se dirigiu para o palácio, entrando antes na catedral para adorar o SS. Sacramento exposto; à saída, os algozes o atacam de emboscada, vibrando sucessivos golpes, e ele cai, exclamando: “Deus não morre!” Indignado contra o crime que o surpreendera, o povo castigou logo os principais assassinos; o congresso nacional, decretando o luto público, proclamava Garcia Moreno o regenerador da pátria e mártir da civilização católica; e Pio IX, à notícia da grande perda, pranteava-a, dizendo à cristandade: “Cavalheiro de Cristo, ele caiu vítima da fé e da caridade com a pátria!”
Mês do Sagrado Coração de Jesus. Mons. Dr. José Basílio Pereira. Editora Mensageiro da Fé. Fortaleza. 1962. Fonte.
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